As Crônicas de Arian – Capítulo 25 – Lâminas espirituais
Anterior: Capítulo 24 – O Homem sem passado – Parte 3
Índice para todos os capítulos: aqui
Capítulo 25 – Lâminas espirituais
O grupo de Joanne estava seguindo fazia algum tempo uma estrada pequena de terra, com espaço apenas para duas carruagens lado a lado. De vez em quando passavam por alguém, geralmente andando a cavalo ou usando uma carroça. Comparado as estradas principais do Sul, que tinham espaço para quatro a seis carroças lado a lado, e estavam sempre cheias de gente indo e vindo, essa era bem calma.
— Que calor infernal… Bem que podia chover um pouco, para variar… Onde estamos, Jon? — perguntou Joanne, se virando para o garoto que estava lendo um livro dentro da carruagem.
— À esquerda fica a Floresta de Ark, daqui até a cidade de Amira o caminho mais seguro é usar a estrada que beira a floresta. Vai ter uma encruzilhada mais à frente, é só seguir reto nela. Dizem que não tem muitos problemas com amaldiçoados por aqui, os licans matam a maioria dos que se aproximam da floresta — Jon falou isso só apontando com um dos braços, seus olhos continuavam no livro que estava segurando com uma das mãos.
— Licans? — questionaram Zek e Irene, ao mesmo tempo.
— Sério…? — disse Jon, meio incrédulo.
— Elas foram criadas desde que nasceram na Torre de Luz, não usamos esse termo por lá, você só sabe porque leu em algum livro — disse Joanne, defendendo as duas.
— Certo… É um dos nomes usados para os humanoides meio-animais. Lobisomens, ou meio-lobos, são os mais famosos, deles já devem ter ouvido falar… Pensando agora, imagino por que chamam assim… Demônios também podem ser infectados. Aí seriam Lobidemos…? Isso foi estúpido… De qualquer forma, a maioria dos que não podem se controlar para viver em cidades do sul, se refugiam nessa floresta. Dizem que são pacíficos a maior parte do tempo, e ainda mantêm a população de amaldiçoados e vampiros controlada.
— Espera, eu li sobre isso… Mas os vampiros não vivem de forma pacífica na cidade mais bonita do centro do continente? — questionou Irene.
— Moonsong? Aqueles são outro tipo de vampiros, eles nascem vampiros, não são transformados. Os transformados, em sua maioria, são extremamente perigosos… Ao menos foi o que li, nunca vi um…
— Não gosto disso… Daqui até Amira é difícil ter problemas, mas de Amira a Sunkeep beirando a floresta amaldiçoada… Tem tanta coisa ruim naquela área que nem sei por onde começar… E os malditos de Distany não deixam ninguém cruzar pela cidade… Espera… — Dorian se virou para Arian. — Ei, poderoso 7º taradão dos orelhudos, não consegue que nos deixem passar por Distany?
— Não vejo problema… mas a floresta que fica na saída norte é bem fechada, não poderemos usar cavalos. Vai aumentar o tempo de viagem em 2 a 3 semanas — respondeu Arian, com um olhar distante. Estava a alguns metros à frente da carruagem, com Kadia a seu lado.
— Então vamos seguir o caminho planejado. Lara está carregando um item que drena ela, física e mentalmente, quanto mais tempo ficar carregando aquilo maiores as chances de algo dar muito errado.
— Algum problema? — perguntou Kadia, ao notar que Arian estava meio pálido.
— Eu não lembrava de quase nada entre o momento que Emily foi pega por Zack, até eu acordar na carroça e sairmos daquela cidade. Emily me contou o que aconteceu, mas reviver aquilo deixa uma sensação bem diferente…
— Aquilo foi estranho mesmo. A impressão era que a memória era sua, mas ao mesmo tempo não era.
— Acho que é mais ou menos isso… Eu…preciso de mais um tempo, eu tento explicar depois. Ao menos descobri algo novo graças a você, apesar de não ser bem o que queria…
— Ainda tem problemas em matar pessoas?
