Guia – Estúdios de Animação Japonesa: funcionamento, padrões, história, sua relevância na qualidade da produção e exceções

Funcionamento padrão
Estúdios costumam começar com uma staff de poucos funcionários, animadores (desenhistas/ilustradores) em sua maioria. No início produzem apenas  pequenas partes de animes que estão sendo feitos por outros estúdios maiores, ou, em outras palavras, são “sub-contratados”. Conforme o estúdio ganha dinheiro com seus pequenos trabalhos e investe em mais funcionários e infraestrutura, o normal é que em algum momento ele vá começar a produzir animes por si só.

Apesar de eu dizer “por si só” não existe estúdio que não sub-contrate outros (terceirize) na produção de animes – tirando a Kyoto Animation, da qual eu falarei mais a frente. A diferença é que alguns sub-contratam menos e outros mais – o que costuma interferir na qualidade, vale dizer. Isso é devido ao modo como a industria de animação funciona. Um estúdio que deixa um funcionário parado está perdendo dinheiro, então mesmo estúdios grandes colocam quem estiver livre para produzir partes de animes de outros estúdios (sub-contratos). Motivo pelo qual mesmo com um grande número de funcionários é quase impossível um estúdio produzir um anime sozinho, já que uma parte dos funcionários dele sempre está trabalhando em outros projetos, ainda mais em estúdios que produzem vários animes ao mesmo tempo.

Outro fator é como os episódios são produzidos: conforme o storyboard (rascunho visual do episódio) vai sendo terminado animadores são alocados para transforma-lo no que veremos na tela (o produto final), mas cada storyboard costuma demorar de 1 a 2 semanas para ficar pronto, então não adianta ter vários animadores livres no estúdio porque só alguns poderão ser alocados para cada episódio conforme o storyboard é finalizado, e não adianta ter vários responsáveis por storyboard e direção de episódio livres também, porque o script (roteiro) para todos os episódios ainda não está pronto quando a faze de storyboard começa. Quando a staff que está trabalhando em um episódio o finaliza ela é normalmente alocada para um episódio mais a frente que ainda está em pre-produção. No mundo ideal as produtoras dariam tempo ao estúdio para terminar todo o anime antes dele ir ao ar, mas como isso sai mais caro é quase impossível de acontecer.

Após os estúdios crescerem começa o problema com a troca de funcionários. Os mais experientes começam a se destacar e acabam sendo chamados por outros estúdios ou mesmo se tornam freelancers. Quase todo diretor considerado acima da média hoje em dia é freelancer, e embora possa trabalhar com mais frequência no estúdio onde começou a maioria costuma aceitar trabalhos de qualquer outro, caso estejam livres. O que eu disse vale para diretores de episódio, diretores de animação, designers de personagem e animadores talentosos também.
Os problemas mais frequentes que isso causa são alguns estúdios tendo que contratar muito animadores novatos ou perdendo alguns mais experientes em determinada parte do ano, com isso impactando nos animes que produz.

Muito desse troca troca de funcionários acontece porque a maioria dos estúdios não oferecem bons salários ou ambientes de trabalho saudáveis (relatos de animadores sendo obrigados a trabalhar mais de 10 horas por dia, 7 dias por semana, são frequentes), incentivando cada vez mais o mercado de freelancers, que trabalham aonde querem e podem até mesmo cobrar mais por isso em alguns casos.

História

Em termos de história a maioria dos estúdios é parecido, e como quase todos trabalham da mesma forma depois de estabelecidos não vale muito a pena ficar entrando em tantos detalhes desse aspecto. Basicamente quase todo estúdio é formado pela staff que saiu de um estúdio maior. A maioria dos estúdios de hoje em dia foi formado por ex-funcionários da Sunrise, Tatsunoko e Mushi Production. Na imagem abaixo segue as relações dos principais estúdios japoneses no aspecto de “membros de que estúdio fundaram o outro”:

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Tem alguns casos interessantes como o Madhouse quase indo a falência até ser comprada por uma estação de TV (NTV) em 2011. Ou o Gonzo que quase faliu em 2009, vendeu quase tudo que tinha pra pagar a dívida de 30 milhões de dólares, juntou o que sobrou em uma de suas subsidiarias e continua tentando sobreviver até hoje. Estúdios falindo ou mal das pernas é normal, mas com certeza dá lucro também, porque todo ano nascem novos.

