Primeiras impressões: Aldnoah zero
-Desde que um certo duque da Áustria foi assassinado, a ficção não tem medido esforços para repetir o feito nas suas histórias. Ao invés de duques, contudo, a nação niponjin prefere matar princesas, porque princesas são kawaii, e como já dizia o saudoso Sora, “kawaii ga seigi” (kawaii é justiça). Logo, quando você mata uma princesa, está cometendo um ato de injustiça divina, e a punição adequada só pode ser a morte. Esse argumento surgiu enquanto o Urobuchi assistia seus DVDs de Gundam Seed no sofá da sua sala, e ele pensou: “eu podia fazer isso também”.
-Estamos falando de mecha, é claro, e mecha é uma coisa que sempre trabalha com extremos. Não basta apenas ter tensão geopolítica latente, tem que jogar a merda no ventilador de uma só vez e dar a aqueles – cujos indicadores estão coçando para apertar o botão vermelho que dispara o míssil – uma razão para declarar guerra generalizada. É como se, no mundo real, a Coréia do Norte decidisse lançar mísseis nucleares contra Washington ou a Rússia tentasse reerguer a antiga URSS. São hipóteses com as quais os escritores de “lorotas” – como diria Roland Deschain – gostam de criar narrativas.
-A ficção é inspirada pela realidade, tal como suas ideologias são réplicas ou adaptações de correntes de ideias do mundo real. Se Valvrave já nos proporcionou uma dose moderada de neonazismo e termos em alemão, Aldnoah zero também não segura suas rédeas nesse quesito. A irmã menor da princesa (que parece ter sido inspirada na Anna de Frozen, assim como a princesa parece ter sido inspirada na Elsa) faz questão de repetir os bordões de Nietzsche e Hegel que inspiraram o nacionalismo alemão na década de 30: “Nós somos melhores do que eles, somos de uma raça superior, diferente, de origem divina. Somos a evolução humana, o super-homem realizado”. Em outras palavras, eles acreditam que por terem descendência europeia, olhos azuis, e serem da elite, são melhores do que esses japas de cabelos castanhos e olhos pretos, que não merecem estar morando nesse paraíso azul enquanto eles apodrecem nos castelos espaciais sombrios. É uma luta de classes que é base das guerras, da escravidão e da disparidade entre a classe A e a classe E, até que alguém se dá conta de que os bebês da raça superior não nascem por brotamento ou pela cegonha, mas por fornicação, assim como os das classes pobres.
-No fim, apesar de ter argumento do Urobuchi, Aldnoah zero poderia facilmente ser divulgado para o público como “o mais novo Gundam da A1-pictures”, pois a única coisa de Urobuchi aqui é a ideia de “alienígenas” e de Marte, só que dessa vez eles não são humanos que resolveram transformar-se em criaturas marinhas espaciais inspiradas no mito de Ctchullu, perdendo sua racionalidade e humanidade no processo, e sim humanos que acham que são diferentes por serem bairristas e ostentarem um preconceito de premissas errôneas e equivocadas. É isso que o ser humano faz: pegar os escritos de outras pessoas e interpretá-los conforme a conveniência e as necessidades do presente, isto é, a “loucura das massas”.
-E também…esse cara. Isso que eu chamo de sangue frio.