<E> tinha desistido de tentar tirar a mão dela de Arian, e agora estava só a observando com uma cara emburrada.
— Você se acostuma… Mas meu problema era diferente, eu tinha medo de acabar matando quem eu gostava sem querer, quando meu corpo começava a se movimentar sozinho em combates… Nunca esqueci o que Cesar falou sobre acumular ressentimentos também… — Foi quando Arian notou que Kadia estava olhando de um lado para o outro da estrada, na direção da floresta que os cercava, e não mais prestando atenção no que ele dizia. — Ei, o que você…
— Detectei algo interessante…
Enquanto dizia isso, Kadia olhou para o seu Falcão negro, pousado sobre os pertences dela, na traseira do cavalo, que abriu voo e começou a rodar sobre a área em que eles estavam.
— A propósito, Arian, alguém já te disse que às vezes você fala igual um velho?
<E> olhou para ele com uma expressão de “concordo”, para a surpresa do mesmo. Arian riu.
— Já… E que não sou divertido… Acho que isso acontece quando apagam a sua infância… Eu perdi 14 ou 15 anos, nunca soube exatamente minha idade.
— Pelo menos você tinha um fantasma particular, eu queria alguém pra conversar assim o tempo todo.
— Não sei se ia gostar tanto, ainda mais quando seu fantasma te impede de se aproximar de qualquer pessoa do sexo oposto.
— É sério…? Você é…?
Arian não respondeu, fez uma cara de desagrado enquanto olhava para frente. Estava encarando <E>. Kadia começou a rir sem parar.
— Vocês dois, falem baixo, não queremos chamar atenção — falou Joanne da carroça para os dois à sua frente. Marko e Dorian seguiam cada um de um lado da carruagem.
— Ela está colhendo informações sobre você — disse Kadia, olhando para a carruagem atrás deles.
Lara estava falando com Marko da janela da carruagem. Joanne reclamou no início, mas acabou deixando para lá. Jon e Zek estavam conversando algo, e Irene olhando a paisagem.
— Lara? Sabe algo sobre ela?
— Não, mas ela parece realmente saber sobre você. E não tem uma personalidade muito boa pelo que notei, cuidado com o que ela diz…
— Não consegue ler a mente dela.
— Sua falta de delicadeza é assustadora…
— Sempre escuto isso também. Chato e rude… Me pergunto se as mulheres só se aproximam de mim por curiosidade… Calma, não estou falando de você <E>, você só deve ter mal gosto mesmo.
— Pare com isso, odeio pessoas se auto depreciando… E não posso ler a mente de nenhuma delas, foram treinadas para bloquear. Ficam pensando em um bando de coisas superficiais sem nunca se concentrar em nada importante perto de mim. Mas a Irene parece interessada no Marko… Já a Zek…
Kadia se distraiu ao notar que Marko estava olhando para ela com um sorriso na cara e piscando.
— Acho que ele te ouviu… — disse Arian.
— Estamos chegando a uma encruzilhada, se preparem para uma possível emboscada — disse Joanne.
— É possível, estão nos cercando faz algum tempo, mas acho que vão esperar uns dias — sussurrou Kadia.
— Como é?! — respondeu Arian, assustado, olhando para os lados. <E> ficou em pé nas costas do cavalo e começou a olhar de um lado para o outro empolgada.
— Para com isso! Disfarça… Não vão nos atacar por enquanto, estão esperando o resto do grupo, então deve demorar uns dias.
— Como pode estar tão calma?
Kadia fechou os olhos, como se estivesse se concentrando em algo.
— Tem só 12 deles, 5 arqueiros e 7 com armas de curta distância. Estão bem perto até, tem uma trilha na floresta à nossa volta.
— Você lê mentes ou tem visão em área?!
Arian estava olhando para ela perplexo.
— Não comprei o Nostrobulinous só por achar ele fofinho.
— Nostro o quê?!