Já me pediram várias vezes para continuar aquela seção explicando sobre cada estúdio, uma ideia que eu achei legal na época mas considerei inviável depois que aprendi mais sobre como os estúdios funcionam. Basicamente, estúdios de animação são instáveis, principalmente os que ganham fama de um ano para o outro porque fizeram 2 a 3 animes populares seguidos ou porque de repetente começam lançar vários projetos com animação acima da média. Os geradores mais comuns dessa instabilidade positiva e negativa costumam ser financeiros (investimento dos donos da empresa) e por parte da entrada e saída de funcionários, com os melhores diretores ou animadores abandonando o estúdio para entrar em outro ou se tornarem freelancers, levando a uma piora das produções, ou então o estúdio contratando uma nova leva de funcionários que acabam se mostrando talentosos, levando a uma melhora das produções. Outra opção é ele ter dado sorte ou escolhido muito bem a staff de freelancers que comandou os últimos animes feitos no estúdio. Freelancers, inclusive, são o motivo pelo qual super valorizar estúdios de animação com politicas de produção normais é algo sem muito sentido, e que nos leva ao próximo tópico.

Staff  X Estúdio

Grande parte dos animes hoje em dia é feita por diretores, diretores de animação e designers freelancers. Eles estão no mercado, tem contato com vários estúdios e ficam pulando de um para o outro conforme a demanda. Imagine o diretor e revisor de animação/designer de personagem como 50% da garantia de qualidade visual da obra, já que são eles que vão revisar tudo antes de ir ao ar (os outros 50% são o tempo para produzir o anime e verba que a produtora dá, somados ao que o estúdio pode oferecer em termos de staff auxiliar e infraestrutura).

Staff do anime “Shirobako” (um anime sobre os bastidores da industria de animação japonesa) reunida.

Um diretor com muitos contatos pode chamar animadores, diretores de episódio ou designers em quem confia para cobrir as fraquezas do estúdio em que está trabalhando – motivo pelo qual mesmo trabalhando em estúdios diferentes é comum que as obras de alguns diretores mantenham um certo padrão de qualidade. Um exemplo recente disso é o diretor Tsutomo Mizushima (Shirobako, Blood C, Girls und Punzers, WitchCraft Works, Genshiken). Ele dirigiu animes para os estúdios PA Works, Actas, J.C Staff, Ajiado, Production I.G e Diomedea de 2010 a 2015, e embora o roteiro desses animes seja discutível a parte da produção técnica de todos eles é bem feita, sendo que a única coisa que todos tinham em comum é o diretor. Girls und Punzers, inclusive, teve problemas com o cronograma de produção, graças ao estúdio pequeno em que estava sendo feito e cronograma apertado. Para não prejudicar a qualidade o diretor adiou em 2 meses a entrega dos 2 episódios finais, algo que poucos fariam. Outro exemplo famoso é Shigishiro Watanabe (Cowboy Bebob, Sakamishi no Apollon, Samurai Champo, Space Dandy, Zankyou no Terror). Não importa se no estúdio Mappa, Bones ou Manglobe, as obras dele sempre tinham animação e parte artística acima da média (de novo, achar o roteiro bom ou não é uma discussão a parte).

