Impressões semanais: Hamatora 3/ Sekai Seifuku 3


-Só pra não dizer que não teve comédia, esses caras tiveram UMA cena. Me pergunto quando vai ser a vez deles.

Sekai Seifuku 3


Parafraseando o finado amigo November 11th (sim, ele morre) de Darker than Black,

“O fumo passivo mata, sabe. É muito pior do que a fumaça que você inala diretamente. Veja o dietileno, um desses agentes cancerígenos desagradáveis sobre o qual ​​seu médico poderá ter avisado em sua última visita. A fumaça inalada possui entre 5,3 e 43 nanogramas de dietileno, enquanto que, a fumaça liberada possui entre 680 e 823 nanogramas.Então temos a quinolina, outra substância, o a fumaça liberada tem 18.000 nanogramas; 11 vezes mais do que a quantidade que você está sugando em primeira mão . Você pode fazer a escolha de denegrir seus pulmões, mas não tente forçar isso para mim.”

Às vezes eu também tenho vontade de fazer o que a Kate fez

-É triste, mas até esse blogueiro, apesar de bem complacente com a maioria das pessoas, tem seus preconceitos. Definitivamente não consigo ficar próximo de gente fumando ao ponto de a má impressão que tiro deles ser tão grande que evito qualquer tipo de socialização. Dizem que o álcool é tão ou mais tóxico que o tabaco, porém em termos patológicos a toxicidade não afeta os não-alcoólatras, o que faz com que seja mais “socialmente aceitável” que o primeiro. Em um nível pessoal, consigo lidar com bêbados.



-Mas deixemos essa discussão datada e controversa de “bebida x cigarro” de lado e vamos para o que realmente importa. Alguém havia dito que Kate estava “impondo suas idéias para os outros”, mas não acredito que seja o caso. Ela só serviu de âncora para que a maior parte da população do distrito oeste que reprimia sua indignação com os fumantes há muito tempo criasse coragem para colocarem o que sentem para fora. Se houve imposição, todo o resto é tão culpado quanto ela própria por se deixarem influenciar (o filme “Die Welle” mostra muito bem como pode ser simples manipular as massas a seu favor).



-Claro que como todo movimento que se diz legítimo, correto, que prega a paz, a igualdade ou coisas do tipo, sempre haverão exageros, controvérsias e sabe-se lá o que mais. Kate pegou pesado, não só obrigando os fumantes a ficarem fora das vistas dos não fumantes, como também os perseguindo até seus esconderijos, pois naquele ponto o próprio ato de fumar era considerado incorreto e imoral. Foi literalmente uma sátira moderna no estilo “caça às bruxas”.

Diretor se autoparodia no anime

-Essa imagem meio que confirma que o episódio não era uma condenação verdadeira ao ato de fumar, mas sim um exemplo do que a dominação mundial clássica pode representar e de como a idéia é opressora por si só (inclusive, no primeiro episódio, eu achava que a Kate teria algum plano genial e inusitado para revolucionar o conceito nesse sentido). O que a Kate faz o equivalente a derrubar um sistema pré-estabelecido com o apoio de lideranças populares insatisfeitas com o regime atual, agarrando a oportunidade, assim como Moisés encontrara os judeus escravizados no Egito e Ciro tomara a insatisfação do povo persa com o regime dos medas a seu favor. Kate possui a virtude necessária para conseguir aproveitar essas oportunidades. ¹

-E quando se fala de dominação mundial, se fala em governo, e conseqüentemente, em sistemas de governo. A rápida ascensão de Kate ao poder remonta ao exemplo mais famoso da história moderna, Adolf Hitler (sua versão moe está disponível na visual novel Daiteikoku). Um povo subordinado à uma situação vexante de não poder se manifestar (alemães, distrito oeste) espera por um líder (Hitler, Kate) que os incite a pegar em armas e lutarem contra uma minoria “opressora” (fumantes, judeus), e assim se instala o caos que antecede uma nova ordem.



-Porém, contudo, entretanto, todavia, não obstante, existem mais formas de interpretação do que apenas essa. Pessoas tendo que abandonar velhos hábitos e seguir regras determinadas em prol da comunidade lembra o que? Comunismo. Uma maioria a favor de uma opinião suplantando a opinião da minoria remanescente com base em números maiores lembra o que? Democracia. E assim vai.

-A propósito, eu tinha dito que Sekai Seifuku parecia ser centrado em personagens, correto? Bem, mais uma vez o anime girou 360º anulando totalmente minha opinião. Sim, teve a história do carinha lá cujo nome eu sempre esqueço que estava metido com a Yakuza ou algo assim, mas não conseguiu cativar nem a mim nem a ninguém que eu conheça. Flashbacks à parte, foi um ótimo episódio o dessa semana.
Nota: 82/100

Hamatora 3


A descontração abrandou bastante aqui, oficializando de vez a discussão “minimums vs pessoas normais”. Não fiquei tão deslumbrado quanto no episódio passado, mas a diferença também não chega a ser significativa.

