Koe no Katachi – Uma Voz Silenciosa que Alcança o Coração

985dc8796c930c13f41ea6e27ab1eac2-horz

Uma obra sobre arrependimentos e redenção

Aviso: O TEXTO CONTÉM SPOILERS LEVES DA OBRA.

Autor: Yoshitoki Oima

Volumes: 7

Status: Completo

Gênero: Shounen, romance, drama, slice of life, vida escolar

Sinopse: “Quando era mais novo, Shoya Ishida liderou sua classe em um bullying a uma garota surda. Mas não durou muito e a classe trocou de alvo, da garota para ele. Após ser isolado e entender o que a garota passou, ele começou a sentir uma forte culpa por tudo que fez. Anos depois, ele deseja poder encontrar a garota novamente.”(Roubei a sinopse do Marco porque estava tenso achar uma decente :V)

Análise:

Koe no Katachi é uma história sobre arrependimentos, redenção e amadurecimento, mas principalmente sobre a compreensão e aceitação do próximo e suas diferenças. Além disso, é uma das poucas obras que eu li, que têm como protagonista uma deficiente auditiva.

Em seus primeiros capítulos o mangá já aborda o bullying e suas consequências, com as figuras principais de Shoya e Shouko. Inicialmente os eventos são narrados principalmente na visão de Shoya, o protagonista masculino, sendo interessante a autora optar pelo ponto de vista dele.

A maioria das obras com essa temática costumam escolher a narrativa pelo ponto de vista de quem sofre a agressão, não do agressor. Contudo, mesmo tendo o ponto de vista do jovem como base, a autora também consegue focar nas várias personagens que vai desenvolvendo ao longo da história.

koe-no-katachi-4554813koe-no-katachi-4554687koe-no-katachi-4553237

Quem não quis socar o Shoya, que atire a primeira pedra.

O mangá também não aborda o bullying de forma banal. Ele não é um elemento citado no começo, mas esquecido no meio do enredo. As ações tomadas pelas personagens no passado ainda repercutem no presente.

Um exemplo é o trauma, vergonha e medo de Shoya, que o tornam uma pessoa depressiva e que se isola de todos a sua volta, chegando ao ponto de pensar em suicidar-se.

A história também repassa de forma eficiente as dificuldades de aceitação e adaptação de pessoas deficientes na sociedade, aspecto que pode ser observado no modo como os colegas de Shouko reagem à sua surdez e a forma que ela é tratada, como um fardo por seus professores do primário.

Shoya também sofre um amadurecimento progressivo em seu caráter como ser humano. Este desenvolvimento já se inicia nos primeiros capítulos do mangá quando Shouko é transferida e o garoto passa a ter uma percepção diferente da que possuía no começo.

Enquanto Shouko, a protagonista feminina, não se comunica com o leitor através de diálogos diretos, mas transmite seus sentimentos através de expressões  faciais, olhar e linguagem de sinais, recursos que são bem explorados pela mangaká.

Ela também possui conflitos internos que são muitas vezes disfarçados com seu sorriso de fachada. Na segunda parte da obra podemos perceber as consequências de sua não aceitação e visão de que ela era um problema, em seu aspecto psicológico.

koe-no-katachi-4555073 koe-no-katachi-4555105 koe-no-katachi-4765425

A linguagem de sinais é um recurso bem utilizado no mangá

O relacionamento dos protagonistas é bonito, elegante e delicado. Contudo, embora tornem-se figuras importantes um para o outro, a comunicação entre os dois é cheia de “ruídos”, que são “sanados” no final da história, com ambos compreendendo a voz um do outro.

As personagens secundárias também são interessantes por serem realmente diferentes umas das outras, tendo até um personagem que contrasta com o protagonista porque era seu exato oposto no primário. Mas a visão delas é mais abordada na segunda parte da obra.

A arte do mangá não é surpreendente. Gosto mais do traço de mangakás como Adachitoka (Noragami) e ‎Io Sakisaka (Ao Haru Ride), mas não é um traço ruim, é apenas um traço mais simples e rústico, sendo que prefiro os mais modernos e detalhados. Basicamente é uma arte agradável de ler e que satisfaz o leitor, mas nada além disso.

No entanto, apesar de gostar da obra, não posso dizer que ela é perfeita. A história tem alguns aspectos que não me agradaram tanto.

O romance, inserido com descuido entre os protagonistas, não é trabalhado de forma satisfatória. Mesmo o romance não sendo o foco da obra, após inseri-lo, é dever do autor desenvolvê-lo para os leitores. Mas no caso de Koe no Katachi, Yoshitoki, deixou sua conclusão muito subjetiva.

Se ela não quisesse desenvolver romance na obra, não deveria colocar tantos indicativos dele no enredo, como o capitulo de confissão de Shouko e as indiretas da irmã da personagem.

Além disso, achei o artifício para a resolução dos problemas inseridos na segunda parte, um tanto que forçado. Os personagens secundários também são um pouco esquecidos no capitulo final. O que para mim torna-se uma falha no enredo.

[showhide type=”1″ more_text=”Clique aqui para ler o spoiler” ]

koe-no-katachi-5022431koe-no-katachi-5022435koe-no-katachi-5021049

A tentativa de suicídio realmente era o único caminho a ser tomado?

Nagatsuka continua com os planos de ser cineasta? Machiba vai seguir com o plano de ser professor? A autora cria essas perguntas no meio da narrativa, mas não dá as respostas para resolvê-las.

O dramalhão no hospital também não me agradou. Precisava de toda aquela cena para que Ueno e Shouko transmitissem seus sentimentos? Também precisava de uma tentativa de suicídio para os problemas serem trabalhados e resolvidos de forma conclusiva? São alguns pontos que fiquei ponderando na segunda parte da obra. [/showhide]

Conclusão:

Eu achei a obra muito bonita e a recomendo sem medo. Contudo, ela tem falhas e peca na segunda parte, principalmente com o final, que é satisfatório, mas bem mediano. Também gostaria que a autora tivesse desenvolvido o romance entre os protagonistas e não o deixasse tão subjetivo. Também queria um desfecho adequado para as personagens secundárias.

Lembrete: A obra terá um filme adaptado pela Kyoto Animation, com o qual espero que os problemas citados sejam sanados.

Curiosidade: A LIBRAS é a segunda língua oficial do Brasil. Se o governo brasileiro realmente se interessasse por políticas de inclusão e ensinasse a língua nas escolas públicas, todos seríamos bilíngues.

[yasr_overall_rating]

Sirlene Moraes

Apenas uma amante da cultura japonesa e apreciadora de uma boa xícara de café e livros.