Review – Grisaia no Kajitsu, Meikyuu e Rakuen (Anime)
Drama, ação, suspense, horror, psicológico, comédia, tragédia, vida escolar e romance. Grisaia é uma obra quase impossível de classificar em um gênero, e dai sua facilidade de agradar a várias públicos. Mas será possível adaptar decentemente mais de 100 horas de jogo em um anime de 25 episódios? Vamos descobrir.
Grisaia conta a história de um estudante misterioso que ingressa em uma escola que tem apenas 5 garotas matriculadas. Com o tempo o passado trágico de cada uma das garotas, assim como o porque delas terem se isolado naquela escola vai sendo revelado, ao mesmo tempo em que se envolvem emocionalmente com o protagonista.
A segunda parte (ou temporada) do anime continua de onde a anterior parou, gastando sua primeira metade para contar a história (também trágica) do protagonista com sua mestre até o presente momento, e depois finalizando a história, com o protagonista tendo que acertar contas com o que restou de seu passado, auxiliado pelas heroínas.
O primeiro episódio de Grisaia faz um excelente trabalho em apresentar todos os personagens e lhes dar um ar de mistério. Desde o protagonista anormal, cheio de cicatrizes e comportamento satírico, parecendo que veio de um filme de ação de guerra ou agente secreto, a personagens femininas complexadas com seus passados. Tudo isso é apresentado muito bem no primeiro episódio, de forma a te deixar curioso para o que vem a seguir. O problema é que o que vem a seguir não é muito bom.
Estou usando imagens da VN porque o designer do anime e da VN é o mesmo cara, e as do anime tão em formato superwide. |
Os 3 primeiros episódios de Grisaia pós introdução servem para o protagonista se misturar ao ambiente e conhecer o básico das heroínas, em situações bem cômicas na maioria do tempo.
Passado a introdução começam os arcos, e aonde mora o principal problema de Grisaia: todos os 5 arcos são apresentados de forma bem mais rápida do que deveriam. É difícil comprar o drama de uma heroína trágica quando ele tenta contar sua história (que normalmente não é simples) e ter seu trauma resolvido em 1 ou 2 episódios. Mais ainda quando sua história parece ter vários furos ou coisas mal explicadas. As rotas comprimidas em 1 episódio são as piores, cheias de buracos e coisas que você vai precisar de suspensão de descrença bem elevada para engolir. As rotas de 2 episódios são passáveis, mas tem buracos e coisas muito mal explicadas também. A única que ganha 4 episódios acaba por ser a mais interessante, devido ao flashback ser longo e a situação dela lembrar um survival/horror, fácil de prender a atenção do telespectador. O tom meio exagerado dado ao final do flashback e a resolução do arco acabam tirando um pouco de seu peso no entanto, mas é de longe o melhorzinho de todos os apresentados.
Passada uma primeira parte fraca, vem a segunda, em mais 1 episódio de 40 minutos e outros 10 de 20 min que o seguem. É hora de apresentar a “última heroína”, o protagonista, que tem de longe a história mais interessante e bem contada de todos os personagens. Metade da segunda temporada é a história de Yuuji desde que ele nasceu: um amontoado absurdo de tragédia que quase chega a ficar meio trash no primeiro episódio, mas consegue se acertar nos episódios seguintes quando ele é resgatado por sua futura guardiã.
A história dele com a Sensei, de como ele vai mudando a partir das tentativas dela de tentar ajuda-lo a superar seu passado e redireciona-lo na vida é a melhor parte de todo o anime. Tem sempre bastante coisa acontecendo todo episódio, mas é na medida certa, sem ir rápido ou lento demais, diferente da primeira temporada. É bem legal ver como aquele protagonista estranho que você encontrou na primeira parte do anime se tornou do jeito que é, desde seus treinos militares a sua “intimidade” com o corpo feminino, em cenas com sua irmã (Yosuga no sora fellings….) e a sua Sensei que vão deixar muitos de queixo caído.
O passado do protagonista é bem movimentado, mas o que se segue depois dele, que é a continuação da primeira parte do anime, tem ainda mais ação. A entrada das heroínas da primeira temporada na história para ajudar o protagonista soa meio estranha (a loira fazendo graça em cenas sérias principalmente), e algumas coisas do enredo parecem tiradas de uma fanfic meia-boca, mas ao menos quase tudo ali é explicado, por mais que você precise da suspensão de descrença que deixou lá atrás nos arcos das heroínas, para conseguir aceitar várias coisas. O que eu gostei dessa parte não foi necessariamente a qualidade do roteiro, mas sim o tempo bem distribuído (não parece corrido como a primeira parte) e de como em poucos episódios a história consegue unir todos os personagens apresentados até ali e dar papeis importantes para eles na resolução da enredo.
O climax final cheio de ação também consegue ser forte e te deixar com frio na barriga sobre o que vai acontecer com o protagonista. Acho muito legal como ele é apresentado como um personagem forte (badass) mas a história faz questão de dar desafios que ele não consegue lidar com facilidade – algo que vários animes se perdem fazendo e por consequência estragam todos os seus embates com o protagonista vencendo todo mundo como não fosse nada, independente de quanto o outro lado pareça forte. Em Grisaia isso é muito bem balanceado, de forma que não dá para prever o que vai acontecer na luta final.
Foi uma obra interessante, com um começo forte, um desenvolvimento de heroínas fraco, uma redenção na segunda parte e uma conclusão climática que deve deixar a maioria satisfeito com tudo que viu. Analisando parte a parte a obra tem muitos problemas, mas como um todo se sai um bom entretenimento, com ao menos uma história interessante e bem contada na segunda parte.
Grisaia vale a pena? Pra mim valeu. Se fosse só pela primeira parte eu diria que não. Mas a segunda temporada com a história do protagonista é legal, e a parte final tão divertida e movimentada que fica difícil não gostar dela e acabar esquecendo que a primeira parte foi mediana/fraca.
Extra para quem já viu o anime (não leia se não assistiu!):
Quem quer ver o desenvolvimento romântico (e 18+) do protagonista com as heroínas vai ter que ir atrás da Visual Novel, já que eles só desenvolvem o passado delas e a conexão inicial com o protagonistas (se apaixonam por ele) no anime, com a parte romântica e intima (sexo) sendo cortada em favor da segunda temporada fazer sentido, já que ela tem um final “mais abrangente” (harém). É meio estranho, mas a última Visual Novel (Meykyu) ignora o final das rotas da primeira Visual Novel (Kajitsu) e parte apenas do ponto em que todas estão apaixonadas pelo protagonista, mas ele não escolheu nenhuma delas ainda. É praticamente uma realidade alternativa.
PS: Comentários e imagens extra para quem viu o anime (tem o spoiler do final) ->