Como vou explicar em um outro post, com raras exceções, eu considero o estúdio depois da staff, tanto pela maioria deles não ter uma staff de profissionais muito acima da média, que vá fazer a diferença, quanto o anime ser uma representação dos gostos e vontades do diretor, e não do estúdio em que ele está trabalhando. Mesmo que a produtora impeça ele de fazer grandes mudanças na obra original – no caso de uma adaptação -, ele ainda pode colocar um pouco dele na parte artística e escolhas de storyboard. Alguns estúdios no entanto, se apoiam tanto em apenas um diretor fixo que a visão do diretor acaba virando a cara do estúdio. O exemplo mais comum é a Shaft, que a mais de 5 anos usa o mesmo diretor em todos os animes deles (os que ele não dirige ele supervisiona).

Relevância do estúdio

Quem faz grande parte das conexões para produção de um anime é o estúdio: gerenciamento de produção, cronograma, sub-contratos, e em vários casos é ele que escolhe o diretor que vai trabalhar no anime (caso a produtora não sugira um). É dele também que vai vir a maioria dos animadores e diretores de animação de cada episódio. Mesmo que um diretor freelancer tente chamar algumas pessoas acima da média de fora do estúdio para melhorar alguns aspectos da produção, é praticamente impossível conseguir verba para criar uma staff de anime toda feita de freelancers talentosos. E é ai que vem o valor de produzir um anime em um estúdio cheio de funcionários de ponta. É comum inclusive acontecer de um episódio de um anime sair mais bem produzido que os outros quando dado para um “diretor de episódio” e “diretor de animação” talentosos, as vezes melhores até mesmo que o “diretor geral” do anime.

É fato que alguns estúdios conseguem manter um quadro de funcionários mais experientes ou pelo menos manter uma boa relação para que mesmo que eles se tornem freelancers voltem a trabalhar com o estúdio frequentemente. Um exemplo disso é o Bones, cujas produções “na maioria dos casos” são acima da média (tirando no início de 2014 quando tentou fazer 5 animes ao mesmo tempo), enquanto a maioria dos outros estúdios é instável demais para classificar. Eles podem estar acima da média em um ano e mediano dois anos depois devido a algum problema, ou então o contrário. Também é comum acontecer de sair um anime muito bem feito entre os diversos animes que um estúdio faz durante o ano – possivelmente mérito de um staff diferenciada -, mas isso não torna o estúdio bom. Eu poderia citar uns 3 estúdios que vem se destacando nos últimos 2 anos, mas eu duvido muito que isso se mantenha estável, e caso o estúdio tenha um ano ruim em 2016 esse post ficaria datado.

Verba para o anime obviamente interfere em quanto o estúdio pode gastar por episódio, mas como eles não liberam esses dados é algo que não adianta especular muito. Se sabe que existe uma média padrão de aproximadamente 1,2 milhões de dólares para produção de um anime de 12 episódios, alguns conseguem uma verba um pouco maior que isso e outros um pouco menor, mas dificilmente uma produção ganha o dobro ou a metade.

Os estúdios também podem escolher aceitar ou não trabalhos com prazos muito apertados, verbas abaixo da média ou staffs medíocres, cabe ao gerente ou acionistas do estúdio essa decisão de filtrar (ou não) as obras que produzem, mas na maioria dos casos eles veem “quando mais trabalho, mais dinheiro, melhor”, o que gera produções conturbadas, com estúdios não dando conta de produzir direito os vários animes que pegaram ao mesmo tempo ou indo mal devido a uma staff ruim. Ainda assim, é o modo que eles encontraram para sobreviver: ou aceitam o trabalho que tiver e alocam a staff que encontrarem livre ou ficam escolhendo muito, investindo em animes originais sem apelo para o grande público e vão a falência.

Não culpe o estúdio por um roteiro ruim!

