Rakuen Tsuiho: Expelled from Paradise [Review] – Mais um futuro distópico (ou quase) na visão de Gen Urobuchi

Lembrando um filme americano de ficção cientifica Expelled from Paradise é Gen Urobuchi em sua recorrente visão de um futuro distópico, mas tentando ser um pouco mais positivo dessa vez.

 Sinopse

Em 2700 a terra é um planeta devastado e a maioria da população passou a viver em um mundo virtual (DEVA) cujo servidor fica no espaço. Angela Balzac, uma investigadora desse mundo, é mandada a terra para rastrear de onde veio um sinal hacker que invadiu e roubou informações do servidor de DEVA. Chegando a terra, Angela encontra com um agente terráqueo contratado e juntos vão investigar e descobrir quem e porque DEVA foi invadida. Mas a resposta não vai ser exatamente o que eles esperam…..
Análise
Rakuen Tsuiho não é pra qualquer um, ele tem um monte de conceitos e teorias conhecidas de filmes clássicos de ficção cientifica, mas diferente da maioria dos filmes do gênero Rakuen não gasta seu início introduzindo os conceitos tecnológicos que utiliza para você entender tudo o que está acontecendo na tela (tem que pescar sozinho com base na parte visual e diálogos), o que vai deixar muita agente perdida por algum tempo, ou mesmo o filme inteiro dependendo do quão versado a pessoa é em tecnologia e conceitos de ficção cientifica. Mas nisso pelo menos eu posso tentar dar uma ajuda (introdução) inicial:

Angela é “bem apessoada” e eles exploram isso, mas não chega a ficar ofensivo.
Em Rakuen Tsuiho a humanidade teve problemas de super população em algum momento. Isso, somado a outros fatores como pragas de insetos gigantes, poluição e escassez de alimento, acabou fazendo da terra um lugar inóspito e difícil de se viver. Houve uma briga entre a solução de mandar humanos para o espaço a procura de novos planetas habitáveis ou evoluir uma tecnologia que permitiria a todo ser humano viver sem ter um corpo físico. Aparentemente, a segunda opção ganhou. Basicamente todos no “novo mundo” nascem em encubadoras e alguns meses depois são transplantados para uma rede virtual, aonde ganham um corpo virtual e começam a viver normalmente em um mundo digital. Para quem conhece é semelhante ao filme “The Matrix”(excelente filme, recomendo), mas diferente do que acontece em Matrix as pessoas em DEVA não tem mais seu corpo físico para voltar, sabem o que aconteceu e estão felizes com isso. Como o filme mostra, é possível sintetizar um corpo físico e transplantar sua mente do mundo virtual para um corpo físico e vice versa sem grandes problemas, então as pessoas vivem nesse mundo virtual porque querem.
Mas claro, na ficção cientifica não existe utopia perfeita e essa não foge a regra. Temos a visão da população que vive no mundo virtual através de Angela Balzac, enquanto ganhamos a visão dos humanos sobre esse “paraíso” através de Dingo (o protagonista masculino). Na terra a vida é dura, não existe quase vegetação, existem criaturas gigantes e a comida é escassa. Na rede virtual não existe nenhum desses problemas. Não é necessário comer, não existem doenças, não existe dor e todos são “felizes”. Apesar disso a meritocracia ainda funciona lá, e como na terra nem todas as pessoas nascem iguais. Pessoas mais esforçadas ou que nascem com aptidões intelectuais maiores podem ir subindo de batente e ganhando o que eles chamam de “memória”, que é o equivalente a ter mais memória RAM a seu dispor para processar dados, o que nesse mundo virtual não parece ser distribuído de graça. Quanto mais memórias maior o valor da pessoa na sociedade. Como é um mundo virtual e tudo é de graça capacidade de processamento superior passa a ser a única coisa que diferencia o status de uma pessoa da outra. Achei a ideia muito interessante, assim como as discussões levantadas a respeito dela. Ao mesmo tempo que ela diz que a meritocracia é uma coisa boa, que motiva o ser humano a tentar crescer a base do esforço pessoal, também é mostrado seus defeitos.

Pois bem, quanto ao plot, é bem simples. Angela é mandada para a terra em um corpo físico para rastrear o hacker que invadiu seu mundo virtual. Ela encontra o protagonista masculino, um agente contratado da terra, e juntos começam a procurar por pistas. A interação dos dois é o foco por boa parte de filme. Estruturalmente o filme começa com ação, todo meio é desenvolvimento, investigação e no final um grande climax frenético cheio de ação.

