Kizumonogatari: Parte I – O Fim de uma Lenda; o Início de um Conto

Antes mesmo de virar um fanático pelas obras do NisiOisiN, de uma coisa eu já sabia: um filme chamado Kizumonogatari está em produção há um bom tempo, porém, nunca dava as caras. Três anos depois, e como uma certa bagagem sobre a série, és que o filme finalmente saiu, e sinceramente, eu não sabia como reagir.

Falar de Monogatari, não é assim tão fácil para mim, ainda mais se formos acrescentar o ponto de que teria que ser uma review. Meu lado fanboy me obriga a dizer que foi sensacional, e que não existe pontos negativos no filme. Na verdade, a sensação que fico, é que daria para resumir tudo em um: “Meu Deus, olha essa Kiss-shot!!”.

Mas, bem,  isso não ficaria legal, e nem demonstraria o devido respeito que tenho pela obra. Sendo assim, vamos apenas contar uma história, um conto sobre uma cicatriz, a rachadura que deu início, não somente a toda a série, mas também a trilogia de filmes que tem seu final aguardado para Julho.

Tekketsu-hen marca o início da adaptação do 3º volume de Monogatari Series, e claro, isso significa que ele teria um hype enorme em cima. O filme já estava em produção há anos, e sem deixar vazar quase nenhum detalhe, além das temidas palavras “em breve”, que todo fã adora ouvir das obras que gosta.

Quando o dia do lançamento foi finalmente anunciado, minha empolgação foi nas alturas. Já tinha sido incrível ler a novel, com toda aquela atmosfera misteriosa, que o Nisio sabe bem criar.

E acompanhar os pensamentos de um Araragi que ainda não tinha noção sobre o mundo em que estava entrando, que era, literalmente, um garoto do ensino médio, havia sido sensacional. E claro, eu esperava ter todas essa emoções de volta.

O grande choque em assistir Tekketsu-hen, veio justamente com isso. O filme era tímido demais. Os pensamentos do Araragi foram trocados, em grande parte, para a expressão e linguagem corporal. Não existia aqueles monólogos internos, você é levado pelas feições e sentimentos que o personagem demonstra, através das cenas em que interpretada as sensações que a novel narrava.

Se por um lado isso torna as coisas mais artísticas, por outro, acabou me deixando com a sensação de que faltou um certo charme que só Monogatari consegue entregar.

O primeiro encontro com a Hanekawa é o maior exemplo disso. Eu visualizei a cena completa na minha cabeça, com todos aqueles exageros que o estúdio Shaft sempre faz.

Eu realmente esperava que fossem usar a piada do “sinto que você narrou isso por duas páginas”. Porque, bem, foi isso que o Nisio fez, ele uso duas páginas de um livro para narrar as sensações de um garoto vendo a calcinha da dita melhor aluna da escola.

Não era nem por questão de fanservice, até porque, ele já estava lá. A verdadeira questão era: Kizumonogatari não é apenas um trocadilho como o “Kizu-Shoto”, ele é sobre as feridas (Kizu), sobre os impactos que aquelas férias de primavera tiveram, não somente sobre o Araragi, mas sim sobre a série todo.

Quando lia a novel, a cena do encontro entre  o Araragi e a Hanekawa, me entregou tudo o que viria a ser a relação dos dois no decorrer da série. A “sexualização” dela por parte do Araragi (Apesar de não aprovar aquele aumento dos peitos…), o impacto que ela gera sobre ele, realmente “imprimindo” sua existências na sua mente.

Essa é a Hanekawa, esse é o peso que ela tem sobre a vida do Araragi, tanto que foi ela quem “introduziu” a noção de Kaii nele. Por mais que fosse de uma forma excêntrica e estranha, aquele monologo/cena, deveria ser o momento em que a primeira ferida teria que ser aberta. Mesmo em essência ela estando lá, ainda me parecia faltar algo que marcasse o momento.

Que deixasse mais nítido que foi ali que os problemas da Golden Week, assim como os do festival cultural, tiveram início.

Se a primeira das minhas aguardadas cenas, veio de uma forma diferente do que eu esperava. A segunda acabou seguindo o mesmo molde, porém, acertando em alguns pontos.

O encontro com a Kiss-Shot, igual deveria ter sido com a Hanekawa, teria que gerar um forte impacto, principalmente por se tratar de três filmes.

Aquela cena teria que ficar gravada por um bom tempo na mente das pessoas, para que as surpresas e dramas do terceiro filme sejam melhorados.

Admito que de início, fiquei um pouco desconfortável com as mudanças. Era para ser um beco escuro, e colocaram um metrô iluminado. Assim como as cenas no famoso cursinho, as coisas pareciam erradas. Entretanto, ao menos nessa mudança, o filme consegue deixar a mensagem que necessitava.

Enquanto que em Bake, o Araragi “soube” as escadas infinitas, em Kizu ele se afundo em um buraco. São longos corredores, escadas e mais escadas, que levam ele sempre mais afundo, para um lugar que ele não deveria entrar.

Certamente isso não passou de uma estratégia para alongar o tempo do filme, já que dividir em três partes, não foi lá muito legal (com exceção da parte financeira, claro). Mas ao menos, conseguiriam ligar isso a uma certa ideia.

Após os eventos de Neko(Kuro), é durante os acontecimentos de Bake, que o Araragi começa a crescer, subir as escadas em direção ao amadurecimentos.