Por último, vale ressaltar que todos os compositores responsáveis pelo soundtrack e roteiristas são freelancers, e chegam até a trabalhar em múltiplos animes de diferentes estúdios por temporada. A ligação deles costuma estar mais atrelada ao diretor ou produtora (quem banca o anime), que costuma chamar roteiristas e compositores com quem já trabalhou e gostou, do que ao estúdio. Portanto, reclamar do estúdio porque achou a história do anime ruim é a coisa mais equivocada que se pode fazer. O gerente do estúdio dificilmente vai meter o dedo no roteiro de um anime, isso cabe a staff do anime, com o principal responsável sendo o roteirista, e, o diretor, que pode ou não aprovar os roteiros feitos (principalmente em animes originais), quando não está de mãos atadas por ordem da produtora, que pode querer algo o mais fiel possível ao original, no caso de um anime adaptado de outra mídia. Já a qualidade técnica da animação (fluidez, consistência e parte de viés artístico), sim, disso você pode reclamar do estúdio e da staff escolhida, freelancers ou não.

Estúdios com metodologias de produção diferenciada

Explicado com a maioria dos estúdios normais funciona, tem 4 deles que são exceções a tudo que falei:

(Sword Art Online, Shigatsu Kimi no Uso, Nanatsu no Tansai, Saekano)

A1 – Pictures:
Estúdio fundado pela produtora Aniplex e um ex-funcionário do Sunrise. Ele não tem staff fixa, ao invés disso contrata um bando de freelancers para cada anime que produz, e o que o time de freelancers não der conta é passado para outros estúdios fazerem por sub-contratação. Devido a esse método de contratar freelancers as obras do estúdio dificilmente tem uma qualidade de produção horrível, já que para um animador ou diretor ser freelancer ele precisa de um mínimo de experiência (um currículo decente). O problema é que todo anime deles sempre tem boa parte dos episódios por sub-contratação, o que torna difícil produzir vários episódios acima da média, ainda mais quando o tempo para a produção é muito curto.

Normalmente a staff de freelancers foca em alguns episódios mais importantes ou cenas chave, deixando o resto para os estúdios sub-contratados. A parte dos estúdios sub-contratado ficar boa ou não vai depender do nível do estúdio sub-contratado, do nível de exigência do diretor e animador chefe na hora da revisão, além é claro, do tempo que eles tem para entregar o episódio  – se for longo eles podem dar mais coisas para a staff principal de freelancers fazer, diminuindo as sub-contratações necessárias ou mesmo dando mais tempo para refazer o que ficou ruim. Então enquanto um estúdio comum está sempre contratando novatos para renovar a staff experiente que acaba saindo em busca de melhores salários, a A1 quase sempre garante que uma parte da staff vai ser de um pessoal experiente, já que não dá pra entrar no mercado de freelancers sem ter um currículo ao menos mediano pra mostrar. Infelizmente, experiencia na industria não significa qualidade (tem muito diretor ruim com currículo gigantesco), mas ao menos costuma evitar desastres completos.

Vale notar que nem todos os animes produzidos pela A1-Pictures são bancados pela Aniplex (ex: Fairy Tail, Space Brothers, From the New World, Denpa Kyōshi), e nem todos os animes bancados pela Aniplex tem uma staff muito acima da média ou mesmo prazos de produção extensos o bastante para se produzir algo consistente em termos de animação. Ainda assim, tense observado que os animes produzidos na A1 cuja produtora é a Aniplex costumam ter uma qualidade técnica superior aos bancados por outros produtoras (exemplos já citados acima).

(Monogatari, Madoka Mágica, Nisekoi, Arakawa Under the Bridge)

