As Crônicas de Arian – Capítulo 12 – A mulher de olhos dourados
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Capítulo 12 – A mulher de olhos dourados
Marko foi em direção a Arian logo que os ganhadores foram liberados de suas plataformas.
Assim que os dois se encontraram, Arian foi lançado vários metros para trás com o soco no rosto que levou do amigo.
— Se era pra se acovardar no final e pedir para outro fazer o serviço, era melhor ter usado sua espada — falou Marko, furioso.
Arian se levantou devagar, com a boca sangrando. Não respondeu ou reagiu. Embora parecesse algo confuso para quem estava à sua volta, ele sabia exatamente do que seu amigo estava falando.
— Eu juro, Arian, se fizer isso de novo, vai ter que se virar sozinho no resto do torneio.
Marko sempre odiou ver aquilo acontecer.
— Eu a conhecia. Não queria ser eu… — disse ele em voz baixa, com um ar triste.
— Sua consciência pode se sentir um pouco melhor com isso, mas foi você que quebrou o braço dela, por mais que tente passar a responsabilidade para outra pessoa.
Ao olhar para o lado, <E> estava observando os dois, com uma cara preocupada.
— Concorda com ele?
A garota acenou com a cabeça e deu uns tapinhas nas costas de Arian, tentando o animar.
— Certo, chega disso. Daqui a pouco vão perguntar se somos malucos. O quadro dos combates é só amanhã, vamos dar uma volta por aí — falou Marko, respirando fundo depois do desabafo.
Se dirigiram para a saída da Arena, e quando estavam passando pelo portão principal, cheia de participantes deixando o local, uma mulher se colocou na frente de Arian.
Olhos cor de mel, quase dourados, lindos. Cabelo preto, longo, levemente ondulado nas pontas, chegando até perto da cintura. O corpo era chamativo, mas ficava ainda mais naquela roupa de couro colada no corpo. Na parte que cobria o peito, havia uma liga de metal, provavelmente com o propósito de proteger o coração. Era nova, parecia ter perto dos vinte e poucos anos. Definitivamente uma mulher que chamava atenção.
— Por que não usou sua espada? — perguntou a garota de forma rígida.
— Eu pedi a ele que… — Marko tentou falar, antes de ser interrompido.
— Não falei com você. Responda a pergunta — disse ela olhando para Arian. Parecia ainda mais nervosa com a falta de atitude dele.
— Fiz uma aposta, apenas isso, tenho o direito de lutar como quiser — respondeu o guardião, agora nervoso com a grosseria dela com Marko.
— Aquela mulher te idolatrava desde que você a salvou na guerra, só queria uma luta justa com você usando espadas, estava há 2 anos treinando duro pra isso, e você a humilhou completamente.
Arian não respondeu. Sabia que ela queria um combate de espadas, mas não tinha ideia de que estava treinando tanto para tal. Se sentiu ainda pior.
— Reze para não nos encontrarmos em batalha, ou vou fazer você experimentar toda a humilhação que a fez passar.
— É sua amiga?
— Não — respondeu a garota, em um tom seco, antes de virar abruptamente, e ir embora.
A mulher estava realmente sentida pela outra. Mas sem a conhecer? Como ela sabia daquilo tudo?
— Você com certeza tirou o dia para enfurecer as pessoas… — disse Marko, pouco antes de começar a rir sem parar. Seu bom humor, aparentemente, tinha voltado.
Arian sentou em um banco próximo dali, em um parque arborizado. Estava com uma cara de acabado, olhando para o chão e refletindo sobre o que ocorreu. <E> sentou ao seu lado, novamente dando palmadinhas em suas costas, tentando o consolar.
— Isso é tudo sua culpa Marko… — lamentou.
