As Crônicas de Arian – Capítulo 42 – A batalha dos anjos
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Capítulo 42 – A batalha dos anjos
— É um Ataluste, cuidado com o ácido que ele solta pela boca, e o cérebro dele está na cauda, não adianta cortar a cabeça, ela é só um disfarce! — Zek, instruída por Jon, desviou do ácido que a criatura expeliu pela cabeça, e cortou sua cauda. O animal caiu morto logo depois. Lembrava um cavalo sem pelos, só que com dentes pontiagudos, e uma cauda de crocodilo.
Jon já tinha perdido as contas de quantas criaturas tinham matado. Quer dizer, Zek tinha matado, ele só a instruía com o conhecimento recém adquirido, lendo os 10 volumes do livro dos monstros, que encontrou na guild do Arian. Pelo que entendeu de pessoas que encontrou pelo caminho, alguém invadiu e soltou várias criaturas exóticas que estavam em exposição no centro da cidade, e elas estavam fazendo o maior estrago.
Se sentir útil foi reconfortante para ele. Zek lutava muito bem, mas sem as instruções sobre como derrotar cada criatura, teria sofrido bem mais. Seu elmo tinha entortado com um golpe que recebeu do Ataluste, e ela foi obrigada a tirá-lo. Seu cabelo preto, todo molhado de suor, estava parecendo ainda mais curto que o normal.
Jon e Zek chegaram a uma área aberta, com uma fonte no meio, onde vários corpos jaziam sem vida no chão. Tinha um orfanato em uma das laterais do local. O garoto tinha passado por lá na noite do dia anterior, quando voltava com Marko e Dorian para a guild, depois de executar o plano que eles tinham em mente para ganhar dinheiro. No dia seguinte, ao cair da noite, quando ouviu uma explosão vinda desse local, pediu a Joanne para deixá-lo ir ajudar. A sacerdotisa, embora tentada, até porque veio de um orfanato também, colocou a busca de Lara como prioridade, deixando apenas ele e Zek irem até o orfanato, que ficava na parte norte da cidade. O problema é que demorou muito mais do que esperava para chegar lá, graças a quantidade de criaturas que enfrentaram pelo caminho.
Metade do local já tinha ido abaixo, e várias pessoas pareciam estar presas nos escombros. No centro do local, haviam três guerreiros. Um Jon reconheceu, era da guild de Arian, uma mulher usando uma máscara prateada, armadura leve, espada e escudo. O segundo era um homem, usando um manto marrom. Pela falta de uma arma cortante, e o cajado de madeira que estava segurando, usado como catalizador para reduzir o custo de energia espiritual das magias, era um mago. O adversário era um homem loiro com asas de anjo, usando de uma armadura de metal reluzente e uma espada, que tinha uma mistura de metal dourado e prateado.
— Apenas os classe S restaram… Por mais que eu tenha achado estúpido quando inventaram esses ranks, é realmente funcional para prever os melhores adversários — disse o celestial, lutando contra eles.
Zek e Jon aproveitaram a distração do celestial com os inimigos, para correrem até os destroços do orfanato, na tentativa de tirar os sobreviventes de lá.
No meio da praça, o mago começou a falar um encantamento, enquanto a guerreira, em uma armadura de couro marrom, correu até o inimigo. Os olhos do celestial brilharam e o mago caiu gritando no chão, como se os olhos dele estivessem queimando. Jon já leu sobre aquilo. Um dos poderes dos celestiais era afetar a mente humana, ocasionando uma cegueira temporária. A guerreira da guild de Arian, com espada e escudo em punho, resistiu. Jon entendeu o porquê logo depois, ao reparar que a máscara dela não tinha abertura para os olhos. Como ela estava lutando sem ver nada, ele não fazia ideia. Parecia estar concentrada, tentando escutar o celestial, que saltou na direção dela.
O golpe dele passou direto pelo seu corpo, sem afetá-la. Foi quando Jon ganhou a característica que precisava para identificar a raça.
— Uma ninfa… — Estava descrita no livro de criaturas mágicas que Jon leu. Podiam apagar sua forma física por uma curta fração de tempo, e conseguiam enxergar tudo à sua volta, mesmo de olhos fechados, bastando que seus pés estivessem tocando o chão. Sua força era um pouco acima da humana, e só existiam mulheres de sua raça. Quem olhava por muito tempo para o rosto delas, acabava hipnotizado, se tornando seu escravo. O celestial continuou a atacando, até que ela pareceu ter se cansado.
