Impressões semanais: Re:Zero #18
Uma Capa de Rem e Fandangos. |
Re:Zero kara Hajimeru Isekai Seikatsu episódio 18
O que é o amor? Talvez seja, entre a infindável miríade de sentimentos quais somos propensos inevitavelmente, o mais inexplicável e flexível de todos. Não há uma fórmula ou uma situação onde seja esperado. É espontâneo, irracional e poderoso. Também ambíguo, pois não podemos definir jamais se é majoritariamente prejudicial ou benéfico. As duas possibilidades são prováveis, indo de acordo com o contexto, o alcance da paixão e o caráter e lucidez dos envolvidos. Neste décimo oitavo capítulo de Re, o que vimos foi exatamente isso. A ambivalência do amor, e em várias camadas de existência, não se limitando ao clichê romântico heterossexual.
Primeiramente, há o amor de Pack Van Damme, capaz de transformar um afável bichano voador em um temível monstrengo capaz de destruir o mundo e dizimar uma quantidade incomensurável de vidas apenas pela partida de sua amada.
Há o egocentrismo próprio, mas não o que nos permite manter a dignidade e a estima perante outros, e sim aquele que confunde-se com covardia e soberba, e é esse que Subaru sente por si mesmo, responsável pelas tantas atitudes deploráveis tomadas pelo protagonista ao longo dos últimos episódios, causadoras de tantas rixas entre a nação otaku. E como tenho dito repetidamente, o maior erro de Barusu não eram suas ações, e sim sua teimosia e insistência em manter os equívocos, vida após vida, recusando-se a reconhecer a inutilidade e imbecilidade de suas atitudes. Inflado pelo ego de tentar provar seu próprio valor, mesmo sabendo não ter nenhuma virtuose cabível aos assuntos em que tentaste se provar.
E o maior passo para a redenção é, de modo curto, grosso e genérico, reconhecer suas falhas. E finalmente Subaru o fez, porém, com intenções nada honráveis. É notável, histórico um autor ter ousadia e culhões de escrever um texto tão expositivo e revelador sobre um suposto “herói” de ação. Um texto onde o mesmo admite seus quase-infinitos podres. Sua improficuidade, impotência, covardice, e o que mais me agradou, assumir a imensa arrogância que demonstrou por tentar, resolutamente, arriscar o que é incapaz de realizar, prejudicando a tudo e todos por sua cegues moral.
Uma autoavaliação admirável. Entretanto, é válido lembrar que Subaru não se abriu por consciência própria ou remissão, e sim por desespero após a recusa de Rem a fugir consigo, quando o mesmo mostrou-se inábil de entender como a cabelos azuis o tinha em tamanha estima. Essa atitude não passa de uma continuidade de seus pútridos costumes, já que iria, novamente, afetar e danar outra vida em prol da sua, o que é ainda mais alarmante tendo em vista ser alguém que o mesmo não amava, o que a condenaria a uma vida de arrependimento e melancolia.
Nesses aspectos, qualquer relação com Shinji é válida. E leiam bem, falo relação por pequenas semelhanças, pois comparar a complexidade dos personagens e o sistema onde se inserem é um absurdo que apenas diminui a qualidade de Re, que é um excelente anime, mas não é Evangelion (aquele momento que você tá revisando o texto da pessoa e do nada elogiam o anime que você mais odeia na vida…..se eu fosse o Subaru teria editado -.- | by Marco), e felizmente, não tenta ser. O que automaticamente causa a associação entre os dois é justamente a raridade de vermos animes considerados de ação em oferecer protagonistas frágeis, corruptos, egoístas e com incontáveis nuances. Ele não é alguém benevolente e heroico, nem um egocêntrico atroz, pois como dizia Sirius Black, o mundo não se divide entre “gente boa e Comensais da Morte”.
É essa desconstrução do estereótipo que traça o paralelo entre ambos, e qualquer comparação deve cessar aí. A complexidade de background em Shinji é muito maior, assim como seus questionamentos internos são frutos de um roteiro minimamente calculado para incluí-los. Um jovem forçado em sua situação. Subaru ainda possui um passado vago e inexplicado, e isso é uma lacuna presente em sua personalidade que nos impede de inferir definidamente seu caráter. O que sabemos é que após uma vida de nadas, ele tentou, bruscamente, ser o tudo, como se absorvesse as qualidades necessárias por Osmose, e aí, incrédulo com sua incompetência, adentrou o mar da loucura, atraindo uma compreensível ojeriza alheia.
E então, quando Barusu se preparava para atravessar indelevelmente o caminho da imperdoabilidade, o amor surge em voga novamente, nas palavras de Rem, onde mais uma vez somos surpreendidos e estasiados com as tantas significações além de uma simples palavra. Rem está apaixonada por Subaru, e isso se deve a mérito do mesmo. Todas as alegações quais a demônio buscou remediar no estraçalhado interior de Subaru, ao afirma a importância e virtudes do mesmo para com ela, são verdades, porém, não apagam as ainda mais verídicas palavras proferidas por Subaru sobre si mesmo. São ambos relevantes e factíveis, pois somos como o amor, ininteligíveis e singulares, porém não unidimensionais. É Rem que fornece um último sopro de esperanças de Barusu, ao lembrar que o mesmo é, sim, capaz de bondade, conquanto saiba seus limites, e finalmente o garoto os fez, ao pedir ajuda da empregada fetiche, ao mesmo tempo em que enterrava o ingênuo ship alheio.
Nagatsuki Tappei se mostrou um escritor sensato e em extremo controle da história que queria contar sobre Barusu, até aqui. Agora entra um novo desafio, pois ele abre um novo leque de possibilidades para a condução da trama. Que mantenha a eficácia.
#TeamPuck