Primeiras Impressões: Sangatsu no Lion #01
Chegou a manhã. O garoto acorda. Sua primeira visão, após um pesadelo corriqueiro, é sua diáfana imagem refletida na porta da sacada, incompleta e ávida por sumir. Ao redor, as sombras que tornam a luz do sol impenetrável obscurecem um ambiente infértil, vazio e sem vida, o reflexo interior de quem o habita.
Kiriyama Rei, o protagonista, protela suas primeiras palavras para o nono minuto, em um som quase inaudível, como se cada sílaba exigisse um hercúleo esforço.
No metrô, é aquele que se isola à saída, de costas para seus iguais pela posição do enquadramento, enquanto na sala de aula, cativa o último assento da última fileira, justamente o menos almejado e visto, como se fosse um elemento insignificante ansioso para desaparecer por esquecimento coletivo.
A princípio, este é o cotidiano desesperador e internamente opressivo vivido pelo garoto, cuja personalidade é desdobrada por simbolismos (a frequente presença de água, que o afunda e afoga em pesares), sendo diálogos não necessários para expor sua sensação. A razão pelo viver parece ter se perdido há tempos; o passado guarda lembranças distorcidas e sinistras, que o impedem de seguir em frente, em pequenos flashbacks exibidos na partida de Shogi e no jantar.
Na porta ao lado, como se habitassem em um universo amplamente diferente, residem três irmãs com seu trabalhador avô. A identidade visual da casa, em ótimo trabalho do design de produção, denota um espectro emocional em extrema dissonância a Rei: cores vivas, bagunça, cacofonia, iluminação forte, alegria (com direito a divertidíssimos monólogos felinos) – a síntese da vida como semiótica, em contraste com a moribundez interna do rapaz.
Apesar da reclusão e aparente negação do sujeito, a insistência das meninas representa, ainda, seu único ponto de apoio e contato externo não forçado, a única chance de emergir do fundo de suas tristezas, nem que seja por ínfimos momentos.
Assim, de forma minimalista, simbólica e delicada, iniciou a primeira das 23 semanas que adaptarão a obra de Umino Chika. Até e para onde a estrada nos levará é uma incógnita, mas se a primeira impressão é a que fica, esta foi ótima.
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