Impressões semanais: Re: Zero #23

“Nem tudo é o que parece” é um chavão clássico, mas assim como muitos dos que recebem esta depreciativa alcunha, não deixa de ser verdade. Acima de tudo, sua abrangência é universal: à garota com busto avantajado e rostinho fetiche nerd, mas que na verdade adora uma um canibalismo acompanhado de carnificina (Kaneki feelings), e até um livro de nome/capa bisonho(a) que esconde um rico conteúdo.

E em sua vigésima terceira parte, Re brincou exatamente com esse famigerada aforismo (máxima ou sentença que, em poucas palavras, explicita regra ou princípio de alcance moral; apotegma, ditado.). Primeiro há Julius, com seu visual arrogante e prepotente, características corroboradas pelas ações tomadas pelo mesmo em épocas de insanidade de nosso protagonista, porém, que agora revelou a grandiosa dimensão do quão útil e poderoso é. Não apenas uma pessoa de mente lúcida e hábil manejo da espada ( ͡° ͜ʖ ͡°), como também um ser com habilidades espirituais. É um verdadeiro nobre ultra-poderoso e muito necessário de se ter ao seu lado em momentos inoportunos.

E é divertido notar como a estética de seu poder – os globos fosforescentes – fazem uma ligação com o capítulo anterior, onde vemos um pequeno brilho passar por Subaru, um pouco antes dos créditos subirem.

Falar do quão enganadora é a aparência de Felix seria redundante, mas é válido comentar a perspicácia do mesmo ao descobrir o “dedo” infiltrado entre os habitantes da vila, e é importante notar o contraste de sua expressão facial e corporal na cena em que derrota o vilão, que esbanja confiança e orgulho, com o acontecimento final, onde teve de executar um golpe em Subaru, e aparece aos prantos. É uma nova faceta do personagem, e intensifica ainda mais a respectiva cena.

O próprio clima de Re é “falso”, no sentido de mutabilidade. O início é animador, otimista e cômico, com uma nostálgica e divertida conversação entre Barusu e Ram, de quem tanto sentia saudade. O mal-entendido que gerou o encontro de ambos serviu basicamente apenas como desculpa para utilizar a demônio após tanto tempo, mas é um artifício justo. Da trilha sonora à fotografia, todas as características visuais e sonoras que compõem a mise-en-scène (a composição dos quadros), nos momentos de jubilo, são iluminados e evocam positividade.

E é pessoalmente gratificante notar o esmero técnico da obra quando, a partir do momento da explosão que desacorda Barusu, a paleta de cores inverte-se para algo levemente fosco, sem a vida de antes. Uma alteração sutil e que alerta para os perigos que veremos em breve.

No entanto, as aparências podem enganar, e assim, mais uma vez, somos inundados com uma falsa felicidade momentânea, e ela se chama Emilia.

Lia tornou-se tão figurante, que é compreensível esquecer-se que se trata de um ser dotado de altas habilidades, algo que ela rapidamente nos lembra – e não apenas a nós, como principalmente a Subaru, que em sua obsessão romântica já mostrava-se pronto para ir em seu auxílio, até ser seguro por Felix – ao proferir esplêndidas pancadas certeiras.

Re surgiu como um anime que pareceria investir em um relacionamento entre Subaru e Emilia, o que acabou não concretizando-se (pois as aparências enganam, dã). Entretanto, é nítido que ambos sentem algo mútuo. Ele, a ama a ponto de aceitar ser chamado de cachorro. Já Lia exibe isso de maneira mais emocional, enquanto as lágrimas vertem como uma cachoeira de suas órbitas oculares, ao avistá-lo após tantas noites.

O reencontro, porém, não teve nada de satisfatório, pois Petelgeuse ainda perdura nas trevas, com seu temível dom de possuir corpos. Sua morte fora obviamente fraca, e ver o mesmo assumir o franzino corpanzil do garoto gera uma passagem curta, mas sinistra, com toda a malevolência exalando dos poros como um louco completo, e o fim provocado pela digna atitude de Subaru promete mais duas semanas que serão, no mínimo, imprevisíveis.

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