Shaft:
Shaft é um estúdio curioso porque com o passar do tempo ele baseou toda sua politica de trabalho e apelo visual a visão de um diretor apenas (Akiyuki Shinbo), que está por trás de todas as obras do estúdio desde 2009, nem que seja na supervisão. De resto é um estúdio comum. A Shaft tem apenas 2 animadores acima da média para fazer cenas exigentes (Ryo Imamura e Genichirou Abe), com o resto do estúdio sendo composto por um quadro normal de funcionários novatos e ou com experiencia média. O problema do Shaft é que ele costuma pegar mais do que consegue produzir e tem uma administração de cronograma horrível, o que faz com que quase todos os seus animes tenham problemas de produção visuais em algum momento, mesmo que o diretor tente contornar isso com uma animação menos exigente (econômica). Os BDs do estúdios, comparativamente, são os que apresentam mais mudanças graças a isso (algumas mudanças não são correções no entanto, e o Shinbo ficou famoso por ninguém entender algumas coisas que ele coloca diferente no BD, já que algumas cenas parecem mais mal desenhadas no BD do que estavam na versão TV). O real problema da Shaft, no entanto, é o que o estúdio vai fazer se o Shinbo se aposentar ou sofrer um acidente, porque o estúdio se tornou totalmente dependente dele.

(Amagi Brilliant Park, Hyouka, Free!, Haruhi, Clannad)

Kyoto Animation:
O mais consistente estúdio do japão em termos de qualidade de produção de animes para TV. O estúdio conseguiu isso criando uma filosofia distinta de só ter profissionais talentosos trabalhando para ele, além de prazos de produção bem maiores que o normal. Como ele faz isso? Ele criou uma escola de animação aonde os professores são os animadores e diretores do estúdio, que são, basicamente, professores super gabaritados. Dos formados dessa escola só os mais talentosos são chamados para trabalhar no estúdio. Alguns são melhores que outros mas todos são acima da média ou talentosos de alguma forma. A KyoAni também é o único estúdio a não sub-contratar outros para terminar seus animes dentro do prazo, todos os episódios são feitos inteiramente pelos seus funcionários (in-house). O ambiente de trabalho, pelo que os funcionários de dentro informam, parece ser bem melhor que o dos outros estúdios. Fora a staff que vem da escola de animadores, eles também costumam contratar diretores e animadores freelancers ou de outros estúdios que se destacam positivamente na visão deles. 
Lembro, no entanto, que a Kyoto só tem o time que mexe com a parte artística como parte fixa do estúdio. Os roteiristas e compositores musicais de seus animes são sempre freelancers que trabalham com outros estúdios.

Curiosidade: A maioria do estúdio (80%) é composto por mulheres.

(Kara no Kyoukai, Fate/Zero, Fate Unlimited Blade Works 2014)
Ufotable:
O Ufotable não tem uma staff cheia de gente talentosa como a Kyoto Animation, e em quase todos os seus animes ele tem que chamar animadores freelancers especializados para cobrir buracos. Ainda assim, ele tem bons diretores de episódio e procura manter um prazo de produção acima da média, de modo que seus animes pareçam mais bem acabados e consistentes comparado a maioria dos outros estúdios. Outro fator é que a empresa tem uma parte do estúdio dedicado apenas a processamento digital, o que acaba gerando muito 3DCG em seus animes (ele tem que dar trabalho para os funcionários especializados nisso), principalmente de efeitos especiais, e um uso pesado de filtros na pós-produção, que costumam deixar deixar os backgrounds mais bonitos e bem acabados, e os personagens mais destacados no cenário, até lembrando modelos em CG de vez em quando.  Isso obviamente deve custar um pouco mais caro e reduz o lucro do estúdio, mas é uma decisão dos acionistas e gerencia para manter a qualidade visual um pouco mais elevada.

Infelizmente em 2015 a empresa começou a mudar sua metodologia de trabalho e ao tentar produzir 2 animes no mesmo ano o segundo deles acabou com sérios problemas, desde contantes adiamentos de episódios até erros grosseiros na parte visual devido a falta de tempo na produção.

Como um estúdio ganha dinheiro?

Na maioria dos casos, principalmente de adaptações, os estúdios recebem uma quantia X da produtora principal (Aniplex, Pony Canyon, TOHO, etc) para produzir o anime, como um prestador de serviços comum. Se o BD do anime vai vender bem ou mal é normalmente problema da produtora, o estúdio dificilmente perde muito com isso, já que mesmo quando ele investe parte de seu capital na produção de adaptações para anime, o investimento costuma ser baixo, e ele não recebe muito da porcentagem dos lucros ou prejuízo das perdas. Por isso que é normalmente dito que para um estúdio ter um lucro real com as vendas de uma adaptação o BD precisa vender muito, já que ele recebe muito pouco por BD vendido.