Kadia apontou para cima, onde o falcão negro de Kadia ainda estava voando em círculos sobre a área.
— Posso entrar na mente de animais e ver o que estão vendo, é bem mais fácil do que com humanos. Posso ver tudo a nossa volta a uma distância enorme através dele.
— Deviam estar te pagando mais, deve ser a pessoa mais útil desse grupo… Não, espera, como disse que o pássaro se chama?
— Nostrobulinous.
Arian e <E> olharam para cima ao mesmo tempo, encarando o belo falcão de Kadia, com uma expressão de pena estampada em suas faces.
— Acha feio?
— Feio não descreve o que eu acho… — disse Arian, tentando não rir. Já <E> não era tão educada, estava rindo sem parar.
Kadia olhou para ele emburrada.
— Certo… Que nome daria então?
— Nost, me parece menos… humilhante?
— Que nome sem graça! E eu já dei um nome mais curto que o de costume, meu antigo pássaro tinha um nome bem maior.
— Pobre infeliz…
Depois disso, Kadia fechou a cara e não falou mais com ele por um tempo. <E> ficou entediada durante a tarde, então Arian teve que fazer algo que detestava, já que o deixava parecendo um louco para as pessoas à sua volta. Tirou um livro pequeno de uma bolsa, nas costas do cavalo, e o abriu na sua frente. De tempos em tempos passava a página, sem olhar para o livro. <E> adorava ler, mas não podia passar as páginas sozinha. Arian sempre carregava alguns livros com ele por isso. Ela lia qualquer coisa, desde manuais a contos. Arian propôs que ela ficasse bisbilhotando o que Jon estava lendo, mas pelo que entendeu da gesticulação da garota, ele lia e passava as páginas rápido demais, e ela não conseguia acompanhar.
Quando caiu a noite, pararam em uma clareira, à beira da floresta de Ark, perto da estrada. A carruagem ficou encostada perto de uma árvore larga de uns 30 metros de altura, bem no meio do local.
— Não era melhor termos ficado na estalagem daquela cidadezinha pela qual passamos faz algum tempo? — perguntou Dorian.
— Quero avançar o mais rápido possível, e aquela cidade é perigosa, só vale a pena pararmos em cidades protegidas por militares. — disse Joanne. — Muito bem, divisão de turnos para vigília em grupos, Kadia e Arian pegam o primeiro, Lara e Irene o segundo…
Lara soltou um resmungo sonoro nessa parte.
— Desista, não vou te colocar com ele. Marko e Dorian o terceiro, Jon, Eu e Zek o quarto.
— Eu não… ai!
Arian ia falar algo, mas Kadia o beliscou, o que ele interpretou como sinal para ficar quieto. Lara parece ter ficado incomodada com a intimidade dos dois, mas estava vermelha demais, graças ao comentário anterior de Joanne, para fazer qualquer coisa. Jon, por outro lado, estava com um sorriso de orelha a orelha, e Zek parecia feliz também.
— O que ia dizer? — perguntou Joanne.
— Deixa pra lá.
— Muito bem, eu vou cozinhar algo e vamos dormir.
Logo depois de Joanne dizer isso, Lara, Zek, Irene e Jon fizeram uma cara horrível.
— Não precisa, Joanne, eu mesmo faço, vai descansar — disse Jon.
— Eu estou bem, fiquei sentada o dia todo, preciso fazer algo para me distrair — argumentou a líder do grupo, enquanto tirava utensílios de cozinha da carruagem.
Jon desistiu e fez um sinal de negativo para Lara, Irene e Zek, todas com uma cara de decepção. Kadia estava observando o grupo com curiosidade.
— Acho que ela não cozinha muito bem…
— Não precisa ler mentes para entender… — disse Arian. — E bem, sempre tem a opção da ração militar.
