Fate/Extra (Jogo) – Um Fate bem diferente do comum! | Review
Desenvolvedora: Type-Moon & imageepoch
Ano de Lançamento: 2010
Duração: 30 horas
Traduzido: Sim (Inglês)
Sinopse:
O protagonista de repente acorda na escola e descobre que está preso em uma realidade virtual. Sem ter absolutamente nenhuma memória fora o seu nome, ele passa por uma situação de vida ou morte e consegue invocar o seu servo no último momento. Agora ele está fadado a participar da Guerra do Santo Graal em busca de ter um desejo realizado.
O maior problema no entanto, é que sua amnésia o faz se questionar o que ele é, e logo, seus motivos para lutar. Em um battle royale entre 128 participantes, mestres devem usar seus servos para eliminar os oponentes, caso contrário estarão mortos. Hakuno precisa sobreviver à guerra junto ao seu servo, ao mesmo tempo em que tenta descobrir quem exatamente ele é.
A super-popular visual novel Fate/Stay Night alcançou níveis de popularidade e sucesso financeiro inacreditáveis. Dentro da história principal, a exploração de um vasto universo de incontáveis possibilidades acabou sendo uma das características mais elogiadas da obra, como se o Nasu Kinoko pudesse prever o futuro. Graças ao sucesso, o que era uma obra, se tornou uma franquia que vem crescendo até hoje.
Eu diria que a maior vantagem dessas “incontáveis possibilidades” é que é possível sair do que é Fate/Stay Night e começar a explorar diferentes tipos de história, narrativa e personagens (Embora sempre sendo algo girado em torno do famoso “Santo Graal”). Certa vez decidiram deixar o Urobuchi escrever uma light novel explorando o passado de Fate/Stay Night, novel essa que foi chamada de Fate/Zero. Em outras ocasiões decidiram fazer histórias alternativas como Fate/Apocrypha ou Fate/Strange Fake. No entanto, como já é de se notar pelo título, hoje eu vim analisar o Fate/Extra, que é, na minha opinião, o mais “incomum” ou “diferente” que um spin-off de Fate conseguiu chegar.
Fate/Extra é uma obra que usa um cenário muito já conhecido hoje em dia: “Presos em uma realidade virtual”. Embora na época que a obra tenha sido lançada (2010) isso ainda não havia ‘decolado’ entre os animes, mas mesmo hoje diria que ainda continua tão “diferente” quanto era 8 anos atrás.
Na história, centenas de mestres e servos estão nesse battle royale estilo “torneio” onde a cada semana dois se enfrentam e só o vencedor sai vivo. O sistema do jogo é simples, no início da semana uma rodada começa, você tem 7 dias pra descobrir quem seu oponente e o servo do mesmo são, fortalecer seu servo na arena e usar essas informações obtidas como vantagens pra vencer na hora da batalha entre os dois. Claro, dentro desse sistema simples existem incontáveis variáveis das quais irei tocar mais pra frente.
O sexo do protagonista é escolhido por você, podendo ser o Hakuno, ou a Hakunon. A diferença no jogo é mínima independente de quem você escolhe, com a diferença de uns diálogos extras se você escolher uma protagonista feminina (Você pode nomear o personagem também).
No começo você pode escolher entre três servos: Saber, Caster ou Archer. Estes estão relacionados não só em quem te acompanhará nessa exótica Guerra do Santo Graal, mas também na dificuldade do jogo (Saber = Fácil, Archer = Normal, Caster = Difícil). Infelizmente se tiver interesse em mais de um dos três servos, será forçado a jogar o jogo completamente duas vezes já que existe todo o desenvolvimento do servo ao longo da história, e no fim dela você descobre sobre o passado do mesmo.
Em todo caso, já estamos aqui e ainda não comecei realmente a falar minha opinião sobre a obra, mas precisava contextualizar vocês para não ficarem perdidos.
Temos um clássico clichê logo de cara, que é o fato do/da protagonista não ter nenhuma memória do seu passado fora seu nome. E eu diria que esse é provavelmente um dos aspectos mais fortes da obra, se não o mais forte.
Fate/Extra é uma longa jornada do/da protagonista, constantemente lutando contra uma forte crise de identidade. Acordando em uma realidade virtual, no meio de um battle royale, visando o prêmio absoluto que é o poder de ter qualquer desejo realizado, porém essa posição é simplesmente colocar a carroça na frente dos bois para Hakuno(n). Afinal, para desejar algo você primeiro precisa saber o que você quer, e para saber o que você quer, você primeiro precisa saber quem você é, ter uma identidade própria. Seus objetivos nada mais são que o resultado da construção da sua existência.
A jornada em busca de preencher a casca vazia que é o/a protagonista é bem satisfatória, principalmente da forma que é feita. A cada semana um novo mestre aparece, esse personagem é trabalhado até o último dia, e no fim passa algo adiante para o/a protagonista, lentamente preenchendo o que antes era vazio.
No fim das contas, acaba sendo incrível como o Nasu consegue fazer um protagonista que caminha em direção ao passado e ao futuro ao mesmo tempo.