Ele encontra uma namorada, e passa a enxergar outras opções na sua vida (como trabalhar e fazer faculdade). Muito diferente das ideias que o garoto, com a mentalidade de “amigos só te deixam fraco”, tinha.

É exatamente no momento em que ele encontra a Kiss-Shot, que as coisas vão por água abaixo. É naquele instante, que o Araragi é levado para o buraco,  para o que ele mesmo chama de “As infernais férias de primavera”.

A cena do encontro foi absurdamente linda de ver. O desespero do Araragi transborda na tela, por mais que em alguns pontos se torna alongado demais, ainda consegue prender a tenção, porque é isso que a cena pede. Desespero, puro e simples desespero.

A Kiss-Shot não se comporta exatamente daquela maneira, mas ainda assim, causo uma impressão grotesca em  mim.

Todo o sangue, as suplicas, o jeito que o Araragi olha para ela enquanto decide, se deve ou não morrer ali. E depois, quando ele se senta para pensar, fazendo realmente soar “natural” entregar sua vida por outro ser (não pessoa). Ao mesmo tempo em que, ao fundo, um choro de bebê começa a tocar, é simplesmente lindo.

As cenas foram tão bem orquestradas, que eu não consigo reclamar pela falta de seguimento ao original. Só não foi melhor, por conta de justamente não terem colocado os monólogos do Araragi.

Se tivessem colocado todo os pensamentos sobre morte, deixar a família para trás, e os questionamentos a respeito de merecer, ou não, estar vivo, que ele tem durante aquelas cenas, seria ainda melhor. Mas infelizmente, esse é o maior problema em Tekketsu-hen.

Após esse dramático encontro, temos o ato final, que ao meu ver, foi o que mais chegou perto de ser uma adaptação fiel a cena original, até mesmo superando ela em alguns pontos.

A apresentação dos três exorcistas, e a intervenção do Oshino segue os padrões da novel. Por mais que a entrada deles tenha sido exagerada, ainda acaba seguindo os padrões de exageros normais para Monogatori. O que realmente merece destaque nessa cena, é a situação em que o Araragi é colocado.

Ali foi o ponto onde a mistura da falta de pensamentos, e o uso da expressividade proposta pelo filme, combinaram perfeitamente. O surgimento do Darmaturgy recebeu um leve toque de terror, com as imagens se fragmentando enquanto o trem passa, em seguida, tudo explode, aumentando o pânico do Araragi.

Isso acaba criando um contraste bem legal, por explorar a visão dele naquele momento. O Araragi dali não é um ex-vampiro, mas sim um humano. Ele encontrou a Kiss-Shot e foi levado para aquela loucura toda, então seria natural o desespero, a sensação de estar vivendo um filme de terror clássico.

E o mais legal da cena, é o modo como esse desespero vai sendo construído aos poucos, passando o sentimento de medo que ele tem naquele instante. Os três conversando em uma língua estranha, ignorando ele quase que por completo, mesmo enquanto tenta se explicar.

Esses pequenos detalhes vão dando um certo desconforto, e quando as coisas chegam no ápice, a direção dá aquele toque Monogatari a cena, criando o contraste entre o “falado”, e as imagens.

O Araragi desesperadamente dizendo que eles não poderiam o matar, que ele era um simples humano, e então, como resposta, um corte na cena, e uma mera imagem:

Ahh, isso é… Poesia visual? Não sei nem se o termo existe (ou é valido), mas que eu adoro essas jogadas, disso eu tenho certeza.

O Araragi de Tekketsu-hen ainda não atravessou a “linha”, ele não tomou consciência de que não é mais humano. E essa alfinetada que a direção dá ao personagem, cria uma certa identidade para o filme. Coisa que seria impossível de reproduzir em um novel.

Mas, bem, eu falei que não ia deixar o lado fanboy sair, sendo assim, vamos ao epílogo, ou eu deveria chamar de conclusão?

Seja pela forma simples que o enredo se desenvolve, sem deixar de lado toda a complexidade e sutileza que o mistério tem, ou pela oportunidade de ver outros lados de uma das personagens que mais me atrai (Kiss-Shot, não confundir com a Shinobu), Kizumonogatari é um dos volumes da série de novels que mais gosto.

Sendo assim, era esperado que eu fosse com cede ao pote. Não digo que foi ruim, mas mesmo justificando algumas das adaptações, ainda parece forçado demais, aceitar algumas escolhas, principalmente em relação a construção dos cenários e cenas.

Em um novel, onde o pilar de tudo é o Araragi, e não uma das garotas, a falta de uma narrativa particular, acaba pesando muito. Nem mesmo forçando a ideia de que foi uma maneira de representar a transição entre narrador/vítima, daí a falta de monólogo e o uso excessivo de expressões, já que a visão de fora, seria mais “confortável”, deixam as decisões aceitáveis.

Licença poética não é uma carta mágica que você ativa nos momentos de deslize, e depois reza pelo coração das cartas te favorecer. O filme entrega sim, muitas coisas boas, especialmente para os fã, mas é inegável que pecou em alguns aspectos quando falamos de adaptar o material original.

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E você, que nota daria ao filme?

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Extras

 

 

Marcelo Almeida

Fascinado nessa coisa peculiar conhecida como cultura japonesa, o que por consequência acabou me fazendo criar um vicio em escrever. Adoro anime, mangás e ler/jogar quase tudo.