Review – Sword Art Online: Lute, mate, chore, ame, sobreviva!
Anime mais popular de 2012, reviews sobre ele na internet não faltam, mas já leu um review detalhado pela perspectiva de alguém que leu a obra original ?
Sinopse
Review resumido
Apesar da sinopse, SAO mais se assemelha a um romance com batalhas ambientado em mundo online do que a um battle shounen em um MMORPG. O primeiro arco trata de como o protagonista conheceu sua esposa/namorada e o segundo nada mais é que uma saga para salva-lá. Como a Asuna mesmo comenta no anime se referindo ao Kirito, “o propósito de colocar o Nervegear naquele dia foi encontra-lo”, ou seja, foi o que ela ganhou de bom e fez valer a pena os dois anos que ela passou presa lá.
Os “desenvolvimentos de personagem” estão presentes mas não são o forte ou propósito primário da obra, que seria melhor descrita como uma historia simples de duas pessoas que se conheceram em um evento trágico e criaram uma ligação profunda uma com a outra. Os mundos online fazem parte da temática e estão sempre lá como pano de fundo, mas o aprofundamento dos mesmos nunca é o foco. Fazendo da obra não um anime de MMORPG, mas sim uma historia que faz uso de elementos de MMORPG e os adapta a contento.
Ao longo de seu desenvolvimento a história apresenta tanto clichês como boas idéias; as vezes elas são bem implementadas e outras vezes não. Eu o considero um bom anime, desde que não se crie uma expectativa absurda antes de assisti-lo ou espere algo profundo (hypes nunca são correspondidos). Ele apresenta personagens facilmente gostáveis, uma historia simples, direta e empolgante, alguns plot twists, bons momentos românticos e o mais importante, diverte e entretêm. Recomendo também a leitura do livro original (tem traduzido em português na internet), já que, indiscutivelmente, a obra é melhor aproveitada por quem tem conhecimento dos diversos detalhes que ficaram de fora da adaptação.
A análise apartir daqui é mais voltada para quem já assistiu ao anime. Se o review resumido te deixou interessado recomendo assistir ao anime antes de ler o resto. Evitei os spoilers mais pesados (plot twists e afins) mas ainda assim tem muitos.
Parte 1 – Aincrad
O capacete de realidade virtual é bem crível (como já expliquei nesse post) e foi uma das maiores sacadas do autor. É ele o elemento responsável por tirar a obra do gênero fantasia e a transformar em um sci-fi futurista. Não é um mundo imaginário, derivado de magia ou acontecimentos sobrenaturais, é algo real, factível, que podia estar acontecendo com você ou alguém que você conhece daqui a alguns anos. Apesar de parecer um detalhe bobo, isso torna as coisas muito mais interessantes, a ponto de te levar a pensar “o que eu faria nessa situação?” , “me esconderia na cidade inicial ?”, “lutária para sair do jogo?”, “em qual grau o medo de morrer me limitaria ou mudaria minha personalidade?”.
Que senhor cenário |
Admito que como leitor da Light Novel fiquei em duvida se colocar varias side stories no meio do anime não daria uma sensação de filler; e ao mesmo tempo, achava que o primeiro arco ficaria pequeno demais sem elas, já que a história principal consiste de apenas um único volume da light novel. A escolha foi arriscada mas acabou tendo mais prós do que contras na minha opinião.
Alguns episódios funcionam bem nessa parte, já outros são por demais acelerados, dando a impressão de que um texto suficiente para dois episódios foi comprimido em um só. Isso é notado principalmente no episódio 3, que apesar de eficaz e emocionante, corta algumas explicações e não dá tempo suficiente para o público se identificar com os personagens. Os constantes time skips também incomodam – faltou uma mão mais pesada da direção sobre os roteiristas (e competência dos mesmos) para fazer uma transição mais suave entre as passagens de tempo, principalmente quando o protagonista assume uma resolução no final de um episódio e no início do episódio seguinte já tem outra completamente diferente (final do episódio 2 e início do 3). É compreensivo que passado muito tempo ele tenha mudado suas convicções mas isso tem que ser melhor explicado a quem está assistindo e não pulado como se fosse algo obvio de ser entendido. Em geral, os destaques dessa parte ficam para o episódio 3 e 7, que apresentam uma reflexão e mudança de rumos por parte do protagonista.
