Kuzu no Honkai – O Desejo da Escória | Primeiras Impressões
Há, de obras à teorias, fontes que discutem a necessidade de nossa espécie em relacionar-se para sentir-se completa – principal tema de Evangelion. A desconsiderar anomalias psicológicas, não nega-se, por mais antissocial que sejas – e eu sou -, que manter, ao menos, um pequeno círculo de companheiros, amistosos e/ou sexuais envolvidos aí, é um fator beneficial. Nos estimula cognitivamente, amplia gamas sociais, conhecimentos, libera neurotransmissores do prazer e , em síntese, nos dá um senso de pertencimento. O contrário também é válido, o que a faz um mecanismo relevante de limitação, mas como nem tudo é preto no branco, se faz imprescindível em nossa existência na terra.
Além de tudo isso, também há quem julgue o sexo como força incontrolável da natureza – a nossa -, e novamente, anomalias e traumas à parte ou qualquer que seja o ocorrido que leve a alguém a viver em celibato, é seguro dizer que a maioria dominante do nosso globo já experimentou tal situação e experimentará novamente (sugiro o recente filme “A Criada/The Handmaiden” sobre o assunto).
E então, entramos no universo de Kuzu no Honkai (em inglês “Scum’s Wish”, tradução livre para “O Desejo da Escória”), que leva o escória do nome mais por percepção social do tema do que por definição certeira em si. Sim, percepção social, pois a nossos olhos e doutrinas, mesmo o mais liberal notará alguma incongruência no que tange o desejo romântico envolvendo familiares. E ai de mim dizer o contrário. Preservamos aparências e qualquer fetiche do tipo fica melhor escondido sob panos – porém, o sucesso de obras do gênero, de mangás a Game of Thrones, não me deixam mentir na existência do desejo em quantidade talvez maior do que sugere sua representação “suja”.
E digressões à parte, o mundo de Kuzu, o mundo dos escórias morais, reflete o estado de espírito de seus personagens, que parecem ter noção do que são a olhares alheios, mas não conseguem apenas a isso conter o que lhes move. “Vergonha não é o suficiente para nos impedir de fazer algo” diz uma determinada personagem no francês “Elle”, vencedor do Globo de Ouro de melhor película estrangeira neste mesmo ano. Concordo. E os personagens de Kuzu no Honkai, que parecem produtos da mente de Inio Asano (ler Umibe no Onnanoko, que aborda apenas um dos temas discutidos aqui, qual não revelarei para preservá-los do spoiler) são exemplos eficazes desta afirmação.
Reparem que, por trás dos belos characters designs, Hanabi a Mugi, justamente os responsáveis por nos introduzir à escória, possuem um olhar vazio e isento de sentimentos, entregues ao prazer carnal como transferência de desejo entre si, frequentemente envoltos e sombras, como se quisessem esconder seus pensamentos e ações. Ninguém ali se quer, ambos anseiam por reproduzir o ato com outras pessoas, mas a ardência e a impaciência para conseguir o que almejam, assim como a aparente impossibilidade para tal, parece provocar, validar o coito “amigo”, um simples artifício para satisfazer o prazer inalcançável. É o sexo como força natural, não fruto de um amor romântico.
É o sexo da escória, e então, cedo ou tarde, todos se descobrirão como escórias, de um jeito ou de outro, através de um contexto ou de outro. Pois, sempre haverá alguém cujos princípios condenam o que você pratica/tenciona. Logo, quando isso vier a acontecer, bem-vindo à escória.
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E qual sua nota, leitor (a)?
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