Review – Dungeon ni Deai wo Motomero (Danmachi)
Uma aventura leve e divertida em um mundo que tenta trazer as mecânicas de RPG para o mundo real através de magia.
A história acompanha Bell Crane, um humano que após a morte de seu avô decide ir para cidade se tornar um aventureiro da Dungeon. Apos ser rejeitado em várias guilds ele encontra uma Deusa sem seguidores e vira seu subordinado. Em seu primeiro dia na “Dungeon” ele acaba sendo salvo da morte por uma guerreira de cabelo e olhos dourados Lv.5, e apartir dai chegar nela – em termos de força – vira sua meta.
O clima leve é algo que vem do original mas é curioso como o diretor quis acentuar isso evitando mostrar qualquer morte de forma gráfica, de modo que só se comenta que alguém morreu na Dungeon ou é mostrado de relance alguém fugindo e depois um pouco de sangue no local (não sei se é uma boa escolha pois se perde a sensação de perigo real). A batalha final que em tese deveria gerar uma carnificina em mortes também acaba com um tom leve que achei incoerente, para o bem de quem procura algo light ou mal de quem queria algo mais dark.
O mundo de Danmachi é muito interessante, trazendo conceitos de RPG para vida real através de deuses e magia. É uma pena que pouco dele seja realmente explorado, já que recebemos pouquíssimas explicações e até mesmo os atributos do protagonista que sobem a cada episódio só podemos ver poucas vezes no anime (engraçado que no site oficial do anime eles ficavam atualizando todo episódio, não custava colocar no final de cada episódio do anime também, é legal acompanhar a evolução dos stats do personagem).
O anime é basicamente a jornada de um garoto que recém começou sua vida de aventureiro em uma dungeon dividida em andares, local aparentemente criado por deuses (a qual o anime não explica direito como funciona, infelizmente). Cada andar tem criaturas mais fortes e todos os humanos que tem contrato com deuses ganham pontos de experiência e stats que vão evoluindo com apartir dos monstros que derrotam ou trabalhos que fazem. O diferencial do protagonista é uma skill que permite a ele evoluir de 10 a 20x mais rápido que os outros personagens (aka ele tem bônus de XP 10x permanente).
Essa ideia dele evoluir rápido é interessante porque toda hora o protagonista muda de andar e vemos criaturas novas. Ele ganha novos equipamentos com frequência também. O que eu não gostei é que ele ganha vários poderes roubados que ninguém mais tem, não uma, mas várias vezes a cada poucos episódios. Ele já tem a skill de XP, mas com o tempo ele ganha várias outras, é quase como se o autor estivesse mimando ele.
Se a ideia é ver alguém normal tendo que batalhar para evoluir de level com o próprio esforço isso se perde um pouco quando o autor fica dando diversas ferramentas para o protagonista se destacar a cada tantos episódios. As piores são uma skill não explicada que deixa a mão dele brilhando e mata praticamente qualquer coisa em um hit (parece que amplifica o poder do que quer que ele use em 100x), e é claro, aquilo do último episódio, que soa como um Deus Ex se considerar o trabalho que vários lv 4 tiveram para ferir o bicho e comparar com o que o protagonista level 2 fez em 1 hit. É possível que a revelação do Hermes no final justifique o ganho de todas as skills “roubadas” dele, mas fica só de especulação, e mesmo assim acho uma escolha pobre do autor a de equipar o protagonista com um arsenal tão grande e poderoso em tão pouco tempo.
Com o mundo de Danmachi não sendo muito explicado o foco fica nos personagens. Hestia, a deusa que fez contrato com o protagonista se tornou um dos personagens mais populares da temporada de Abril 2015. Ela não faz muito no anime e nem tem grandes desenvolvimentos, mas suas participações são sempre engraçadas. Em resumo, ela é extremante simples, mas carismática. Os outros eu realmente não achei dignos de nota, embora alguns como a Elfa lv4 que ajuda no final tenha sido uma boa surpresa como alguém com um passado interessante. Os vilões não são particularmente memoráveis, ainda mais uma mulher que fica tramando para colocar obstáculos no caminho do protagonista e tendo orgasmos (literalmente) vendo ele enfrenta-los. Seu objetivo com tudo aquilo nunca é explicado, o que deixa a coisa toda parecendo sem sentido (na Novel e no mangá esse interesse obsessivo dela é explicado, mas no anime deixam em aberto mesmo).