Dito isso, penso que mesmo com os problemas gerados a inclusão dessas side stories foi uma boa ideia, poderia ter sido melhor executada, mas ainda assim foi uma boa ideia. As side stories servem tanto para apresentar as partes mais marcantes dos dois anos que o protagonista passou naquele mundo como para mostrar todas as possibilidades e regras presentes no mesmo. Afinal, mesmo que esse anime seja inspirado em MMORPGs, ele se trata de VRMMORPG (RPG em realidade virtual); que apesar de ter similaridades ao RPG normal, precisou de novas mecânicas e regras – criadas livremente pelo autor – para se adaptar ao novo “mouse” (seu cérebro).
Nessa parte, uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a separação entre guilds. Das duas principais guilds que sobraram (as outras parecem ter se dissolvido conforme seus players foram morrendo), uma – a “Knights of Blood” – presou pela qualidade e acabou se destacando das demais por ter os players mais conceituados e de level mais alto do jogo. A outra, “The Army” – uma guild de recrutamento em massa que tenta ganhar força pelo número de membros – segue a outra vertente, “se você não pode ter qualidade compense com quantidade”. Quem já jogou MMORPG sabe como isso é comum e como as guilds com poucos membros mas de alta qualidade – os jogadores hardcore – acabam muito mais valorizadas comparado as guilds que só apresentam um grande número de membros. Na sociedade atual eles seriam a representação de uma unidade especial altamente treinada de soldados.
Voltando ao plot, tirando Kirito e Asuna reforçando que tem química como casal, a parte mais interessante ficou por conta da apresentação do primeiro plot twist dá série; a habilidade que nem mesmo o protagonista sabe porque ganhou inicialmente. Como leitor da Light Novel fiquei bem feliz com a luta, que apesar de simples, ficou bem empolgante (metade do crédito por isso é da trilha sonora).
Tomem atenção a cena, principalmente a Asuna, mesmo não sendo explicito tá meio na cara, né? |
Enquanto essa primeira parte se saiu bem a parte seguinte foi uma mistura de sentimentos. A animação e coreográfica do duelo contra o Heathcliff ficaram boas, assim como a execução do flashback aonde Kirito conta o que aconteceu quando ele tentou entrar em uma guild no passado. A continuação a isso já não foi tão feliz, um vilão que já não era muito bom no original acabou ficando ainda mais cartunesco no anime, muito por culpa da direção que parece gostar de aumentar as expressões e emoções dos vilões mais que o necessário, a ponto de torna-las exageradas (isso se nota de forma ainda mais clara no vilão principal do segundo arco). A execução do romance a partir dai também toma uma progressão meio rápida, mas que não é tão estranha considerando que os personagens já se conhecem a dois anos.
O mais estranho mesmo foi a censura da relação sexual (imagem acima), um tanto quanto exagerada, a ponto de alguns até contestarem se aconteceu ou não (no livro, apesar de não narrar a cena em si, fica muito mais explicito o que aconteceu). Felizmente essa falta de clareza sobre o que realmente aconteceu é compensada pelo desenvolvimento que vem a seguir, creio que nunca antes visto em um shounen de ação (ao menos por mim), o “mini-arco da lua de mel”.
Ponto para equipe de produção, o quadro ficou ótimo e foi uma ideia original deles. |
Namoro > Casamento > Filha, pacote completo. |
Romance de verdade! E um viva a um dos raríssimos protagonistas de “shounen” não virjões da animação japonesa. |
A introdução posterior a personagem Yui foi bem vinda. Ela tanto reforça a relação do casal , agora com uma pseudo-filha, como serve para movimentar e dar um pouco de suspense a trama (gosto muito de romance, mas um episódio inteiro de romance e slice of life seria um tanto quanto massante). A resolução desse mini-arco é satisfatório, apesar de deixar um ar de “isso foi um filler ?” que só vai ser dissipado com a volta da personagem no segundo arco – aonde ela passa a ter uma real utilidade ao enredo.
Esse mini-arco também serviu para complementar algo que parecia estar faltando desde o início; mostrar um pouco do dia a dia dos players que não estão lutando na linha de frente. A resposta do que eles estavam fazendo era meio obvia (nada…se divertindo e passando o tempo como se ali fosse um mundo normal), mas ainda assim se mostra importante como complemento a obra. Destaque para lindíssima declaração da Asuna no final dessa parte.
