Impressões semanais: Hamatora 11 e 12

-Mais uma série terminada!

Episódio 11

-Após vários episódios que terminaram com o Nice usando o poder e dando uma cabeçada/soco/chute no vilão da semana, é refrescante ver o herói e o vilão principais sentando em um bar e confabulando casualmente a respeito dos acontecimentos recentes. Me perdoem se eu estiver sendo repetitivo nesse post, afinal a temática tem se mantido constante nessa reta final.
-A conversa de Moral com Nice não adicionou muita coisa ao discurso típico dos dois, mas ressaltou as divergências em suas linhas de pensamento. Nice reconhece a injustiça do mundo, mas acredita no livre arbítrio dos “fracos” se reconhecerem como são e aceitarem a si mesmos, ao passo que Moral quer impor um status de igualdade social forçadamente, sob a premissa de que todo fraco deseja poder. Ideologicamente, no fundo é o mesmo que a associação de proteção à juventude está fazendo: tentando difundir seus ideais baseados em um julgamento em uma escala de capacidades subjetiva e unidimensional. Ele realmente acredita que os “fracos” são infelizes como estão, logo está tudo bem sentir pena dos mesmos e ajudá-los, não tirando direitos dos fortes, mas colocando-os em par de igualdade com os mesmos. Colocando em uma balança, é Nice que acaba equilibrando mais os dois lados, ou seja, ninguém é bonzinho e ninguém é malvado, cada um deve atuar dentro de suas fronteiras para resolver seus problemas e lidar com as consequências das próprias escolhas. Pessoalmente, eu prefiro a visão do Nice, por ser uma visão que coloca o sujeito (a própria pessoa, o eu) como objeto de estudo, o que se traduz em um linguajar mais enxuto como admitir que o problema está em si próprio e não nos outros. ¹
-Nesse ínterim, os focos de tensão (na verdade são grupos de caras com jaquetas escuras destruindo patrimônio público, poderia ser muito melhor representado se o estúdio tivesse mais verba, com conflitos entre polícia e manifestantes e porradaria generalizada) estão se espalhando pela cidade. O Murasaki ficou puto e começou a socar alguns caras, mesmo sabendo que não iria fazer diferença alguma, e o que mais me chamou a atenção foi a frase que ele soltou: “Vocês não podem seguir com suas vidas a não ser que alguém pense bem de vocês”? Esse é o tipo de questão que eu considero relevante. Por que nos importamos tanto com o que os outros pensam ou deixam de pensar de nós? Nessa leva do século XXI, há tantas minorias por aí lutando por direitos sem necessidade de violência, e saber disso acaba colocando os minimum holders em uma situação complicada, desvalorizando seu movimento. Essa questão de aceitação social pega muito da teoria do “consciente coletivo”¹, que seria o que a sociedade considera aceitável, o que ela espera de você e a coletividade do senso comum. Muitas dessas preocupações se resolveriam num instante se o ser humano aprendesse a dizer a palavra “não” quando necessário. No fundo, não importa o que as pessoas querem que você seja, o que elas querem que você faça, a escolha é sua. A verdadeira força reside na autossuficiência, na autoconfiança, e isso faz parte do processo de amadurecimento do ser humano, ter pé firme e compreender que seu maior aliado é você mesmo, não esperar que os outros, que a sociedade, que o mundo sejam seus pilares. Eu já passei por isso, e chegar nesse patamar é lindo, caras, como é lindo.
-Acho que o Takahiro é um bom exemplo de um desenvolvimento de personagem que deu certo, ao contrário daqueles episódios da maconha e sei lá o que mais. Ele não estava equivocado ao querer voltar ao normal e morar com a mãe, pois de uma perspectiva realista é o que teria que fazer, visto que ela é uma figura pública e importante. Quando, porém, um tanque invade o prédio da associação vocês-já-sabem-qual, ele toma uma atitude imediatista e protege a mãe com seu corpo, levando o discurso do Murasaki um pouco a sério demais. Tudo bem não se importar com o que os outros dizem, mas gostar de alguém que te despreza independente de quem seja. me parece um absurdo ainda maior. Não foi o caso, já que era a mãe dele, e mãe é mãe. O gore não era exatamente necessário para a cena (aliás, Hamatora tem estado muito sanguinolento ultimamente), pois só ele tê-la protegido já bastava para mostrar a redenção da mãe e do filho.
Nota: 79/100