Por último, o protagonista, que embora simpático, vai deixar muita gente torcendo a cara. Ele é gente boa até demais, fazendo o tipo do garoto exageradamente inocente (o que inclui algumas frases machistas meio desagradáveis), e a aparência infantil não ajuda (mas quem curte os tais “uke” vai gostar). Mesmo assim ele ganha um harém em tempo recorde, algo que pesa mais contra do que a favor, já que, tirando a deusa que parece ter um apego sentimental a ele pela convivência, e a loli que ele salvou, nunca entendemos exatamente o porque das 4 outras mulheres do harém dele terem entrado para o harém (a loira, a deusa que lembra a Afrodite, a elfa secretária e a empregada do bar).
Por mais que harens sejam uma coisa clichê, na maioria dos casos eles pelo menos fazem algum sentido, com o protagonista ajudando a garota de alguma forma ou se o cara for um “macho-alpha” – pelo qual muitas mulheres se sentem atraídas naturalmente devido ao instinto primitivo de proteção vindo desde os primórdios da raça humana. Mas Dungeon não tem nada disso, o protagonista além de uma aparência infantil e jeito inocente não toma nenhuma ação que justifique metade das garotas que correm atrás dele. Ou o autor é bem inocente quanto a romance ou essa é uma piada interna que ele não soube expressar bem. Também é engraçado como o protagonista sonha em salvar uma donzela em perigo e ganhar seu amor na Dungeon, mas ignora completamente as investidas descaradas do conjunto de mulheres que o cercam, o que faz com que o romance da obra nunca se desenvolva em nenhum aspecto.
Nem tudo é ruim no protagonista no entanto. Se ele não amadurece sua inocência ou densidade, ao menos uma evolução física e psicológica é claramente notada. Isso é bastante reforçado na melhor luta do anime, contra um Minotauro, e nos episódios finais. Falando nelas, o anime tem 3 lutas dignas de nota, e embora a última não seja a melhor ela faz seu trabalho de entregar algo mais grandioso em termos de escala, apesar de todos os episódios conseguirem entreter a contento, quer tenham lutas grandes ou não (não é o tipo de anime que de para reclamar de tédio). Eu não deixo de achar uma ideia mal aproveitada que poderia gerar um anime cheio de lutas, com um tom um pouco mais pesado, aonde o protagonista não seria tão inocente e ficaria a maior parte do anime dentro da Dungeon, passando por situações de risco (até quando ele fica lá muito tempo o roteiro dá um jeito de voltar ao slice of life/comédia rapidamente no último arco, o que eu achei frustrante), mas olhando a obra como uma aventura leve que ela se propõe a ser, ela faz um trabalho legal. Não importa quantos defeitos e clichês ela possa ter, ao menos a jornada é divertida, e com direito até a um twist inesperado no final.
A direção de Dungeon faz um razoável, sem nenhuma sacada ou diferencial que a destaque, mas cumpre bem o que se pede. Só gostaria de um pouco menos de enfase no fanservice e comédia para ser honesto.
O roteiro teve a árdua tarefa de comprimir 5 volumes da light novel em 13 episódios, algo que ele faz com tanta facilidade que muitos vão se perguntar o que foi cortado, porque tirando várias explicações que não são dadas, ao menos a história não parece muito corrida (as LNs de Dungeon são pequenas e não acontece muita coisa por volume, por isso a adaptação de tantos volumes deu certo, mas o roteirista não deixa de ter mérito também). Isso não tira o incomodo de algumas falas bem estúpidas do protagonista que poderiam ter sido cortadas (“vou te perdoar porque você é uma garota….”) e a falta de explicações que é meio frustrante, tanto de aspectos do mundo quando motivação de alguns vilões. Os clichês do harém aplicados aqui de uma forma mais “cara de pau” que o normal também pesam contra. Em suma, a compressão é boa, mas aspectos vindouros do material original e coisas não explicadas fazem ela perder muita força.
A animação é boa para os padrões da J.C Staff. A fluidez é guardada apenas para algumas lutas (a do final foi bem bagunçada na mistura de animação fraca, mediana e fluida, então o destaque mesmo ficou com a luta do Minotauro), mas o design é bem consistente.
A trilha sonora também cumpre bem o seu papel, com algumas faixas que são o tom correto nos momentos chave, apesar de faltar um main theme mais marcante ao meu ver.
PS: Eles deviam investir em uma temporada animando o spin-off de Dungeon com a Aiz como protagonista. Pode acabar tendo o mesmo efeito positivo que Railgun teve para Index. Lendo o spin-off achei a Aiz e o pessoal da guild dela muito mais fácil de se gostar do que o Bell e os companheiros dele.