O climax do primeiro arco varia de ótimos a péssimos momentos. A luta contra o Skull Reaper passa o ar de tensão apropriado e o plot twist que vem a seguir é ótimo; causando surpresa a maioria das pessoas que ainda não tinham pego a dica no episódio 10. O problema fica na resolução um tanto quanto anti-climática do conflito entre Kirito e Kayaba – claramente inspirada no final do filme Matrix – que além de mal explicada soa forçada (mesmo que tivesse sido explicada ainda soaria muito conveniente aquilo acontecer exatamente quando o personagem principal mais precisava; deveriam ter mostrado o fenômeno acontecendo em menor grau com outros personagens em episódios anteriores para tornar a coisa toda mais aceitável).
Contrastando com o desfecho mal elaborado da luta, o que veio a seguir foi um dos momentos mais bonitos de toda série; com uma linda cena romântica do casal principal e um desfecho dramático e inesperado. [Spoiler Pesado] Não sei o que achei mais bonito no final, as declarações dos dois ou o encerramento com o protagonista todo debilitado, se arrastando pelo hospital tentando encontrar sua amada ao som do ending do anime. Esse momento também reforça o desenvolvimento do personagem, que no inicio da história só se importava consigo mesmo e agora preza pela vida da Asuna acima de tudo. Kayaba foi muito troll por deixar eles pensarem que iriam morrer quando já tinha decidido deixá-los vivos.[Fim do Spoiler]
Parte 2 – Alfheim
O tom mais melancólico do inicio foi apropriado dado situação em que o protagonista e seu par romântico se encontram a vários meses (visitar sua namorada em coma diariamente sem saber se ela vai acordar um dia não deve ser muito animador). O contraste foi bem pontuado no momento em que o Kirito descobre a possibilidade da Asuna estar presa em outro mundo online. Apartir desse momento ele parece mais alegre e relaxado – principalmente se comparado ao primeiro arco – bem como um player se divertindo em um jogo aonde a morte não é realmente um problema.
Se o primeiro arco sofreu por algumas faltas de explicação, no segundo o problema fica ainda pior, a ponto de ninguém que não tenha lido a Light Novel entender o porque do protagonista ser tão forte e rápido nesse novo mundo online. Dado a falta de informação, a maioria deduziu que tinha a ver com os atributos que ele recebeu como um bug do primeiro jogo (esse segundo mundo foi construído em cima de uma cópia de Aincrad, então os dados dos players do primeiro jogo estavam todos no banco de dados). A explicação real não é bem essa; sendo mais relacionada ao nível de sincronização do cérebro do individuo com o capacete (NerveGear). Quanto mais tempo você usa melhor e mais rápido o aparelho reage a seus comandos; portanto, quem passou 2 anos plugado com o aparelho na cabeça tem um nível muito superior de sincronia – e velocidade de reação no jogo – comparado ao pessoal que joga Alfheim (lançado a menos de 1 ano). Isso é explicado pela Suguha (irmã do Kirito) na Light Novel e é algo importante e persistente aos outros livros da série; sendo assim, não faço ideia do porque de terem deixado essa explicação de lado na adaptação. O bug dos atributos só serviu para liberar o personagem a usar armaduras mais avançadas e deixar a skill de ilusão dele acima dos padrões normais.
Existem outros detalhes importantes que foram deixados de lado mas não vou me prolongar nisso. Futuramente devo fazer um post dedicado a essa comparação de Light Novel X Anime, ai explico melhor.
O sistema de magia de ALO com as palavras se completando em volta do personagem ficou mais legal do que imaginei quando li o livro. |
O destaque do final fica mesmo para o reencontro de Kirito e Asuna no hospital, de novo um dos melhores e mais emocionantes momentos do anime – que apesar de seus deslizes na direção parece sempre acertar na parte romântica. O epílogo após isso foi muito bem vindo e deixou a obra com uma sensação única de conclusão. Todos os personagens mostrados ao longo da obra foram revisitados no mundo real, as devidas explicações que estavam faltando são dadas – inclusive o que aconteceu com o criador de SAO e como ele apareceu nesse último arco – e ao final os players que não ficaram traumatizados pelos eventos do primeiro arco (comparado a Light Novel o anime não mostrou o lado dos players traumatizados com o evento) voltam para fazer o que não conseguiram no primeiro arco, zerar Aincrad.
Eu, como a maioria, gostei bem mais do primeiro arco, mesmo ele sendo meio fragmentado, tendo vários episódios corridos e um mundo com menos possibilidades (o segundo tinha magia e um mundo divido entre varias facções), ele tinha um clima mais épico e perigoso, além de ter um vilão muito mais respeitável (mesmo que pouco presente).
