Sangatsu no Lion #11 – Impressões Semanais

Há uma rápida passagem durante esta décima primeira parte de Sangatsu onde Rei pensa “em minha solidão, esqueci a solidão dos outros”. Por mais que possa ser considerado algo egoísta – o que ele mesmo confirma -, não é um egoísmo cruel, intencional e visando o mal. É apenas a reação natural de alguém que passou por infortúnios pesados em sua curta existência, cicatrizes que ainda coçam no presente.

E o que inicialmente dava a aparência de ser um capítulo mais íntimo, depressivo, onírico e metafísico, porém, abraçou o ambiente otimista das festas de final de ano para dar uma nova visão de realidade tanto ao protagonista quanto aos espectadores.

E é só ao rever as irmãs Kawamoto que percebe-se a falta que elas fizeram nas últimas semanas. Do quarto fechado e sombrio do rapaz, que por si só emana uma áurea moribunda e mórbida, rever a aconchegante e apertada casa que as três dividem com seu avô é um alento, um genuíno prazer. Tanto para nós, quanto para o garoto, que avança mais uma etapa para fugir de sua sofrência constante ao perceber o quão importante ele é pra um grupo tímido, mas leal de pessoas – Totoro, seu pai, as supracitadas garotas e sugiro até dizer sua meia-irmã loira. Pode parecer óbvio para quem acompanha a obra desde o início, mas é assim que a personalidade de Rei desenvolve-se naturalmente com o andamento da trama. Tudo reforça o quão fundo ele chegou em aspectos psicológicos.

E não haveria local melhor que a colorida, estreita e multi-mobilhada residência de suas amigas para elevar o ânimo em uma data que simboliza historicamente positiva e que deve aspirar esperança, recomeço e alegria.

Porém, Sangatsu também não é ingênuo de esquecer sua natureza. E é ao trabalhar no que há de bom que decifra-se camadas mais internas e escuras das figuras que habitam a animação; por mais sorridentes e ardorosas que sejam as meninas, sempre há portas passadas ou mais atuais do que se imagina para levar a quartos onde a luz não mais toca; a perda da mãe, da avó, a situação misteriosa do pai. E aí, novamente, destaca-se a importância de Rei, em uma inesperada situação de pilar emocional para manter a integridade de Akari.

“Não haveria luz se não houvessem trevas”, disse Horácio Slughorn, em mais um inspirado pensamento de J.K. Rowling. Está certíssima. Por mais preto no branco que pareça, não há argumento contrário a isso. E nada melhor para deixar prevalecer a luz do que boa companhia, conversas agradáveis e um ambiente revigorante.

Ao seu final, por mais que se passe no ano novo, a sensação é exatamente a que o Natal transmite em uma visão estereotipada: como um grande e caloroso abraço naqueles que você ama.

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#Extras

Carlos Dalla Corte

Curto 6 coisas: animes, cinema, escrever, k-pop, ler e reclamar. Juntei todas e criei um blog.