— Não deixe a cara feia deles te assustarem, eu não cozinho tão mal assim… Na verdade acho que o problema está no paladar deles… E não, Arian, pare de olhar com essa cara pidona para Lara, proibi ela de te revelar qualquer coisa até chegarmos na metade do caminho. Metade das informações que ela sabe quando chegarmos à Amira, e a outra metade em Sunkeep. E não adianta resmungar, Lara diz que você é confiável, mas o que ela lembra é de você na infância, prefiro ter garantias de que vai ficar conosco até o final da viagem.
Arian se sentiu nos tempos de guild levando sermão da líder do grupo. Foi desagradável e nostálgico ao mesmo tempo. Pouco depois, comeu a pior carne de coelho de sua vida. Considerando o fato que ele quase não sentia o gosto do que comia atualmente, aquilo deveria estar ainda pior para os outros. Joanne não sabia usar temperos, ou misturava tudo por puro teste, gerando uma aberração, que para piorar, estava tão bem passada que a carne ficou seca.
<E>, como sempre, nas refeições, estava com uma expressão triste, por não poder provar nada.
— Acredite <E>, não está perdendo nada dessa vez… — falou Arian baixinho, fazendo uma careta para a carne que estava comendo.
— Não! Lamento, até a ração militar é mais saborosa… — disse Marko, virando uma garrafa de vinho na boca, na tentativa de limpar o gosto ruim da comida.
— Está bêbado, Marko?
— Senhorita Joanne, com todo respeito, estou sempre bêbado! Mas mesmo meu paladar afetado pela bebida não vai conseguir digerir isso — disse ele, que logo depois ficou de pé e pegou seu machado — Vou caçar algo, quem vem comigo? Arian?
— Não obrigado, na última vez que cacei algo com você, quase cortou meu pescoço tentando acertar um cervo a distância.
— Eu vou, mas se o que o tarado por orelhudas disse é verdade, você fica na frente, Marko — disse Dorian.
— Irene, vá com eles. Sei que detesta minha comida, embora nunca seja honesta o bastante para falar.
Irene se levantou envergonhada e seguiu Dorian e Marko, que se embrenharam na floresta.
Voltaram com vários coelhos algum tempo depois. Marko estava falando alguma bobagem para Irene, enquanto Dorian dava risada.
Mais tarde todos foram dormir, enquanto Kadia e Arian começavam o turno de vigília, comendo o que restou dos coelhos que Marko pegou.
Sentaram em uma pedra, segurando suas armas na frente do corpo. Próximo deles estava uma enorme árvore, a qual a carruagem estava usando de cobertura. Tinha algumas árvores menores aqui e ali, mas era um campo bem aberto, e dava para ver a estrada. Dorian estava em um saco de dormir embaixo da carruagem, as mulheres dividindo o espaço interno. Jon estava deitado no banco do cocheiro, tentando ler um livro usando uma vela. Zek se ofereceu para produzir luz com magia, mas ele recusou, dizendo que ela precisava dormir. Marko dormiu encostado na árvore gigante perto deles.
— Por que me impediu de falar com Joanne? — questionou Arian, olhando para Kadia.
— Você ia dizer que podia ficar mais tempo de guarda porque só precisa dormir metade do tempo de uma pessoa normal. Posso ler seus pensamentos superficiais sem tanto problema se encosto em você. Tenho uma ideia melhor de como podemos gastar esse tempo.
Arian fez um olhar de surpresa.
— Com o que exatamente…?
— Pare de pensar besteira! Mais tarde te conto. Posso continuar lendo sua mente enquanto estamos aqui?
— Não, se eu lembrar o resto agora não vou conseguir dormir.
— Sobre o que vamos conversar então?
— Já que está vasculhando meu passado, que tal me contar um pouco do seu.
Kadia olhou meio surpresa para Arian.
— Me parece justo… Posso pular as partes ruins? Também quero ter um sono tranquilo.
— <E> parece querer ouvir as partes ruins, mas acho que é só para te ver mal a noite mesmo… Conte o que preferir.
— Eu vim parar aqui por um portal. Eu tinha o equivalente a 16 anos na época.
— Está com quanto agora?
— Quanto eu pareço?