Ao longo da história, as duas heroínas começam a ajudar o/a protagonista a encontrar a si mesmo e seu propósito/razão de existência. Durante as várias e várias escolhas que aparecerão, você poderá entrar em uma das duas rotas, no entanto, a única diferença entre elas é o oponente da quarta rodada e, óbvio, os diálogos com a heroína que você escolher. A história permanece basicamente a mesma, por isso acaba sendo um pouco desnecessário fazer as duas rotas. Embora eu tenha dito “heroínas” e “rotas”, o romance no jogo é praticamente inexistente.
Com algumas exceções, a maioria dos mestres e servos na história são personagens bem interessantes e bem trabalhados, o que enriquece bastante a história e alguns momentos da obra.
O design dos mapas ajuda bastante nesse aspecto “psicológico” da obra, trazendo um mundo com aparência virtual, mas que ao mesmo tempo um tanto quanto psicodélico. Apesar de que isso é só no começo, os mapas são repetitivos e logo para de passar essa sensação, se tornando algo mais chato.
Ah claro, pra quem nunca jogou as obras da Type-Moon, aqui vai um aspecto que sempre ajuda na imersão das obras da empresa: O trabalho que colocam nos detalhes de algumas partes faz uma grande diferença se você presta atenção nas coisas. Por exemplo, no início da obra tem vários alunos aleatórios (Mestres participantes da guerra) com quem você pode conversar normalmente. Eles têm típicos diálogos de NPC, porém, conforme você avança na história, você percebe o número de estudantes diminuindo, e alguns dos diálogos tendo continuidade (Para uma direção mais trágica). Te faz pensar que eles também são, de fato, pessoas envolvidas ali, colocando a vida em risco. Esse é só um dos exemplos, mas tem outros aspectos que surpreendem nesse quesito também.
Bom, eu falei bastante bem até aqui, mas a verdade é que eu estive constantemente pulando um fator extra importante do jogo e que faz toda a diferença: O gameplay. E não digo isso positivamente.
No começo o gameplay é legal até, mas rapidamente se torna repetitivo e chato, e essa é a parte mais longa do jogo! Muitas vezes me vi querendo passar os dias rapidamente pra continuar a história, mas continuar avançando também significava ficar muito tempo matando monstros para subir de nível, o que era cansativo e prejudicava o ritmo da história.
Não só isso, mas o gameplay e a plataforma do jogo em si pareceram pesar muito na estrutura da narrativa. O Nasu pensou grande demais pra um console muito limitado, o que fez muitos grandes potenciais morrerem no meio do caminho, muitas das possibilidades que poderiam elevar Fate/Extra até o nível da obra que a originou, Fate/Stay Night, acabaram sendo bloqueadas, impedindo a obra de ser o que ela realmente queria ser.
E, sendo mais uma picuinha pessoal minha do que qualquer coisa, era realmente desanimador chegar na hora da tão esperada batalha de vida ou morte, e isso ser resumido basicamente em uma espécie de “pedra, papel e tesoura” , um battle royale com batalhas desinteressantes já perde uma boa parte do seu significado, já que gasta um bom tempo nisso.
A trilha sonora era razoavelmente boa na maior parte do tempo. Algumas trilhas específicas e outras adaptadas direto da trilha sonora de Fate/Stay Night são realmente boas, no entanto.
Já a arte é bem limitada. O jogo praticamente não tem nenhuma CG, o 3D é OK, e os sprites dos personagens são razoavelmente bons, eu particularmente até gosto da arte do Arco Wada, mas a arte dele na época ainda não estava tão polida quanto hoje.
O sistema do jogo até que é bem interessante, existe uma parte das opções onde você pode avaliar as informações obtidas dos servos que você conhece. Para quem gosta de mitos e história, como eu, acaba podendo ver uma grande gama de informação por lá ao mesmo tempo que aprende mais sobre os servos (Incluindo o seu próprio). A obra vem com uma grande quantidade de escolhas, o que pode levar para vários finais ruins ou diferentes momentos/diálogos que você pode ou não perder dependendo das escolhas que faz.
Para quem já é familiar com Fate/Stay Night, alguns rostos conhecidos estão presentes no jogo. Apesar de não serem exatamente os mesmos da sua obra de origem, ainda tecnicamente são, mesmo que em essência.
Você não precisa ter nenhum contato com nenhuma obra de Fate para aproveitar o Extra, já que a obra te contextualiza sobre tudo que você precisa saber além de ter sua história própria.
Fate/Extra conta uma boa história, com bons personagens, trabalhando excelentes temáticas junto com desenvolvimentos realmente interessantes e bem trabalhados, mas é impedida de realmente conseguir brilhar por conta das limitações impostas pelo gameplay e a plataforma em si. Ela ainda retém as características principais que podem agradar os fãs de Fate, como construção de mundo, figuras históricas e personagens carismáticos, mas arrisca em um estilo de narrativa e história bem diferentes do habitual, o que pode ser um agrado para quem não gosta de Fate também.
Sobre a adaptação em anime que está por vir, é possível que a obra consiga mostrar todo seu potencial dessa vez agora que as amarras foram removidas, embora também seja possível falhar miseravelmente no fim das contas. Esse é um caso específico onde uma adaptação tem chances iguais de ser melhor ou pior que sua obra original, mas ficarei na torcida para que seja melhor.
Avaliação:
Roteiro: 9/10
Personagens: 8/10
Trilha Sonora: 7/10
Arte: 6/10
Gameplay: 4/10
Entretenimento: 8/10
Nota Final: 7/10