Marko foi passear pela cidade. Já Arian, não tinha mais humor para tal e voltou ao quarto na pousada, a contragosto de <E>, que queria explorar a cidade. Nesses momentos Arian se perguntava o que a prendia. Por mais que quisesse fazer outras coisas, a prioridade era sempre ficar a poucos metros dele. Na verdade, desde que se conheceram, nunca a viu ficar a muito mais que 20 metros de distância.
Depois de pensar um pouco nisso sem chegar a uma resposta, como sempre acontecia, Arian pegou um caderno pequeno de uma bolsa marrom, onde guardava seus pertences mais relevantes. Começou então a escrever algumas coisas que aconteceram naquele dia, e outras que estavam passando pela sua cabeça. Era a forma mais fácil que tinha para se acalmar. Enquanto isso, <E>, debruçada na janela do quarto, consolava sua curiosidade observando as pessoas passando pela rua.
Mais tarde, trocou de roupa e foi dormir, dessa vez sem camisa, por causa do calor.
Quando <E> o viu decidiu imitar, desmaterializando seu vestido branco e se preparando para pular na cama.
— Nem pense nisso! Coloque uma roupa, ou vai dormir fora da cama, sua fantasma depravada.
<E> fez uma cara de decepção e voltou a materializar seu vestido branco. Foi então se deitar ao lado de Arian, e ficou brincando com as correntes em seu pescoço até cair no sono. Cada corrente era um pedaço de sua vida: uma era da guild que ficou por 2 anos, a outra do tempo no exército, e por último a de Distany, com seu nome, dados, e uma magia que permitia confirmar o usuário. Se outra pessoa usasse a corrente, os dados nas placas desapareciam. A da guild e a militar também tinham o rank da pessoa junto. Podiam ser usadas como prova de experiência na hora de conseguir trabalhos, ou entrar em torneios.
Arian ficou olhando para <E> um tempo antes de cair no sono. Após 5 anos juntos, não fazia mais ideia do que a menina representava para ele exatamente, se prendia apenas ao fato de que a considerava importante, e gostava da sua companhia. Ela era, afinal, a única coisa constante em sua vida. Enquanto pensava nisso, tudo se apagou.
Na manhã seguinte, era hora de ver com quem iria lutar. Não era religioso, mas rezou para não ser a mulher de olhos dourados. Algo lhe dizia que uma luta entre os dois não acabaria bem para o seu lado.
Sortearam o quadro dos combates:
Arian x Baldor
Marko x Zidha
Dorian x Alon
Kadia x Sigfrid
Sua luta seria a primeira.
Chegou ao centro da Arena com seu adversário, um senhor de uns 60 anos com uma barba curta e cabelo grisalho. Nas mãos, uma espada longa. O guarda mão da arma, decorado com joias, indicava uma arma cara. A vestimenta dele, no entanto, era bem simples: botas de couro, uma calça marrom e uma camisa de algodão branca, com a gola do pescoço aberta.
Ambos se cumprimentaram. Todas as plataformas do dia anterior foram retiradas. O local agora era um mar de areia, em formato circular. O tempo estava nublado hoje, para o alívio de Arian, que detestava calor.
— Que comece a luta! — Gritou o apresentador.
A plateia fez barulho, empolgada.
O adversário e Arian não se mexeram. No entanto, ambos estavam aguardando o outro tomar a iniciativa. Ou talvez o velho estivesse aguardando o guardião desembainhar suas espadas, o que ele não fez, na tentativa de testar se poderia ganhar sem elas.
Como o adversário não fazia nada, Arian avançou. O velho reagiu levando a espada em sua direção.
Arian usou o bracelete para bloquear. O que o homem, aparentemente, já esperava. Ao invés de parar o movimento no bracelete, ele inclinou a lâmina e seguiu arrastando sua espada pelo braço de Arian, o fazendo recuar antes que a espada tirasse um pedaço de seu cotovelo, que não tinha armadura.
