Nioh – Um brutal e magnífico Dark Souls com Samurais | Review
Exclusivo de Playstation 4 da Team Ninja é magnífico, brutal e implacável.
Desenvolvedora: Team Ninja
Publicadoras: Koei Tecmo e Sony
Gênero: RPG/Ação
Data de Lançamento: 07 de fevereiro de 2017
Plataformas: Playstation 4
Tempo Médio da Campanha: 35 a 40 horas
Número Máximo de Jogadores: 02 em cooperativo e 04 em PvP
Existem alguns jogos que despertam nosso interesse assim que nos deparamos com eles, e para mim, Nioh foi um destes casos. As constantes comparações com a franquia Dark Souls pelo seu estilo de jogo, que alias é um dos meus favoritos, causou certa preocupação em ser apenas uma cópia barata e genérica de uma fórmula de sucesso. Mas assim que o jogamos, tais preocupações desaparecem.
De fato, a Team Ninja se inspirou bastante nas franquias de sucesso da From Software, com seu estilo de jogo punitivo e desafiador, mas Nioh possui vários elementos originais e ideias novas que agregaram muito bem a esta fórmula, dando-lhe identidade.
Já pelo enredo e seu modo de ser contado, o jogo se mostra diferente do que vemos em Dark Souls e Bloodborne. Aqui há várias cutscenes que tentam deixar toda a história bem explicada. Apesar de um pouco confusa no início, com vários nomes e informações jogadas de forma rápida, com o tempo se torna mais compreensível, bem como há a possibilidade de rever as cutscenes.
Para melhor compreender a história de Nioh, vale conhecer um pouco do contexto histórico em que se passa. Nioh é um jogo com muitos elementos de fantasia, mas que se baseia em um momento histórico real japonês, com personalidades reais de grande influência naquela época.
O jogo se passa quase inteiro no ano de 1600 DC, mas antes é interessante compreender um pouco o momento histórico pelo qual, na vida real, o Japão passava. No século 16, o Japão era um país dividido e dominado por diversos clãs, que estavam em constantes conflitos pelo poder, conflitos que se intensificaram com o contato com as armas trazidas pelo comércio com os Europeus. Esse período foi conhecido como Sengoku.
O clã Oda, liderados por Oda Nobunaga, com ideais de conquista e unificação do país, toma o poder em 1560. Seus métodos foram conhecidos como bastante violentos. Anos mais tarde, Nobunaga seria traído e forçado a cometer o seppuku (suicídio), por Akechi Mitsuhide, irritado pelas ações de Nobunaga terem levado à morte de sua mãe.
Após a morte de Oda Nobunaga, Mitsuhide logo foi morto por um outro aliado de Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi, que passou a comandar o Japão, implantando a medida que confiscaria as armas de todos, permitindo-as apenas para os samurais.
Essas constantes trocas de poder vinham dividindo os japoneses novamente, principalmente com discussões quanto à legitimidade da sucessão no poder. Quando Hideyoshi morre em 1598, deixando apenas um filho de 05 anos de idade, seus conselheiros deveriam cuidar da criança até que ela pudesse assumir o poder. Porém, Tokugawa Ieyasu, o mais rico e influente dos 05 conselheiros decide assumir o poder, apresentando um ideal de criar um Japão sem guerras, em paz.
Esses eventos desencadearam uma guerra civil no Japão, cominando na histórica batalha de sekigahara, em setembro de 1600, que deu início ao período Edo. Todos esses nomes estão presentes no game, alguns em forma de chefes, alguns como aliados, e outros apenas citados várias vezes. O jogo é quase todo construído com personagens históricos reais, incluindo o protagonista, baseado em um navegador inglês que se torna conselheiro de Ieyasu.
É nesse contexto histórico que o enredo do game se desenvolve, aplicando uma enorme quantidade de fantasia e mitologia a ele. O jogo se inicia com William, o protagonista, preso na torre de Londres por ter descoberto uma conspiração de usar a amrita, substância com poderes sobrenaturais, como uma arma em guerras.
William possui um espírito guardião, ser mágico com poderes sobrenaturais que só podem ser vistos por pessoas especiais e fortes, seguindo-os e os protegendo. Ao tentar fugir da prisão, William é surpreendido por Kelley, um alquimista que utiliza a amrita para transformar seres humanos em monstros Yokai, utilizando-os em guerras. Kelley sequestra o espírito guardião de William, que possui poderes de rastrear amrita.
Para recuperar seu espírito guardião, por quem possui forte apreço, William rastreia Kelley até o Japão, local rico em amrita. Ao chegar, depara-se com os intensos conflitos que vão assolando o país.
E nessa guerra civil japonesa não havia uma luta do bem contra o mal, não há claros heróis ou vilões, são senhores da guerra, ávidos por poder e que fariam qualquer coisa para completar seus objetivos, mas que, ainda assim possuíam belos ideais de paz e justiça. Isso mostra respeito com a personalidade e motivações reais dos personagens históricos, retratando muito bem o que é uma guerra.
É nesse cenário que o grande vilão e manipulador Kelley vê uma chance de completar seus nefastos objetivos, se aproveitando das emoções negativas para trazer mais Yokais à vida.
Logo após chegar ao Japão, William encontra-se com Hattori Hanzo, leal servo de Ieyasu, que pede ajuda para derrotar os Yokai, o que William aceita, inicialmente como meio de localizar Kelley.
Hanzo é mais um dos personagens reais a aparecer no jogo, sendo provavelmente o mais famoso, principalmente no ocidente, com diversas representações nas variadas mídias, de jogos a animes. Além de Hanzo, William, que fica apelidado de Anjin quando chega ao Japão, possui outros aliados, como a Kunoichi Okatsu, que possui fortes motivos para odiar os samurais.