Formas de um estúdio ganhar dinheiro:

1 – Contratos de trabalho, prestação de serviços. Basicamente uma produtora pagando um valor fixo para ele produzir um anime X ou ele sendo sub-contratado para produzir alguma parte de um anime que outro estúdio está fazendo. O lucro é baixo mas é o método mais seguro de um estúdio se manter.

2 – Adaptações de outras mídias (mangá, LN) para anime que ele adaptou vendendo muito bem, e ele recebendo uma parte dos lucros, mesmo que pequena. Imprevisível, lucro médio.

3 – Animes originais. Neles o estúdio costuma investir bem mais na produção, e, portanto, recebe uma parcela maior dos lucros. Sem falar no direito a porcentagem da venda de figures, camisas, ect, tudo relacionado a obra. No caso de uma adaptação isso costuma ir para o autor, editora e produtora, mas no caso de animes originais o estúdio costuma ganhar uma boa fatia (exemplo: Sunrise com a franquia Gundam, Code Geass e Love Live). Mais arriscado, mas é o que mais gera lucro.

Formas de um estúdio perder dinheiro e, ou, falir:

1 – Falta de contratos de trabalho devido a muitos fracassos comerciais produzidos nele ou qualidade de produção duvidosa, o que desincentiva produtoras grandes a passarem obras para ele adaptar.

2 – Investimentos do capital do estúdio em diversas adaptações ou animes originais que falharam comercialmente.

Conclusão
O estúdio é importante? É, ainda mais porque um estúdio com muitos funcionários experientes, talentosos, ou, em uma boa fase, pode oferecer uma base sólida mesmo que o diretor e o revisor de animação do anime sejam inexperientes, e no caso do diretor já ser experiente a obra pode sair ainda melhor se ele tiver uma ótima staff, sem ter que ficar se preocupando em cobrir buracos com freelancers que conhece. Agora, não se deve colocar todo mérito de um anime bem ou mal sucedido em cima do estúdio apenas, ainda mais se ele tiver uma staff totalmente diferente para cada anime, como a A1-Pictures. A Madhouse, por exemplo, teve 1 péssima produção em 2014, 1 mediana e 2 boas (coisa similar já aconteceu na J.C Staff, Production I.G, ect). Se a política de confiar inteiramente no estúdio fosse eficaz um estúdio não deveria variar desse jeito, mas quase todos eles, tirando a Kyoto Animation, variam. Então não olhe apenas o estúdio, olhe primeiro a staff principal (diretor, designer de personagem/chefe de animação), veja o que eles fizeram antes, junte isso ao padrão de produção que o estúdio vem apresentando nos últimos 2 anos e você terá um resultado mais palpável, do que colocar tudo nas costas de um estúdio, que pode estar usando apenas 20% dos seus próprios funcionários naquela produção. Tem também o fator do produtor (quem banca o anime) a ser considerado, mas isso fica para outro post.

Conclusão resumida: Não olhe só para o estúdio quando ver um anuncio de anime! Se preocupe com a staff primeiro! estúdio, embora também seja importante, é secundário. Gritar o nome do estúdio quando não gosta de alguma coisa que observou quanto ao roteiro costuma ser sem sentido também. Você não reclama com o estúdio de um filme ruim, você reclama do diretor e produtores com controle criativo. Pra animes é quase a mesma coisa.

PS: Se querem saber os animes que um estúdio produziu nos últimos anos o jeito mais fácil de pesquisar é colocar, exemplo: “Shaft Wiki” no google e entrar na wiki AMERICANA, lá deve estar listado todos os animes produzidos em ordem.

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