Antes que Arian pudesse pensar, veio outro golpe, direcionado a seu pescoço, mas que rapidamente mudou de trajetória para sua coxa, logo acima da parte onde a armadura terminava. Saltou para o lado a tempo, mas por pouco não perdeu uma perna.
— Vai lutar direito ou vai continuar me entediando, garoto? — questionou o senhor, em um tom rígido.
Arian abaixou a cabeça para o homem, como um pedido de desculpas. Ele então colocou a mão nas costas, por baixo da capa, e tirou duas espadas médias.
— Que tipo de idiota anda com uma espada aprimorada na cintura, mas prefere usar as reservas comuns que tem nas costas? — indagou o velho.
De fato, o mais normal seria usar a espada da cintura, a que tinha acesso mais rápido, mas devido ao seu estado de degradação atual, tentava a usar o mínimo possível.
— É uma longa história — respondeu.
Chega de menosprezar seus adversários. Avançou com tudo dessa vez.
O homem desviou com primor dos golpes, e defletiu alguns usando sua própria espada.
— Finalmente está me dando uma luta de verdade, garoto! — Disse o adversário sorrindo, enquanto aumentava o ritmo do combate.
As espadas se chocavam sem parar, e a luta continuava em uma mistura de bloqueios e esquiva. Ambos pareciam estar dançando. A plateia não gritava, ou fazia cara de tédio, só observava atenta. Era um combate muito bonito de assistir.
Arian aumentou o ritmo. Agora eram duas espadas se movendo a uma velocidade absurda, e com impacto fora do comum, devido a força sobre-humana dele.
O adversário não conseguiu acompanhar e ganhou um leve corte no braço esquerdo. Quando recuou para recuperar a postura, Arian avançou, usando uma de suas espadas para defletir a arma na mão direita do velho, e a outra deixou parado a 1 centímetro da garganta dele. O homem nem mesmo piscou. Ao invés disso, sorriu.
— Fascinante. Usar duas espadas é geralmente estúpido em um contra um, mas você consegue mover as duas com a mesma precisão e velocidade. Não sei quem foi seu mestre, mas o cumprimente por mim. Mesmo que desgastado, acaba de derrotar Baldor, o antigo instrutor mestre do castelo, e sem nem suar para isso. Honestamente, me senti um pouco humilhado… — disse o instrutor, com uma risada leve.
Arian sorriu, foi bom terminar uma luta com dignidade depois do seu vexame de ontem. Ele abaixou a cabeça em sinal de respeito ao instrutor e pensou no que ele disse. Infelizmente não poderia cumprimentar seu mestre, já que não fazia ideia de quem ele foi, e quando foi treinado.
Ambos se dirigiram para fora do centro da Arena.
Era a vez de Marko. Sua luta mal começou e já tinha terminado. Ele colocou a mulher musculosa, com quem estava lutando, inconsciente com um forte golpe na cabeça. Ela também lutava fisicamente, mas era uma luta desleal em termos de força.
A seguir veio Dorian, um homem usando uma espada longa, e um manto marrom com capuz, cobrindo o corpo. Não parecia ter armadura. Arian entendia o princípio de ganhar em agilidade sem todo aquele metal cobrindo o corpo, mas o risco parecia grande demais.
A luta foi bizarra, o garoto de uns 17 anos, usando uma armadura reluzente no corpo todo, correu até Dorian com sua espada em mãos. O adversário desviou e encostou a mão esquerda de leve no braço do garoto, que caiu no chão no mesmo instante. Que demônios foi aquilo?
Ao levantar, o adversário parecia perdido e tonto. Levou todos os golpes de Dorian, até cair de novo, com a espada do homem apontando para seu pescoço. Ele então se rendeu.
A seguir, veio a mulher de olhos dourados contra um homem de armadura grafite, cobrindo todo corpo. Usava uma espada simples e um escudo. Kadia tinha uma espada de duas mãos em mau estado, e estupidamente grande para o tamanho dela. Arian, como apreciador de combates, esperava que esse fosse menos anticlimático, comparado aos anteriores. Até ali, a coisa toda estava uma decepção.