Personagens
Kirito é o famoso badass, um personagem superdotado de alguma forma – nos reflexos no caso dele – que faz o oposto ao papel do fracassado que prospera com muito suor e lágrimas. Ainda assim, ele tem sua cota pessoal de esforço no primeiro arco; sendo frequentemente mostrado lutando sozinho com monstros de dungeons ou em campo aberto. Vários players tentaram jogar solo pela quantidade maior de XP que isso proporcionava (não sei se deu pra notar mas Kirito era o player de level mais alto do jogo no final) mas em dois anos ele foi o único que sobreviveu ao método (quer seja por sorte ou por ter reflexos melhores que os outros, já que a habilidade extra foi dado a ele por esse motivo).
Acho que ele não gosta de multidões…. |
Mesmo com ressalvas eu gosto bastante dele como protagonista, ele se mostra muito mais humano e realista em suas ações do que a maioria dos personagens super puristas/moralistas encontrados nas obras shounen (tá, são obras voltadas a crianças e adolescentes e querem ensinar perdão e bondade, mas tudo tem limite!). Se essa quebra de padrão foi feita propositalmente eu não sei. Boa parte das ações dele são contrárias aos padrões atuais: ele “escolhe” uma heroína logo no primeiro arco/livro (harém, só que não!), ele toma a iniciativa de beijar a garota e ainda faz a proposta de casamento (em obras convencionais quando rola o primeiro beijo a obra chegou ao fim), ele tortura e por pouco não mata o vilão do segundo arco (compreensível e realista dado a tudo que ele passou) e não faz discursos heroicos – e ingênuos – para o antagonista ou tenta o convencer a mudar de lado. Ele está longe de ser um personagem profundo (pelo contrário, é bem plano) mas não faz feio dentro da proposta da série.
Asuna não tem fortes desenvolvimentos mas consegue mandar bem seu recado. Ela não é a mulher super durona e tsundere que aparentava no inicio da série, já que como ela mesmo conta, aquilo era só uma parede que ela criou para se proteger. Mas em nenhum momento se mostra uma personagem fraca. Demonstrações não faltam com ela tanto salvando o protagonista no primeiro arco como se virando muito bem mesmo quando colocada no papel de donzela em perigo no segundo – do qual ela quase escapa por conta própria…..se não fosse um fanservice com tentáculos muito do infeliz…….
Da Suguha eu já comentei bastante na parte 2 do review, ela é uma boa personagem, o papel em que ela é colocada é que a deixa meio limitada. E pra quem por alguma razão achou que a relação dela com o irmão não foi finalizada nesse arco, eu confirmo que foi. Aliás, nos próximos arcos ela mal aparece.
Os outros personagens são bem simpáticos de modo geral. Klein e Egil são do tipo que você gosta de graça nos primeiros minutos de cena. Uma pena que o autor de a eles tão pouco tempo da trama.
Aspectos Técnicos
A direção se deu muito bem com o clima slice of life/romance de SAO, que é onde ela mais acerta. As lutas também são bem satisfatórias e coreografadas (comparando animes para TV de modo geral). O maiores problemas ficam por parte dos climax de cada arco, aonde a direção se perde um pouco e os roteiristas escorregam deixando detalhes importantes do material original de lado, e, por consequência, gerando buracos no roteiro e coisas mal explicadas.
É meio estranho, mas ao rever a obra notei que tinham momentos que achava genial como eles inventavam detalhes interessantes que não existiam no original (o quadro com fotos) ou se importavam em focar em detalhes simples (eles chegam a focar de leve no dedo da Asuna para mostrar que ela está usando uma aliança após os personagens se casarem), em outros, não acreditava no quão incompletas e mal feitas determinadas partes do roteiro ficavam. A impressão que dá é que tinha uma parte dos responsáveis pelo script que era muito boa e outra muito ruim, e eles ficavam brincando de revesar quem era responsável por que parte do episódio.
A animação foi boa considerando o que se vê normalmente de animes para TV, principalmente nas lutas, mas os destaques mesmo ficam por conta dos lindos cenários/backgrounds, cada um mais bonito que o outro.
E por último, e não menos importante, o soundtrack/OST/BGM pela Yuki Kajiura ficou ótimo, sempre dando o clima apropriado de tensão ou drama em todo decorrer da obra (clique aqui para ouvir).
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