Perfect World – As dificuldades de um Mundo perfeito
Aviso: POST CONTÉM SPOILERS LEVES DA OBRA
Autor/Arte: Aruga Rie
Status: Em publicação
Gênero: Drama, Shoujo, Slice of life
Sinopse: Kawana Tsugumi trabalha em uma empresa de design de interiores. Ela vai para uma festa do escritório de arquitetura de um cliente, e acaba encontrando o seu primeiro amor. Ele está mais lindo do que nunca,mas quando ele está indo embora, Kawana nota que algo mudou. O seu primeiro amor, Ayukawa, agora está em uma cadeira de rodas.
Análise
Você conseguiria se relacionar com uma pessoa com deficiência? Com esta pergunta emblemática que Aruga Rie desenvolve o enredo de Perfect World.
Eu sinceramente não curto muito shoujo, principalmente por causa dos clichês que são usados para gerar muito drama de forma, as vezes, desnecessária, mas por ser um mangá que aborda um tópico delicado e pouco tocado nesse tipo de mídia, acabei dando uma chance à história.
Apesar de vivermos em um século mais consciente sobre as dificuldades que pessoas com deficiência passam, infelizmente suas necessidades são quase que ignoradas e são pessoas relativamente excluídas da sociedade por mais que falemos sobre inclusão social.
Sendo assim, eu acho que é bem legal ler algumas narrações envolvendo este tipo de emblemática para tentarmos pelo menos compreender as dificuldades e obstáculos enfrentados por cadeirantes, surdos e etc, já que é uma perspectiva imensuravelmente bem diferente da nossa.
Em vista disso, também não sabemos se um dia poderíamos nos deparar em uma realidade como a deles, então é bom para praticar um pouco de empatia para com o próximo.
Inclusive um dos pontos positivos da obra é o realismo com o qual ela apresenta as várias barreiras que um paraplégico enfrenta em seu cotidiano, por exemplo, como a visita em um ponto turístico pode ser penosa pela falta de rampas até as dificuldades vividas pelo casal em estabelecerem seu relacionamento mediante o preconceito de amigos e familiares.
Visto que pode parecer uma coisa banal o preconceito encima do casal, vale ressaltar que ainda existem muitas famílias que relutam que seus filhos tenham um relacionamento com um deficiente físico pelas próprias dificuldades que apresenta a vida com alguém que precisa de cuidado constante.
E com o fim de destacar este lado mais realístico e menos bonitinho da obra, a autora expõe sem pudor uma série de problemas orgânicos apresentados por Ayukawa como os riscos de insuficiência renal e úlcera de decúbito (lesões cutâneas decorrentes de uma insuficiência do fluxo sanguíneo), o que realmente requer um maior cuidado do próprio protagonista e da namorada dele para com ele.
Outro ponto positivo, como já podem perceber pela sinopse, é que a obra trabalha com personagens adultos, então as dificuldades profissionais também são representadas, como as duvidas e descrenças dos colegas sobre suas capacidades no trabalho e ter propostas rejeitadas por serem muito caras por visarem atender as necessidades de pessoas como ele.
Em relação aos protagonistas, Kawana apresenta aquela personalidade mais insegura e relutante, contudo é bem simpática e sociável. Mas diferente de demais heroínas do gênero, apesar das incertezas, apresenta um pouco mais de atitude em relação ao Ayukawa, pelo menos nos primeiros volumes do mangá.
Igualmente, Ayukawa é bem carismático e sociável, apesar de também ser um tanto que inseguro pela sua condição física. Sendo assim, ambos apresentam características que os distinguem bem de casais de demais obras.
Além disso as hesitações, problemas pessoais e psicológico dos dois personagens são bem abordadas na narrativa. Como o preconceito inicial de Kawana em se relacionar com um colega cadeirante, mesmo despertando velhos sentimentos por ele, e as dúvidas em relação ao futuro dos dois.
Assim como as dificuldades do protagonista em aceitar sua realidade em uma cadeira de rodas, mesmo depois de anos preso em uma, e a relutância em se relacionar, por acabar tendo que apresentar uma série de fardos para a parceira dele.
Mas infelizmente, nem tudo são flores. E como apontei no inicio do texto, apesar da narrativa ser interessante e bem trabalhada em determinadas partes da obra, a autora acabou se perdendo nos volumes finais e inserindo muito drama de maneira desnecessária, além de apelar em certo momento para aquele velho problema de um rival amoroso (sério autora? ¬¬).
Entendo que inserir um rival seja tentador para colocar em cheque se a Kawana conseguiria prevalecer em sua determinação em ficar com o parceiro cadeirante, ou o abandonaria por um relacionamento menos oneroso, tanto pela pressão dos pais, como pelas responsabilidades com o Ayukawa.
Contudo, isto acabou colaborando no meu ponto de vista, para quebrar um pouco com a premissa da obra e não reforçá-la. Acrescentando a isto, uma decisão precipitada da autora no aparente arco final que me fez ter que abaixar a nota da obra, já que toda a situação me configurou uma maneira preguiçosa de tentar resolver estes dilemas inseridos no roteiro.
[showhide type=”1″ more_text=”Clique aqui para ver o spoiler” ] Até porque é bem fácil você quase matar a protagonista e a tornar aparentemente paraplégica para resolver todos os entraves com familiares e amigos né?
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Só que tendo por base os pontos positivos da obra, Perfect World é uma historia que consegue cativar o leitor, com uma narrativa agradável , mas que exibi muitos dilemas e decisões para os seus protagonistas enfrentarem e que consequentemente colaboram para uma melhor visão do leitor sobre a vida de um cadeirante.
Conclusão
A obra de Aruga Rie pode apresentar certos problemas referentes ao gênero shoujo, mas definitivamente nos tira da zona de conforto ao optar por uma história protagonizada por um cadeirante e não relutar em denunciar o quanto a sociedade pode ser de certa forma cruel e insensível com essas pessoas.
Sendo um excelente passa-tempo para pessoas que gostam desse tipo de história e para aqueles leitores que querem ter pelo menos um pouco da perspectiva do que é ser um cadeirante e os problemas que vem na bagagem de se relacionar com um.
Além de nos abrir os olhos para um problema presente e que muitas vezes ignoramos por simplesmente não fazermos parte dessa realidade. Mas como dito anteriormente, é bom conhecermos os problemas que não entendemos para poder diminuir, pelo menos um pouco, as dificuldades encontradas por essas pessoas em um mundo perfeito em suas imperfeições.
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