Foi outra luta estranha. Kadia, como descobriu que se chamava a mulher através do quadro de lutas, desviava dos golpes do homem de armadura como se estivesse prevendo eles. Sigfrid parecia muito experiente também. Sempre que Kadia avançava com sua espada, o cavaleiro desviava com precisão e tentava acertar um golpe nela.
Kadia parecia ter se irritado e começou a usar sua força e agilidade, muito acima de um humano normal, sem se preocupar tanto em ser desqualificada.
O homem não conseguia mais desviar da espada a tempo, tendo que usar o escudo para parar a espada de Kadia. O golpe, no entanto, era tão forte que fazia ele voar para o lado e rolar na terra, toda vez que acertava.
A luta parecia estar decidida. Mas foi então que algo estranho aconteceu. O homem tirou o elmo, revelando o cabelo preto curto e olhos azuis.
— Eu falei pra elas que isso seria divertido — disse o homem, com um sorriso de todo tamanho na cara.
Arian, que tinha uma visão privilegiada se comparado a um humano, notou um leve brilho nos olhos dele, que ficaram avermelhados. A partir daí, a luta virou. A espada de Kadia não conseguia mais arremessá-lo. Ao invés disso, ele estava defletindo a arma dela com o escudo, e sua agilidade aumentou muito também. Ele não era humano? Mas… era estranho, tudo nele batia com um humano normal. E não fazia sentido apanhar tanto no início da luta, se não fosse o caso. Se estava mesmo fingindo, foi a melhor performance que já viu. Quanto mais pensava no assunto, mais curioso ficava.
A plateia gritava, empolgada com a primeira luta realmente acirrada daquele dia. Estava empatado. Kadia prevendo os ataques com espada e escudo do adversário, e ele defletindo e desviando os dela. Até que a garota pareceu ter perdido a paciência.
Seus olhos brilharam, agora realmente dourados. Ela avançou para cima do homem fazendo uma quantidade absurda de terra voar abaixo dela, tamanha a força que pressionou o chão. O inimigo fez o mesmo, avançando em uma velocidade estúpida contra Kadia.
— Fim da luta! Sigfrid está desqualificado por uso de magia! — gritou o apresentador.
Ambos, Kadia e o homem, pararam.
— Sério? — O homem puxou seu colar, observando que a joia azul havia se tornado vermelha, indicando que desceu de 70% de energia. O cavaleiro passou a mão no cabelo dando uma risada, meio sem graça pela situação.
Ele então fez um gesto em direção a plateia, parecia ser direcionado à alguém. Prestando mais atenção, Arian viu duas mulheres, uma loira, claramente uma celestial pelo que estava saindo de suas costas, e a outra uma morena de ar exótico com… orelhas de elfo? Nunca viu um elfo de cabelo preto antes… Estavam na área VIP da arquibancada, a de cabelo preto com um sorriso contido e a loira a seu lado rindo de forma mais escandalosa. Tinha uma outra mulher atrás delas, com um sorriso no rosto, mas não conseguia ver direito sua aparência, só os cabelos vermelhos balançando ao vento.
Kadia foi na direção do cavaleiro e falou alguma coisa que o fez começar a rir novamente. Ficou curioso sobre a relação dele com as mulheres na plateia, e o que Kadia falou. Aliás, a luta toda era um mistério. Não tinha como se aprimorar daquela forma usando magia, algo mais tinha acontecido ali.
O quadro das próximas lutas foi definido, para o terror de Arian:
Marko x Dorian
Arian x Kadia
— Mas que droga… — resmungou o guardião, olhando infeliz para o quadro.
Marko estava rindo sem parar a seu lado.
A alguns metros dos dois, Kadia escutava os resmungos de Arian, com um sorriso de satisfação.
Próximo: Capítulo 13 – Arian vs Kadia
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