[Review] Animes polêmicos: Yosuga no Sora – O incesto, rotas e ecchi levados até o fim
Você pode ter visto várias obras sobre incesto, mas dificilmente alguma delas é igual a essa.
O sistema de adaptação de rotas é completamente anormal. Em vez de tentar fundir todas as rotas na mesma história e deixar o protagonista terminar com uma heroína, o roteiro escolhe adaptar todas as rotas separadamente, permitindo ao telespectador ver o final e o romance com cada uma das heroínas – ao invés de apenas desenvolver seus dramas sem adentrar no romance, como é o padrão da maioria das adaptações de Visual Novel (Grisaia, de 2014, é o exemplo mais atual e popular desse estilo de adaptação de Visual Novel que decide trabalhar o drama das heroínas sem entrar no romance).
O episódio 1 e 2 são a base, com apresentação de personagens e relações. Depois disso são dois episódios (o 3º e 4ª) para trabalhar o drama e romance da Ojou-sama; mais dois (5º e 6º) para trabalhar a garota do templo, três (7º ao 9º) para a amiga de infância, e os últimos três (10º a 12º) para trabalhar a relação com a irmã. Ou seja, o incesto que a maioria quer ver, só chega no final. Tem uma rota extra da Maid também, que é apresentada em curtas bem humorados de 2 minutos no final de cada episódio da versão BD (não pegue a versão TV! ela é toda censurada e não tem a rota da empregada!).
A cada rota finalizada o anime volta no tempo até a escolha que o protagonista poderia ter feito para entrar em uma rota diferente. A exemplo: após terminar a primeira rota no episódio 4, o episódio 5 te manda de volta para o final do episodio 2, aonde o protagonista faz uma escolha diferente. Isso se repete no final de cada rota, mas os locais para onde o protagonista volta são diferentes (a rota dá irmã volta e começa no meio da rota da amiga de infância por exemplo). Para quem gosta de ficção científica é como ver o mesmo protagonista em várias linhas do tempo ou universos paralelos diferentes, aonde ele faz pequenas escolhas diferentes que o direcionam para cada uma das heroínas. É um dos aspectos que achei mais legais do anime, por ser algo que nunca tinha visto nenhum outro fazer (já vi animes com mais de uma rota como Amagami SS, mas não com esse sistema de voltar no tempo cada hora para uma parte da história diferente, mudando suas escolhas). É como ver alguém jogando a Visual Novel voltando nos salvados (save points) e alterando algumas escolhas para mudar de rota.
As rotas de Yosuga no Sora são basicamente histórias dramáticas bem simples. É um slice of life/romance, sem sobrenatural, sem revelações bombásticas (não que não tenha alguma surpresa aqui e ali, mas nada que se pareça com um twist completamente inesperado….bem, talvez o da amiga de infância….). Graças a essa trama simples e não ser necessário reproduzir longos flashbacks, as histórias conseguem ser contadas em poucos episódios sem grandes problemas, ainda que pela necessidade de empacotar todo desenvolvimento relevante em 2 a 3 episódios, a maioria da comédia fique de fora, com foco apenas no drama e romance com a heroína em questão, que por vezes parecem um tanto quanto superficiais (apenas 2 a 3 episódios para trabalhar uma personagem cobram seu preço), além de alguns dramas aparecerem e serem resolvidos rápidos demais, dado o tempo limitado (não sei o quão fiel ele é ao original porque não joguei!).
Para quem curte drama não vai ser um problema de acompanhar, mas para quem prefere uma mistura de vários elementos como comédia, ação, suspense, psicológico e algumas reviravoltas (de novo, Grisaia, de 2014, é o exemplo mais fácil de VN com esses elementos nas rotas) vão achar Yosuga no Sora bem parado.
O protagonista de Yosuga no Sora é meio diferente do padrão. Ele não é vendido como o cara de aparência comum, mas sim um de boa aparência que faz todas as heroínas (e não heroínas) corarem ao primeiro relance, e de bônus ainda é “gente boa”. Ele é meio avançado quanto a experiência sexual – aparentemente graças a um acontecimento quando mais novo, que explica em uma das últimas rotas -, então não enrola muito para beijar a garota e leva-la para os “finalmentes” na primeira oportunidade (o que lhe rendeu um lugar na lista que fizemos de “protagonistas não-virjões de animes“). Nem tudo são flores no entanto, e fora esses traços que citei ele parece meio genérico. Ele faz o que o roteiro manda ele fazer mas pouco se vê de traços de personalidade ou psicológicos marcantes, fora o fato dele ser bem proativo quanto ao sexo oposto e ficar realmente desesperado sem saber que rumo tomar na última rota (a de incesto). Faltou uma caracterização mais marcante fora “ser um pegador que gosta do negócio”.