-Então, o roteiro se inicia nos apresentando uma organização conhecida como “Associação do bem estar e da igualdade e sei lá o que da juventude”. Eles não o Greenpeace, é claro, logo vão tentar acabar com a academia Facultas por meio de manipulação de massas, o que pode desencadear uma epidemia de preconceito contra os minimum holders, se é que já não existe. Aliás, eles já podem mostrar como essa inveja e esse ódio atuam de uma forma mais direta, coisa que tem feito sutilmente até agora. 
-Como eu disse lá em cima, todo movimento que prega igualdade de direitos e circunstâncias sempre terá um podre por trás, como quebra da ideologia original em vários fragmentos ou maçãs podres assinando contratos secretos com gênios do mal que conduzem experimentos perigosos em estudantes colegiais. E outro problema é a propaganda em cima de conceitos. O que é a igualdade afinal? Aliás, de onde eles tiraram essa ilusão de que um mundo sem pessoas com poderes especiais é um mundo igualitário? Não são as empresas que escolhem os minimums por eles serem mais aptos para o trabalho? Mesmo se os minimums fossem extintos, isso não significaria de forma alguma que a capacidade de todas as pessoas do planeta seria igual. É como ver um alemão dizendo que os turcos tiram seus empregos e deveriam se retirar do país meramente por eles serem turcos, ao passo que os outros alemães tem todo o direito de roubar seu emprego. Não faz muito sentido. No fundo eles querem montar uma lógica que na prática é infundada. 


-E eles sabem disso. É exatamente por esse motivo que precisam de um escândalo. A academia Facultas não está lá para fazer com que os minimums sejam melhores que as pessoas normais, seria ingênuo pensar que essa é a única utilidade da mesma. Minimums são perigosos e o melhor é fazer é controlá-los e trazê-los para o lado do sistema de forma que não se rebelem contra o mesmo. Não é coincidência que em X-men os únicos mutantes “civilizados” frequentem o Instituto Xavier, uma escola específica para tratar dos mesmos. Eles tem de pensar que são diferentes das pessoas, MAS que também há um lugar no mundo para eles.


-E todo esse discurso gira em torno de um ciclo que volta para o conceito original que Nice elucidou no episódio passado, a escolha de fortes e fracos, de bonzinhos e malvados, e como um é inevitavelmente vítima do outro. O filho da moça lá queria mostrar que era um cara legal e que tinha superado o número 1 da academia com seus poderes minimum, o que adveio da mãe tê-lo criado a leite com pera. Nice, mesmo sabendo que a decisão foi dele, não pôde deixar de sentir um pouco de empatia, que acabou culminando naquela cena bastante expressiva em que ele devolve o apito para o monstro e diz “Você é legal, Takahiro”. Adoro esse jeito como Hamatora termina com cenas de redenção por parte do personagem da semana.

-Já a visão do Dr. Moral é mais prática e realista do que a da “associação da juventude e vocês já sabem o resto”. Se derrubar a academia Facultas significaria o aumento do preconceito contra os minimum, retirando felicidade de um lado para que o outro se sinta um pouco mais aliviado, o método do doutor é garantir que todos tenham as mesmas oportunidades. No século XX o silicone foi sintetizado e após vários testes, aprimorado para que as mulheres sem seios pudesse conseguir seus confortáveis implantes sem risco de vazamentos e inchaços ². Hoje em dia se você quiser outro nariz, pode conseguir. Se quiser mudar de sexo, pode conseguir. Se quiser ter três peitos, pode conseguir também. Retirar direitos nunca é uma tática prudente, tornar possível que um equilíbrio seja alcançado ao menos em teoria através de avanços da ciência é mais produtivo. Hipoteticamente, eu não deixaria um cara daqueles à solta, já que ele é um fucking livre pensador. Sendo um, sei como eles podem ser perigosos se não monitorados devidamente.


-Pra finalizar, a interpretação das chamas. Verde simboliza o equilíbrio, a parte em que o Dr. Moral discursa sobre um mundo igualitário em que minimums possam ser produzidos. Roxo é a transformação de um “ser humano fraco” para um “ser humano forte”. O vermelho reproduz a hostilidade do inspetor ao ser provocado e morder a isca do doutor.

Nota: 81/100
¹ O Príncipe, Nicolau Maquiavel, capítulo VI – Os novos principados, conquistados pelas armas e pelas virtudes do príncipe
² Breasts: a natural and unnatural history, Florence Williams