— Uns 20?
— Passou longe…
— Sua raça é como os elfos também?
— Não sou imortal como eles. Mas minha raça vive umas 20 vezes mais que os humanos.
— Então sua idade é…?
— Nunca disse que iria contar… — disse com um sorriso desafiador.
Depois disso, Kadia começou a falar sobre suas aventuras nos primeiros anos depois de vir parar naquele mundo, as pessoas estranhas que conheceu, e o que tinha feito de mais interessante. Também falou bastante de um humano que a ajudou quando tinha recém-chegado. Seus choques culturais devido a hábitos bem diferentes dos povos dos dois mundos foi a parte mais interessante, já que o resto ela superava sem grandes problemas lendo as mentes das pessoas à sua volta. Quando ela começou a falar dos cavalos do seu mundo em comparação ao dos humanos, os olhos de Arian brilharam. Começou a encher ela de perguntas, principalmente sobre os Nightmare, uma raça muito rara, originada do abismo, ou quarta dimensão negra, como chamavam o mundo de Kadia.
Quando veio a troca de turno, foram dormir, ambos encostados em uma árvore, perto de Marko.
Pouco tempo depois, acordaram, e se afastaram um pouco do grupo, para não acordar quem ainda estava dormindo.
— Já dormiram o bastante? — perguntou Jon, que estava de guarda com Joanne e Zek.
— Metade do que uma pessoa normal dorme é mais que o bastante para mim — disse Arian.
— O mesmo aqui — disse Kadia.
— Aonde vão? — perguntou Joanne.
— É hora da minha revanche — respondeu Kadia.
Na verdade acabou virando mais um treino, com Arian ensinando à Kadia as bases para usar uma espada direito, e posicionamento de pernas. Algo que ela admitiu nunca ter se preocupado até ali, já que a vantagem de ler mentes era o bastante para ganhar de quase qualquer pessoa.
Assim que acordou e viu os dois, Lara foi correndo até eles, dizendo que queria treinar também. Na verdade parecia que ela só queria ter o prazer de dar uma surra em Kadia com Arian olhando. Lara tinha mais técnica, e estava desviando dos golpes da demônio com facilidade, que parecia confusa tentando aplicar o que Arian lhe ensinou.
O maior problema, é que embora sua arma não fosse afetada, toda vez que a espada de Kadia era defletida pela de Lara, uma forte luz branca saía da arma e jogava um vento gelado em sua direção. Kadia se irritou e começou a usar seus poderes ao máximo para ler a mente de Lara, que começou a xingá-la de trapaceira. Arian achou curioso como ela revelou seu segredo sobre ler mentes de forma tão fácil, bastou deixá-la nervosa.
— Para de tentar entrar na minha cabeça! — gritou Lara.
— Troca para uma espada normal então… Melhor, Arian, me empreste a sua, aí a luta vai ficar justa.
— Não é uma boa ideia… — disse ele.
— Se quer tanto uma, pode ficar com a minha — disse Lara, jogando a espada, que cravou no chão, a frente de Kadia.
Kadia hesitou por um momento, ao notar que Lara estava com um sorriso maligno no rosto.
— Kadia não…
Antes que Arian pudesse terminar a frase, Kadia não resistiu e agarrou o punho da espada. Assim que ela encostou na arma, a luz do cristal azul da espada perto do punho brilhou, um grito aterrador de um animal se fez ouvir por toda a área, e o braço de Kadia começou a congelar. Ela tentou soltar a espada, mas sua mão estava presa devido ao gelo se acumulando. Uma fumaça branca estava saindo da arma e congelando tudo a sua volta gradualmente, mesmo a vários metros do objeto o ar ficou muito gelado. Kadia gritou de dor. Lara então, calmamente, se aproximou e encostou na espada.
— Se acalme… — disse ela, falando com a arma.
Kadia conseguiu soltar a espada, e se jogou para trás, bastante ofegante.
