As Crônicas de Arian – Capítulo 5 – O vulto da morte
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Capítulo 5 – O vulto da morte
Philip se levantou com dificuldade e deu a volta no armazém, perseguindo a garota, enquanto se perguntava onde as coisas deram errado.
Sua vida estava indo muito bem até ali. Conseguira ser promovido rapidamente no exército, graças às contribuições do seu pai, e nunca o mandavam para a linha de frente. Ao invés disso, só ganhava serviços fáceis.
Nas cidades pequenas por onde passava, tinha as mulheres que queria. Isso, ao menos, até chegarem àquela vila. Ser recusado o excitou, deu ainda mais vontade de conseguir a garota.
E então surgiu aquele idiota, parecia uma maldição. Era um ex-oficial militar pelo que pesquisou quando voltou para o acampamento, e atualmente o guardião daquela pequena vila. Os dados sobre o rank dele eram sigilosos, mas pelos boatos exagerados que escutou, achou melhor evitá-lo e se focar na garota.
Não esperava que ele fosse aparecer ali e matar seu irmão… Era um covarde, mas se davam bem na maior parte do tempo. O que diria a seu pai?
Sentiu ainda mais raiva de Arian nesse momento. Precisava da garota, se ele estava tão preocupado em salvá-la, poderia usá-la para fazê-lo baixar a guarda.
Estava a uns 30 metros do bar. As pegadas na lama davam para a porta de um armazém de madeira, do mesmo tamanho do bar. A porta estava se fechando.
Correu e a chutou com toda força. Pode ouvir o corpo da garota caindo no chão do outro lado, mas não conseguia ver naquela escuridão. O vulto dela levantou e correu para dentro do armazém.
Pegou a tocha na entrada e acendeu com um aparato que ficava ao lado dela. Estava cheio de caixas de madeira empilhadas e com um cheiro agradável de vinho e comida dentro do armazém.
— Apareça e acabaremos logo com isso, não vou te fazer mal. No momento, meu único interesse é aquele homem lá fora. Venha aqui e resolveremos sem que você se machuque mais — Ele estava mentindo, é claro, após usá-la para matar o guardião se divertiria e a jogaria no lago próximo do local. — O guardião não vai vir te ajudar, está ocupado demais, são muitos contra um, mesmo que seja habilidoso, não vai conseguir vir até aqui a tempo.
Foi então que escutou a garota no fundo do armazém. Estava atrás de três caixas grandes empilhadas a esquerda.
Quando se aproximou, viu que havia sido enganado, tinha apenas seu sapato ali. Ouviu um barulho atrás dele.
Ao se virar, viu a garota com uma foice, correndo em sua direção. Bloqueou com a tocha, mas não com força o bastante para impedir que o objeto fosse empurrado contra o seu rosto. Ele gritou de dor quando o fogo encostou em sua pele.
— Eu vou te matar! — gritou furioso, enquanto via a garota correndo dele de novo, tentando despistá-lo entre as caixas empilhadas. Mas antes que a garota pudesse virar, jogou com toda a força a tocha em suas costas.
Sara caiu na hora com o impacto, batendo a cabeça em uma das caixas à sua frente. Estava desorientada e sem forças, se arrastando desesperadamente.
Ele sorriu, finalmente as coisas começavam a dar certo. Chutou a garota, uma, duas, três vezes, descontando sua raiva enquanto ela chorava, ainda tentando se arrastar para a porta. No quarto chute na cabeça, ela desmaiou.
— Faça suas preces garota, nem você vai conseguir se reconhecer quando eu terminar…
— Será? — uma voz sussurrando veio de suas costas, ele virou rapidamente, mas não tinha ninguém.
— Faça suas preces… — de novo, a voz em suas costas tinha um tom fantasmagórico.
Se virou. Nada ali.
— Apareça seu covarde! Eu sei que é você guardião! Apareça de uma vez!— gritou suando frio. Sua respiração estava acelerada, e os ouvidos se atentando aos passos silenciosos sobre a terra em volta dele.
— Nem você vai conseguir… — a voz sussurrou em seus ouvidos.
Se virou de novo. Sentia o coração pulsar em todas as partes do corpo, a respiração completamente fora de controle. Estava com medo, como nunca antes sentiu na vida. Se era o guardião, por que não aparecia?
— Se reconhecer… — novamente, um sussurro arrastado, como um fantasma.
— Quando… eu… terminar… — Philip sentiu um calafrio rápido passar pelo seu corpo. De repente, ficou desequilibrado e instintivamente se encostou em uma caixa de madeira do deposito. Tentou correr para porta, mas não conseguia… Por quê…? Foi quando notou que lhe faltava metade da perna direita.
Caiu no chão berrando, enquanto a dor vinha toda de uma vez. Estava tão nervoso com a situação que não sentiu cortarem sua perna? Quando aconteceu? Foi na hora do calafrio?
Ouvia o barulho de passos atrás dele, mas não conseguia ver nada. Ele então começou a se arrastar com toda força que lhe restava até a porta do armazém. O som dos passos continuava.
— Pare, pare, me deixe em paz! — gritou. Foi quando veio outro calafrio, seguido de uma dor que quase o fez desmaiar. Um pedaço da outra perna foi cortado. Não tinha coragem de se virar para olhar, só continuou se arrastando desesperadamente para a porta.
Quando chegou na saída, se virou rapidamente, e a luz da lua revelou o que estava atrás dele. Não era o guardião… Um vulto negro, com um manto escuro todo rasgado cobrindo o corpo.
— Mas o que… arg… ug… — A dor e desespero por não conseguir respirar veio do nada. A ponta de uma foice tinha atravessado seu pescoço de um lado ao outro.
A morte em pessoa viera buscá-lo, mas não foi ela que selou seu destino. O rosto cheio de raiva de uma elfa, foi a última coisa que viu…
Sara estava tonta. Não conseguia parar de tremer, ajoelhada ao lado do corpo de Philip, encarando as próprias mãos. O que ela fez?
Começou a chorar, só conseguiu pensar que tinha que parar aquele homem, e foi o que fez quando acordou tonta e o localizou pelo grito na porta do armazém.
Estava segura, então por que se sentia-se tão mal? Seu estômago começou a revirar quando encarou o corpo de Philip sem vida na sua frente. Tinha matado alguém…
Tentou ignorar a sensação. Não tinha tempo para se sentir assim, tinha que ver se Robert ainda estava vivo e ajudar Arian. Tentou se levantar cambaleando.
Foi então que notou o ser em um manto negro a observando nas sombras do armazém. Foi ele que impediu Philip de pegá-la quando caiu? Sua visão estava ficando turva.
O ser coberto no manto negro começou a avançar em sua direção.
— Obriga… — Sara desmaiou antes de completar a palavra.
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