Gostei bastante da Angela. A reação fria e irritada dela no início bate com a situação com a qual ela se encontra, tendo que lhe dar com um corpo físico e suas frustrações, as quais ela nunca tinha experimentado antes.. E apesar de não ter um papel forte na investigação do caso por boa parte do filme (admito que comecei a contestar a relevância dela em determinado momento) a coisa muda no climax. O desenvolvimento dela como personagem é muito agradável, indo de alguém fria, técnica e calculista, que idolatrava o lugar de onde veio, para alguém que começa a questionar a politica de seu mundo “perfeito” em determinado momento. Inclusive, sua reflexão quanto ao que fazer em certa parte foi uma grande virada dela como personagem pra mim, reforçando que apesar de ter uma personalidade forte, ela está sim disposta a repensar os conceitos em que acredita, sem que pareça ter sofrido uma lavagem cerebral no processo. É algo simples, mas esse desenvolvimento dela durante o meio do filme acaba a tornando uma personagem mais simpática.    

O protagonista masculino é um cara gente boa que está ali mais como um suporte e base para permitir o desenvolvimento por parte da Angela. Ele faz bem seu papel nesse aspecto e dificilmente alguém não vai se simpatizar com ele até o final do filme.

A ação do final é bem empolgante.

O twist da trama é simples e plausível (admito que esperava algo mais grandioso inicialmente) e por meio dele apresentam outro personagem, uma IA chamada Frontier. Ela é super simpática e alguns lembraram de uma outra IA gente boa de outro anime do mesmo autor (Gargantia). Frontier é quase humano e no pouco tempo que tem de tela deve conseguir conquistar a maioria das pessoas com facilidade.

O final não decepciona com uma briga bem coreografada de mechas cheia de explosões, armas de fogo e até lutas “corpo a corpo” (meu lado amante de RPG vibrou quando o robô sacou um escudo e uma espada). A conclusão é satisfatória (ao menos eu achei). Provavelmente alguns vão querer um epílogo, mas acho que é bem obvio o que ia acontecer dali pra frente.

Quanto a questão levantada sobre o mundo virtual ou mesmo a meritocracia serem bons ou ruins, é algo que parece deixado em aberto propositalmente no filme. Foram levantados vários pontos bons e ruins sobre mesmos, cabe ao telespectador refletir sobre e tirar suas próprias conclusões do que acha certo e errado a respeito. Diferente do conhecido Psycho Pass (de Gen Utobuchi), aqui a questão não é desconstruir um sistema teoricamente utópico como algo totalmente maligno ou ditador, mas sim fazer pensar que um mundo perfeito não existe e mesmo em face de algo próximo a perfeição as pessoas podem acabar decidindo por outro caminho.

Aspectos Técnicos
A direção é firme, o roteiro redondo e a trilha sonora – que parece mais silenciosa do que deveria a principio -, entrega o que ficou devendo durante boa parte do filme no climax final. Como mudança eu só sugeriria algum tipo de mini-climax no meio do anime, para tornar o “miolo” menos parado.

Expelled faz uso do conhecido CG Cel Shadding. Pra quem está costumado com obras full 2D provoca certa estranheza, mas esse filme faz um dos melhores usos da tecnologia que eu vi até agora. Não me incomodou a maioria do tempo (só em algumas cenas a movimentação ficou robótica) e fui até enganado pensando que estava vendo 2D em alguns momentos. A ação ficou boa e quem, por exemplo, assistiu “Arpeggio of Blue Steel”, vai achar Expelled uma baita evolução.
Conclusão
Expelled from Paradise é redondinho. Ele tem sua utopia futurista, seus contras e seus a favor a respeito dela, dois personagens com visões divergentes (nenhum estando 100% certo), um personagem com desenvolvimento mais forte, um plot objetivamente simples e um climax que entrega o que se pede, com o único ponto que não gostei sendo o meio do filme ser bem parado (não é uma falha em si já que gastasse esse tempo com desenvolvimento, mas perdesse um pouco do fator entretenimento, ainda mais por ser um filme do qual se espera bastante ação). Dos trabalhos do Gen Urobuchi não é nem de perto o mais criativo ou polêmico – lembrando mais uma ficção cientifica americana comum -, mas ele faz tudo que se propõe muito bem e mostra que Urobuchi também sabe fazer tramas mais “pra cima”. Pra quem curte ficção cientifica é super recomendado.
Animação: 8/10
Direção/Roteiro: 8/10
Soundtrack: 8/10
Entretenimento: 7/10
Nota final: 8/10
PS: Assistam até o último segundo do pós-créditos, tem uma parte hilária no final.
PS2: A música da ELISA que toca nos créditos e é frequentemente citada no anime como uma música conhecida dos tempos antigos é linda.