Episódio 12

-Que raios de bonecas são essas? Não é só o design e sim alguém acreditar que esse plano estúpido de estacioná-las na calçada e alvejar pessoas possa motivá-las a se juntar à “causa minimium”. Se fosse assim, todo cidadão que já foi assaltado na vida compraria uma arma para se defender da próxima vez ou andaria com um canivete no bolso. E mesmo que isso desse surtisse algum efeito, por quanto tempo eles poderiam manter esses ataques? Seria bem mais simples se colocassem os Minimium holders para atacar civis, pois ao menos eles teriam um inimigo específico contra quem lutar.
-Sabem aquela fase dos jogos do Megaman em que o Megaman (ou o Zero) tem que lutar contra todos os oito chefes que ele derrotou para em seguida enfrentar o Sigma? Pois é, é uma puta conveniência esses caras voltarem dos mortos assim do nada e encontrarem justamente os protagonistas.
-Então é o seguinte: cada vez que o cara toma uma facada, ele dá um grito e o poder dele deixa as pessoas surdas. As pessoas que ficaram surdas se sentirão fracas e irão querer um poder minimium, certo, gente? Gente? E vejam bem, se ele ficar tomando facadas dessa forma, não irá durar nem duas horas até que não dê para usá-lo mais, sem contar que é um método meio…improvisado demais. Considerando os princípios falhos de causa e consequência desse plano, imagino que a assistente do Moral é a mente mestra por detrás de tudo isso e não o próprio Moral. Vamos para o que interessa então.
-Essa cena. Nada melhor do que uma traição para fornecer o cliffhanger perfeito e providenciar que alguém assista a segunda temporada. Se me perguntarem, eu duvido que o Nice tenha morrido, raramente acontece de o herói não se salvar no último segundo. A mudança de atitude deste sugere que a mulher hacker possa ter usado seu minimium de alguma forma para realizar uma lavagem cerebral no detetive, assim ganhando outro peão para seu conjunto de peças. Pra um episódio final, dava pra fazer bem melhor, mas esse não é o episódio final de qualquer maneira.
Nota: 46/100
Impressões finais: Bom, minha gente, colocando numa escala numérica, Hamatora é aquele anime que só admite dois valores: 8 ou 80. Os episódios 8 são dotados de comédia apelativa a meu ver e alguma história que conta com uma direção amadora ao fundo. Os episódios 80, apesar da animação bem mixuruca e básica, compensam ao dividir a temática em três ramos: o ramo daqueles que se consideram fracos e culpam os fortes por isso, fazendo uso do recalque para disfarçar suas próprias falhas; o ramo daqueles que acreditam que é possível fazer um mundo justo sem recalque se todos tiverem poder e o ramo dos que admitem a existência de um mundo com injustiças em que as pessoas estejam cientes de suas limitações e decidam se querem melhorar por si próprias ou não. O primeiro ramo é uma atitude radicalista que acontece na realidade, em que representantes de certos grupos espalham o ódio por uma determinada classe e mobilizam a opinião pública contra a mesma. O segundo é uma utopia irrealizável, e falha justamente por acreditar que por todos terem poderes, todos serão iguais. Assim como no nosso mundo ninguém tem poderes e há desigualdade, em um mundo com 100% da população de mutantes também haveriam desigualdades. O terceiro é a perspectiva realista que considera que os seres humanos são diferentes e isso não é de forma alguma algo a ser lamentado, pois cada um deve descobrir sua própria força e usá-la a seu favor. O estúdio NAZ é um recém-nascido, logo se nota um certo amadorismo muitas vezes em um modo de dirigir sem foco e transições nada naturais. É possível que em um futuro distante o estúdio cresça financeiramente, os animadores acumulem mais experiência e venha a ocupar uma posição mais privilegiada. Não esperem porém um popular A1-pictures da vida, talvez um DEEN ou Silverlink.
Nota final: 728/11 = 66

Referências

“A natureza da psique”, Carl Jung. Capítulo IX.