— E é por isso que não se toca em uma arma espiritual de outro usuário — disse Lara, com um sorriso de todo tamanho, ao ver o susto que Kadia tomou.
—Sua…
Kadia saltou para cima de Lara, e ambas começaram a rolar no chão usando técnicas de luta corpo a corpo, enquanto Arian tentava pará-las. Quando encostou em Kadia, no entanto, sentiu uma dor de cabeça absurda e caiu sentado no chão. Depois disso decidiu esperar elas cansarem. Não conseguia entender como Lara estava dando conta da força monstruosa de Kadia. Depois de um tempo, as duas finalmente pararam, em uma espécie de empate por exaustão.
— Como você…? Qual a sua… — disse Kadia, ofegante, sem conseguir terminar a frase.
— Raça…? Acabou se levar uma surra de uma humana — disse Lara, também parecendo sem fôlego, mas tentando forçar uma risada.
— Você não ganhou… E isso é… impossível! Sou muito mais forte que um humano.
— Sua força anormal? É inútil se eu puxar energia da dimensão dos celestiais para o meu corpo. Ela anula completamente os poderes de qualquer um vindo das dimensões negras que encostem em mim.
— Funciona comigo também? — perguntou Arian, interessado na conversa.
— Não, a sua força acima do normal é natural do seu corpo… não tem energia de outra dimensão envolvida.
— Espera, você sabe o que eu sou?
Lara o olhou pensativa por um tempo.
— Não exatamente, acho que só sua mãe sabia disso…
— Mãe?
Lara ia falar algo, mas viu Joanne olhando nervosa para ela.
— Desculpe…
Arian fez uma cara infeliz, não seria hoje o dia das respostas.
— Essas espadas, já li sobre várias, mas não sabia que faziam isso quando outras pessoas pegavam nelas… A sua faz o que Arian? — perguntou Kadia, tentando parecer mais composta do que realmente estava.
— A minha, pelo que foi avaliado por um especialista, está praticamente morta, então não faz nada tão chamativo. Mas não recomendaria tentar pegá-la também.
— Não mesmo, esse pedaço de lixo enferrujado quase quebrou meu braço uma vez… — disse Marko, aparecendo nas costas de Arian. Pela cara de sono, tinha acabado de acordar.
— Na verdade existe um erro no que eles disseram. Já li sobre casos em que a arma aceita dois donos, só é muito raro — disse Jon, que estava observando a situação com curiosidade, junto a Joanne e Zek.
— É como um livro ambulante que sabe tudo… — disse Dorian fascinado, atrás do garoto. Jon parecia meio incomodado com os estranhos olhos de interesse do mago.
— Só gostaria que a minha voltasse sozinha para minha mão. Já vi uma que fez isso. Seria muito prático poder arremessá-la e puxar de volta em combates. — disse Arian, olhando para sua espada.
— Assim? — Lara arremessou a espada dela em uma arvore próxima, e depois, ao colocar a mão para frente, a arma se soltou da árvore e voltou para sua mão sozinha, como se fosse puxada por ela.
— Que inveja… — disse o guardião, enquanto Lara dava risada.
Logo depois eles partiram. Voltando a posição de Kadia e Arian na frente e Marko e Dorian atrás da carruagem.
— Os outros chegaram… — disse Kadia.
— Como? — Arian não entendeu.
— Os mercenários. Mas não vão nos atacar ainda, estão esperando reforço… Não quer voltar à sua história enquanto isso?
— Maldição Kadia, quer mesmo se distrair com isso quando podemos ser atacados a qualquer momento? Vamos ficar em guarda, se sobrevivermos ao ataque, você continua.
— Você se preocupa demais, como pode ser tão medroso depois de tudo que dizem que já fez? Vai entender minha confiança em breve e… Opa, agora são 30…
O ataque só veio 3 dias depois, quando um grupo de mais de 50 mercenários já havia se juntado.
Próximo: Capítulo 26 – Imprevistos
Ao terminar dê um feedback breve do que achou do capítulo, isso ajuda o autor.