As duas primeiras rotas são “ok”, não fedem nem cheiram e você só vai lembrar delas pelas cenas de sexo, porque as heroínas em questão são bem esquecíveis. A terceira, da amiga de infância, eu achei mais interessante, por explicar porque o protagonista se tornou mais proativo que o normal em relação a sexo e o porque da garota ficar pouco a vontade perto dele desde o início do anime, mesmo parecendo que era apaixonada por ele. A heroína consegue expressar mais personalidade também, e embora seu problema emocional seja bem simples, é uma rota mais fácil de levar por ter 3 episódios com algumas partes de comédia, diferente das duas anteriores, que só tinhas 2 episódios e são quase que totalmente focadas em drama e romance.
No final de cada episódio tem uma rota extra com a empregada da Ojou-sama, de 2 minutos por episódio. A rota é engraçadíssima, com variações de design chibi e detalhado. Mesmo se decidir pular as rotas da Ojou-sama e da garota do templo depois de terminar os dois primeiros episódios, não deixe de assistir aos minutos finais de cada episódio, porque a rota da Maid é muito divertida.
A última rota é a da irmã: incesto, sem desculpas de não ser irmão de sangue e sem parar no meio do caminho. O drama da rota é o próprio tema (o incesto), e a não aceitação do mesmo pelo população (amigos que descobrem), levando os personagens a ficarem encurralados e terem que tomar uma decisão. A justificativa para eles terem interesse sexual um no outro é plausível, e até mesmo discutida em livros de psicologia para quem se interessar em procurar. A lógica é que quando você separa irmãos quando muito novos e eles se reencontram anos depois é possível que eles se vejam como homem e mulher, quando em casos em que ambos se conhecem a vida toda isso se torna mais difícil, do ponto de vista psicológico.
No fim é uma rota que merecia no mínimo 6 episódios e uma exploração mais profunda do psicológico dos personagens para ser algo realmente marcante. A irmã do protagonista (Sora) é mimada e um tanto quanto infantil, e isso contrasta um pouco com as outras heroínas mais maduras. A Sora amadurece um pouco em sua rota mas não o bastante para deixarmos de ver ela como uma criança mimada e temperamental. Faltou um desenvolvimento melhor da mesma do que ser a irmã tsundere nos arcos das outras heroínas e uma garota egoísta guiada pelo desejo em sua rota.
Cenas picantes (NSFW):
Bem, como o drama é meio sem sal (principalmente o das 2 primeiras rotas), quem acaba virando o destaque são as cenas de sexo picantes, que levaram alguns a classificarem o anime como um hentai softcore com história. Eu acho as cenas ok (não me ofendem ou coisa do tipo, além de serem curtas) e até admiro a coragem do diretor em decidir coloca-las – até 2015 é a única adaptação de VN para TV com as cenas 18+ inclusas de forma explicita.
Como os ângulos escolhidos nunca mostram as partes intimas não existe necessidade de censurar a cena, então acaba soando como um ecchi mais pesado, mas nunca agressivo o bastante para parecer um hentai – as cenas, embora tenha ao menos uma por episódio depois da metade do anime, duram muito pouco (uns 5 a 10 segundos) para o anime se vender como um hentai, então quem for assistir só por elas vai se frustrar (se dos totais de 300 minutos tem 5 min de ecchi é muito). Não que elas deixem de ser um choque para quem vai ver o anime sem saber de nada, ainda mais porque algumas dessas cenas aparecem quando você menos espera, e do modo que você menos espera (aquela cena do sexo na porta da rota final…..nunca mais vou esquecer aquilo).
Como esse anime foi o único a ir tão longe, as cenas eróticas, mesmo que curtas, acabaram virando seu diferencial. Mas tem mais do que isso nele, mesmo que não seja nem perto de tão bem trabalho ou interessante como poderia. Quem sempre quis ver um anime de incesto que leva a temática a sério e vai até o final com ela (sim, estou me referindo a aquele anime de incesto que engatou a marcha ré no final, Oreimo) Yosuga no Sora vai ser muito satisfatório. Mas para quem quer um drama pesado, com personagens bem trabalhados de personalidades marcantes, e um bom tempo para trabalhar o tema em questão (incesto), Yosuga vai ser só o gostinho do que poderia ter sido.
Para quem sempre quis ver um incesto de verdade ir até o final e cobrar suas consequências, é a sua chance. O anime tem seus problemas e nem mesmo é muito divertido de assistir, mas graças as coisas que tentou fazer de diferente acabou marcado como um “clássico dos animes incestuosos” (se é que isso existe….), o qual eu recomendaria assistirem apenas para ver como dá pra fazer uma adaptação de Visual Novel bem diferente do normal, colocando elementos que quase todas cortam. Seria um anime esquecível, mas que pela ousadia da direção e do tema vai se manter conhecido por muitos anos (ou até alguém tentar ir mais longe com um desenvolvimento melhor).
PS: Sobre a polêmica do incesto, eu não comentei nada porque não me importo. Penso que se duas pessoas se gostam ter o mesmo sangue ou laços familiares não faz a menor diferença. Que fiquem juntas e sejam felizes.