Review – Seirei no Moribito: O Guardião do Espírito Sagrado

– Um dos animes de Aventura/Fantasia mais consistentes em termos de roteiro que eu já assisti.


Sinopse


A história gira em torno da personagem Balsa, uma guerreira errante que se dedica a salvar vidas através de seu serviço de guarda-costas em compensação pelas vidas que tirou no passado. Em sua jornada ela é contratada como guarda-costas de um príncipe jurado de morte pelo próprio pai, o Imperador, que acredita que seu filho foi possuído por um demônio antigo.

Review

Peguei esse anime para assistir através de uma recomendação que o descrevia como a adaptação perfeita de uma Light Novel para anime, que não só adapta com maestria o conteúdo original como também faz as devidas modificações e acréscimos para melhorá-lo. Vale notar que esse anime de 26 episódios foi baseado apenas no volume 1 (de 11) da light novel original, que foi encorpada com side stories de outros volumes e outras partes originais criadas pelo diretor (que também era o responsável pelo roteiro). Peguei para assistir de mente aberta e eis o que achei:

A obra possui muito mais personagens mas os principais são esses
Inicialmente não pude deixar de caracterizar Balsa uma protagonista estranha, principalmente se comparado aos estereótipos atuais (2014). Ela é uma mulher madura de 30 anos, algo raro de ver em animes, mesmo seinens – que costumam ter personagens mais jovens no papel principal.  No primeiro episódio fiquei meio incrédulo com suas atitudes/decisões, seu auto-sacrifício na missão que aceitou não tinha sentido lógico pra mim (o custo x benefício não batia), e logo classifiquei a atitude dela como incoerente. No entanto, qual não foi minha surpresa quando o motivo dela ter aceito a missão do primeiro episódio é explicada mais a frente. Não é uma explicação simples e direta, mas pouco a pouco você começa a entender os motivos e convicções que a levaram a aceitar aquele fardo (principalmente quando ela conta sobre seu passado perto do final do anime).

O príncipe (Chagum) é um personagem no qual vale a pena se prestar atenção em termos de desenvolvimento, mesmo com seu amadurecimento mais pesado e notório só vindo perto do final da série ele muda um pouco e aprende a cada episódio.


(A abertura passa bem o felling geral do anime e a música é linda)
Uma coisa que achei estranha foi que apesar desse ser um anime de aventura ele não tem muita ação (dá pra contar nos dedos o número de lutas), ao invés disso ele foca mais na expansão do universo da obra e na busca dos personagens pela explicação do porque o espírito “maligno” possuiu o príncipe – e como o retirar dele. O modo como isso envolve a busca pela verdade sobre lendas antigas – a muito esquecidas ou alteradas de forma conveniente pelo tempo ou necessidade do império – é bem intrigante e foi uma das coisas que mais me manteve interessado na obra (quase nada do que se sabe a princípio é bem o que parece).

A trama não chega a ser complexa mas a constante mudança de foco do roteiro mostrando o ponto de vista de personagens diferentes faz com que você mude de opinião sobre eles com certa frequência e reflita sobre a situação em que tudo se encontra. Não diria que tem ninguém “mau” ou “bom” nem muito menos personalidades cartunescas por exemplo, existem apenas conflitos de interesses com cada um vendo o seu lado da balança e agindo de acordo com sua cultura/ensinamentos. 

Vale notar que anime possui varias sutilezas então é necessário atenção aos detalhes. Quem esquecer da história do ferreiro contada em determinado episódio não vai entender o resultado do duelo da Balsa com um arqui-inimigo do passado, já que o roteiro apesar de dar dicas não faz questão de entregar a resposta mastigada (as peças estão todas lá, cabe a você junta-las).

Em termos script essa obra é quase um exemplo de como fazer certo. Todos os personagens centrais são desenvolvidos gradualmente, sem as clássicas quebras da trama em “sagas” separadas para desenvolver cada um deles. Ninguém é deixado de fora, desde a protagonista ao simples guarda de elite do imperador, todos tem seus momentos de mostrarem que são mais do que um estereótipo cumprindo tabela. 

De modo geral todos os acontecimentos e ações dos personagens fazem sentido, sendo muito difícil achar algo para reclamar/contestar, mas nem nem tudo é perfeito, o custo de desenvolver tantos personagens é claramente notado no decorrer do anime e principalmente no meio – aonde os episódios começam a focar em vários personagens diferentes por vez. Nesse momento a trama fica mais lenta – apenar de não chegar a ficar desinteressante. É inegável que todo episódio tem sua importância a história (nada do que vi pode ser considerado filler) mas o roteiro realmente não está com pressa e tudo vai acontecendo com calma. O lado bom é que nunca dá pra reclamar que a trama está acelerada demais, o ruim é que ela fica meio parada de vez em quando e pelo menos pra mim isso mata um pouco do fator “entretenimento”.

Existe também um problema com o climax aonde eles acham uma solução “mágica” para o problema do príncipe sem explica-la devidamente, a fazendo soar conveniente demais. Como eles tiraram o ovo do garoto ? ninguém conseguia tocar o ovo antes então porque naquele momento eles conseguiram ? pra piorar o Tanda usa a mão da Balsa para realizar o feito e ela nem mesmo é uma xamã como ele. Aquilo não foi explicado em momento algum e acaba ficando por isso mesmo, o que pra mim foi uma forma bem covarde do roteiro de resolver a situação.


O final é bem fechado e concluiu lindamente tudo que foi desenvolvido até ali. Até fica aquele “gostinho de quero mais”, mas seria um quero mais de outra historia nesse universo da obra, porque aquela história em específico que você acompanhou desde o primeiro episódio terminou ali.

Aspectos Técnicos


A animação é muito boa e se torna mais ou menos fluida conforme a necessidade. A impressão que se tem é que a produção desse anime deu exatamente a montante necessário para realização do projeto do jeito e na qualidade que o diretor queria.

A direção e roteiro do Kenji Kamiyama são praticamente impecáveis, se não fosse o detalhe no final que mencionei anteriormente. O único ponto que considerei mais fraco foi a trilha sonora, principalmente nas lutas aonde achei ela meio insonsa (exemplo no vídeo acima), tornando assim os poucos embates sem muita emoção e os resumindo a lutas frias e bem coreografadas.

Conclusão

Gostei bastante do anime e ele será bem lembrado, principalmente pela solides da trama. Recomendo a qualquer pessoa, mas como a trama não é das mais rápidas quem gosta de obras “com o pé no acelerador” pode ter um pouco de dificuldade, apesar de cada episódio deixar com um gostinho de “quero mais” que acaba te puxando para o próximo, mesmo que não imediatamente. Aos críticos mais hardcore é uma obra quase obrigatória já que apresenta uma trama bem consistente e cadenciada, difícil de achar em animes de aventura hoje em dia.

Quanto a minha conclusão dessa ser uma excelente adaptação acho difícil dizer pois não achei a obra original para ler. Mas levando em conta que esse anime de 26 episódios foi feito baseado em apenas uma light novel (de 11), é sim impressionante o que eles conseguiram realizar, ou a obra original é um primor (duvido) ou a mão do diretor no roteiro fez muito bem a obra.

Notas

Animação: 10/10
Direção/Roteiro: 9.5/10
Soundtrack: 7/10
Entretenimento: 7/10

Nota Final: 8.5/10