O jogo possui uma dublagem razoável, que varia entre inglês e japonês, dependendo de qual personagem está falando. Os textos estão completamente em português do Brasil, o que é ótimo, apesar de que, em não muitos raros momentos, podermos encontrar erros.
Porém, apesar de interessante, a história sofre um pouco por se desenvolver de forma um tanto desnecessariamente lenta, tendo poucos momentos impactantes, principalmente no início.
As missões secundárias são desafiadoras e algumas apresentam novos ambientes. Porém, sua maioria tem pouca relevância para o enredo, salvo algumas exceções que nos fazem conhecer um pouco mais alguns personagens. Mais para o fim do game, grande parte delas também vão perdendo sua importância, tendo recompensas pouco úteis para aquele momento do jogo.
Os elementos de gameplay são fortemente baseados no que vimos nos jogos da From Software, com a mesma necessidade de precisão nos movimentos e uma incrível dificuldade, porém utiliza-se de uma movimentação mais rápida e dinâmica. Aqui também está presente o mesmo elemento encontrado nas mortes. Quando ocorrerem (e ocorrem muito) só há uma chance de chegar ao local em que morreu da última vez, do contrário, adeus pontos de experiência não gastos.
O nível de dificuldade é intenso, sobretudo para aqueles jogadores mais impacientes. É um jogo baseado na tentativa e erro, tendo que aprender os movimentos dos adversários. Mas a sensação de finalmente derrotar aquele chefe absurdamente apelão é extremamente satisfatória.
A experiência é representada pela amrita, sendo obtida através de inimigos derrotados, baús e itens encontrados pelos cenários. Pode ser utilizado para melhorar os atributos do personagem, como Força, Corpo, Magia, Espírito, entre outros. Cada atributo aperfeiçoa o dano de cada tipo de arma diferente, aumentam o vigor, saúde, peso suportado dos equipamentos e a quantidade e força das magias.
Nioh traz em sua jogabilidade vários elementos interessantes que agregam bastante à formula consagrada por Dark Souls. Um deles é a possibilidade de se utilizar de 3 posturas de combate diferentes, alta, média e baixa, que variam a velocidade, dano e eficiência da defesa.
Há também os espíritos guardiões, capazes de dar vários bônus ao personagem. Quando a barra do espírito guardião estiver completa, o jogador pode utilizá-lo para ficar momentaneamente invulnerável e mais forte, mas esse tempo é reduzido drasticamente a cada golpe desferido ou recebido.
O jogador terá a sua disposição uma vasta quantidade destes espíritos guardiões, obtidos nas missões principais e secundárias, mas somente poderá ser acompanhado de um por vez.
As armas são bastante variadas, existindo, assim como os equipamentos, uma enorme quantidade delas, com elementos e bônus diferentes. São classificadas entre, espadas, katanas duplas, lanças, martelos e kusarigamas. Cada uma com um estilo único de jogabilidade, podendo o jogador equipar duas delas para uma troca rápida durante o jogo. Há também arcos, espingardas e pequenos canhões.
Também está à disposição do jogador varias magias, que vão desde aplicar elementos nas armas momentaneamente, até deixar os inimigos mais frágeis e lentos. É possível, também, utilizar-se de shurikens, bombas de fumaça entre outros equipamentos e armas ninjas, bem como aprender habilidades únicas com cada arma.
O grande atrativo do sistema de combate fica a cargo dos combates com os chefes, cada um com design e mecânicas próprias bem variadas, que exigem estratégias bem elaboradas por parte dos jogadores. Esses combates são imensamente memoráveis.
Há um bom sistema de forja de armas e armaduras no jogo. Indo ao ferreiro, é possível até mesmo uma fusão espiritual das armas e armaduras, que consiste em melhorar um equipamento ao custo de outro.
Os cenários levam o jogador diretamente para um Japão feudal, fazendo uma boa representação. Há uma boa diversificação dos ambientes, com castelos, vilas, montanhas, templos, entre outros. Esses cenários são acessados a partir de um mapa, acessível ao fim de cada missão.
O jogo possui um interessante sistema online. Durante a campanha, o jogador irá se deparar com uma espécie de túmulo que anunciando que ali morreu outro jogador, indicando a causa da morte, muito útil para nos prevenir de perigos. O jogador também pode optar por enfrentar esse personagem morto, com a inteligência artificial assumindo o controle do ressuscitado, o que é uma ótima maneira de testar suas forças e conseguir equipamentos novos, que eram utilizados por aquele jogador, isso se você sobreviver ao combate.
Mais uma mecânica online deste jogo é a possibilidade de invocar outros jogadores dispostos a ajudar a passar por uma missão. Esse modo cooperativo é bastante divertido, principalmente para quem tem um amigo para jogar junto, além de ser de grande ajuda nos combates.
Entretanto, utilizar dessa ajuda online faz a dificuldade do jogo cair drasticamente. A inteligência artificial foi feita claramente para enfrentar um único adversário, deixando muitas aberturas para um segundo jogador atacar pelas costas sem muitos problemas, o que deixa o jogo significativamente mais fácil, os combates menos memoráveis e suas façanhas menos gratificantes.
Recentemente foi adicionado gratuitamente um modo de jogo de combate PVP (player vs player), em combates de 1 vs 1 ou 2 vs 2. É um modo que diverte bastante no início, mas que se torna rapidamente repetitivo e enjoativo.
Nioh é certamente um dos melhores exclusivos do Playstation 4. Com grande inspiração nos combates brutais dos bem sucedidos de Dark Souls e Bloodborne, mas com muitos elementos próprios. Com uma ambientação em período histórico do Japão e voltado para um público que gosta de ser desafiado, Nioh consegue dar a constante sensação de superação a cada luta vencida.
Nota: 4,5/5