Kuzu no Honkai #02 – Impressões Semanais
Muito se diz da regra dos três episódios para se definir a atmosfera predominante de uma obra. Em suma, se ela não lhe agradar até lá, melhor dropar para prevenir horas de estresse gratuito ou simplesmente poupar nosso precioso tempo. Kuzu ainda está em sua segunda parte, mas nesta segunda ela abrangeu uma gama de possibilidades narrativas que conflui para uma única estrada e várias paradas em que o autor parece disposto a brincar e debater com o espectador.
Explico: como disse na review da semana passada e como o título deixa explícito – “O Desejo da Escória -, Kuzu não será uma obra botinha e kawaii, moralmente rudimentar onde o bem predomina e o patriarcado é aceito por tudo e todos. Uma visão cínica e pessimista de nossas mais indolentes e incontroláveis cobiças, mesmo sujas. Essa interpretação já parece precisa.
Com esta premissa impregnada na mente, a nova personagem loli me pareceu, é claro, uma grande paródia do estereótipo shoujo de romance. Uma princesa imbecil e ingênua já influenciada pela visão Disney do sonho feminino de encontrar seu parceiro ideal e lutar por ele não como quem és, mas sim idealizar-se na idealização de outrem. Confuso? Repito: moldar sua personalidade de acordo com o que pede a sociedade para agradar alguém que você, como membro da sociedade, idealiza em comportamento. Algo destinado ao fracasso quando ambos perceberem a falsidade que convivem e nutriram com o tempo.
Logo, as atitudes birrentas, cartunescas e genéricas da menina, que parece saída diretamente de um anime com faixa-etária danoninho, soam como uma grande piada do responsável.
E ela não deixa, entretanto, de ser um símbolo da grande discussão por trás do tema do capítulo: o que te leva a apaixonar-se? As qualidades da pessoa, atitudes ou a aparência? Relativo, obviamente. Porém, não negamos, um rostinho esbelto ajuda muito. Não fosse isso, nerds seriam tendência há séculos, não desde a popularização de hipsters via internet. Nem é preciso aprofundar-se em teóricos e filósofos para achar uma citação. Selena Gomez – ela mesma – resume bem isso tudo em seu single “The Heart Wants What It Wants “: “Há um milhão de motivos para que eu te abandone, mas o coração quer o que ele quer”.
Sabemos que quem lida com isso é o cérebro, mas ok, aceitamos a romantização de nosso órgão bombeador. E esse debate leva, então, novamente para um visão pessimista de Kuzu – amores incorrespondidos e a satisfação sexual para mascarar a fragilidade psicológica. Várias das figuras apresentadas até agora, da mais visualmente impecável à supracitada loli, possuem algum crush cuja atenção é unilateral. Situação essa que já levou ao nosso casal principal abdicar de protocolos sociais para suprirem sua carência emocional com a vulgaridade do sexo sem compromisso. Como disse o sábio Yhan: “um disfarce perigoso pois por trás disso há apenas uma agenda cheia de relações vazias!”.
E seria isso mesmo? Surpreendentemente, algumas cenas foram enfáticas em mostrar a dupla principal a desfrutar momentos tipicamente amistosos – com direito à abertura de Naruto no karaokê – e, então, introspecções que poderiam sugerir algum apego emocional além do esperado. É um certo clichê do gênero amizade colorida aproximar os indivíduos para então completarem um ao outro.
Mas será essa a ideia aqui? A cena final sugere algo diferente, que não me arrisco a dizer aonde vai dar por enquanto – porém, aposto ter resoluções longe do previsível/aceitável.
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Nota do editor: Tomei a liberdade de alterar bastante o parágrafo final, que considerei subjetivo até demais. Tenho como padrão querer que os redatores facilitem a vida do leitor no entendimento pleno do texto, não complica-la. Como considerei que a mesma coisa poderia ser dita de forma bem mais simples (como coloquei acima), alterei. Mas fica a versão original que o Carlos escreveu abaixo. Como eu queria alterações e ele manter achei essa a opção mais viável. Com 2 versões.
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Mas será essa a ideia aqui? A cena final, numa torrente de acontecimentos e abordagens, joga um novo parêntese nesse amálgama de frustrações e sentimentos que cheiram como espírito adolescente. Parêntese esse que ainda não me arrisco a fechar – porém, aposto ter resoluções longe do previsível/aceitável.
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E qual sua nota, leitor(a)?
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