Review – Orange (Anime)
Quando anunciaram o mangá de Orange, me prontifiquei, imediatamente, a avisar o Marco de que gostaria de ser o encarregado de resenhar a obra, isso meses antes da estreia. Minha expectativa, como fã da obra de Takano Ichigo, era ter as emoções transportadas de mídia, com o acréscimo que o audiovisual proporciona. Após treze semanas, minha conclusão, no entanto, foi um tanto diferente.
Se a staff envolvida sempre despertou desconfiança, o primeiro episódio já tratou de baixar o hype para quem valoriza demais a parte técnica; não apenas a fluidez era escassa, como os traços demonstravam uma inconsistência tremenda, assustadora.
Porém, por ser um Shoujo, cuja trama envolve mais o micro do que o macro, o íntimo, uma boa história seria o suficiente para relevar, em partes, a tosquice da animação. Só que nisso, Orange também pecou.
Um universo escolar padrão do gênero, um amálgama limitado de personagens e um objetivo em comum para salvar um respectivo sujeito. Com este mote, o anime atravessou altos e baixos, onde, infelizmente, o barranco terminou em decadência.
Em âmbito de desenvolvimento, a construção dos habitantes da diegese fora exemplar; Naho e Kakeru, os protagonistas, não saíram os mesmos de quando entraram. Ela adquiriu mais autonomia, eloquência e valentia, enquanto Kakeru finalmente recebeu algo por qual sua vida se justifica, ainda que após muitos solavancos.
E para isso, Suwa e os outros serviram apenas de estepe. Porém, diferente do mangá, Hagita e o próprio Suwa, por exemplo, tiveram um destaque maior e atraíram uma inesperada empatia, o que ajudou a carregar semanalmente a trama, sem estarmos presos ao relacionamento estacionado e angustiante entre os pombinhos centrais, cuja teimosia e incapacidade de expressão, frequentemente, flertavam com o irritante.
Para os que se descontentaram pelo pouco romance, não há justificativa nem deve-se buscar uma explicação para defender o anime, pois sempre fora claro que o núcleo de tudo é a amizade. O objetivo da carta era salvar Kakeru, não lhe arranjar uma namorada. As respostas, a necessidade de Kakeru sentir-se incluído, coisas advindas de uma boa amistosidade. Sem o todo, não há o indivíduo. Distúrbios de personalidade à parte, já é comprovada nossa necessidade por relações, como vários teóricos dissertaram, dos quais destaco Erich Fromm.
E em termos psicológicos, Orange abordou uma desconstrução interna do menino de de forma competente e extrema. Muitos podem desaprovar, mas com habilidade de empatia e sensibilidade, assim com a identificação com quem enfrentou algo semelhante, é sim algo palpável e crível.
Kakeru viveu o inferno como poucos algum dia vislumbrarão, e se não bastasse isso, os princípios japoneses da integridade mental e valorização da aparência, do externo, corroboraram para o definhar interno do sujeito. Crítica social consciente ou não, são fatores a se considerar, já que falamos de um produto do entretenimento da terra de Godzilla, e apenas ao encontrar apoio e externar seus enfermos, é que o conforto o atinge.
O principal mérito de Ichigo aqui se deve a forma como realizou todo esse debate sem apelar para o melodrama, choros exagerados e berros, assim como o anime não extrapolou na trilha sonora, confiante que os sentimentos do público seriam engatilhados inerentemente pelo conteúdo do que assistiam.
É angustiante, então, que uma obra comprometida em evitar clichês e resoluções manhosas, tenha sucumbido em sua tentativa de conciliar todas as tramas. Outro “furo” se deve a uma questão primordial envolvendo algo que meche com viagem no tempo: se esta é possível?! Orange nunca apresenta uma resposta conclusiva e convincente para essa pergunta. Pessoalmente não me incomoda, visto não ser o tema central, assim como em About Time, onde uma família tem o dom de voltar ao passado ao se isolar da sociedade, sem nenhum porquê disto. Porém, é entendível quem exigia algo coerente.
Entretanto, a fraqueza maior do texto reside justamente nas realidades paralelas apresentadas. Suwa e Naho terem terminado junto se deve, interpretamos, ao perecer de Kakeru. O que sentiam um pelo outro não era mútuo, mas ninguém vive isolado por uma desilusão com o primeiro amor. Com certeza as dores foram grandes, já que mesmo após 10 anos, é o arrependimento que os levou a enviar cartas para o passado, só que a insistência em dialogar sobre esse tema sem uma ideia de como saná-lo deixou o terreno apenas irregular e superficial.
O que é o diálogo onde Naho assume, em frente a Kakeru, que gostaria de estar casada com Suwa em algum mundo? E a cena no carro onde Suwa assume estar junto de sua amada apenas pela ausência de outro homem, acompanhado pela passividade e silenciosa concordância de Naho?! São questões em aberto e absurdas que colocam em cheque a virtude dos personagens, e como Orange se baseia neles, sua estrutura é altamente avariada.
Então, para complementar minha colocação no parágrafo que abre esta resenha, ao sair de Orange, minha conclusão é, apenas, que o meu eu de anos atrás, quando leu o mangá, era ingênuo demais para reparar tais incongruências, ou então emotivo demais. Isso é irrelevante, pois o Carlos de agora, infelizmente, não pode considerar Orange um grande êxito.
Direção: 8
Roteiro: 6
Animação: 4
Trilha Sonora: 9
Entretenimento: 6
Envolvimento Emocional: 6
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E você, que nota daria para a obra como um todo?
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E a próxima temporada?
Para os que me adoram e me odeiam, afirmo que continuarei como redator semanal (a não ser que o Marco me chute após a próxima segunda). Não vejo trailers, baseando o que irei assistir apenas por sinopses e staff. Assim, iniciarei a conferir 3-gatus no Lion, Udon no Kuni, Girlish Number e Occultic Nine, além das segundas temporadas de Stray Dogs e Ajin. Resenharei o que mais me agradar nos primeiros episódios.
Nos vemos lá (ou não).