— Seu truque é bom, mas gasta energia demais.
Ele então fingiu um ataque com a espada, e assim que a ninfa voltou a forma normal, acertou um soco que quebrou a máscara que ela estava usando. Ela caiu com o rosto todo arrebentado. Tentava se levantar, mas estava tonta.
— Foi uma boa luta. Mas não adianta se levantar e olhar para mim, na esperança que aconteça algo. Sua magia de escravizar humanos não funciona em celestiais. E agora, adeus… — O celestial se preparou para cortar a cabeça dela, que apenas fechou os olhos.
Mas antes da lâmina chegar ao pescoço da ninfa, Zekasta saltou na frente dela e bloqueou o golpe. O chão abaixo de Zek rachou, tamanho o impacto do golpe do celestial. A espada dela estava com várias inscrições brilhando em dourado.
— Ela já está caída, não precisa matá-la! — disse Zek, encarando o celestial.
— Preciso, minha ordem foi eliminar todos os classe A e S da cidade, para garantir que não interrompam meu contratante… Não tenho nada contra nenhuma dessas pessoas, mas não vejo porquê poupá-los também. Alguns são poderosos o bastante para se recuperar e me atacar pelas costas a qualquer momento. Deixar adversários vivos é tolice.
O celestial acertou um chute em Zekasta, que a jogou contra uma parede de concreto, na qual ela bateu com toda força, gerando um forte barulho, e rachando parte da construção. Mas Jon não estava preocupado, isso não era nem perto do bastante para pará-la. Uma humana estaria morta, mas Zek não era uma. Ela se levantou, com sua armadura prateada, intacta. Sua espada e armadura eram especiais, e ela, muito mais do que parecia.
— Zek, ele é inferior a você, não se preocupe em machucar alguém, só use tudo que pode! — gritou Jon.
Ao ouvir isso, os olhos de Zek mudaram de cor, indo para um alaranjado. Ela então avançou sobre o celestial, que tentou bloqueá-la com sua espada, mas foi jogado para trás, tamanho o impacto do golpe.
— O que você…? Não tem asas, mas esses olhos! — O celestial ficou um tempo olhando para ela, até constatar qual era sua raça. — Essa força, olhos levemente alaranjados… uma valkyrian?
Valkyrians eram a classe 2 dos celestiais, nasciam com algumas diferenças em comparação ao padrão da raça. Mas a principal: eram mais fortes fisicamente, e imunes à maioria das magias existentes. Joanne não dizia que era nela em quem mais confiava no grupo de graça. Apesar de Jon, internamente, ter achado tolice dela deixar o membro mais forte do seu grupo, depois de Lara, junto com ele em uma missão secundária.
— Mas, suas asas… Ah, aqueles que nascem com mutações… Pobre criança… Então nasceu sem asas e te mandaram para viver nesse mundo?
Zekasta continuou o encarando de forma séria. As inscrições em sua armadura, e espada, estavam brilhando, da mesma forma que as do celestial. Não eram armas desse mundo, mas da dimensão onde nasceram.
— Não teria raiva disso se fosse você. O mundo celestial foi feito para pessoas que podem voar. Você nunca conseguiria ir de um local a outro em seu estado… — Ele se posicionou na ofensiva, à frente dela. — Muito bem, Valkyrian, você tem mais força do que eu. Então trate de me dar uma luta digna.
Os dois começaram a se atacar. O celestial, com mais experiência, e Zek, tirando vantagem de sua força e agilidade superior. A Valkyrian se distraiu olhando de leve para ver como estava Jon. Com o cabelo preto completamente branco, graças a poeira do local, ele continuava tentando tirar as pessoas dos destroços do orfanato. Nesse momento de distração, a espada do celestial veio com toda força sobre ela, que tentou bloquear, mas foi arremessada para trás pela força do golpe. Zek bateu com o corpo na construção ao lado do orfanato, e todo local onde Jon estava começou a tremer, ameaçando desabar. Zek olhou para ele, apavorada.
— Jon, saia daí! — gritou ela, enquanto se defendia do celestial, que voltou a atacá-la.
O garoto obedeceu, e se preparou para sair, mas então escutou o pedido de ajuda de uma criança, no meio dos destroços. Ele resistiu, até que escutou mais vozes pedindo socorro. Decidiu tentar ir até elas, mas quando finalmente achou duas gêmeas, cobertas de machucados, e com várias pedras em cima dos corpos, a parede em cima do local onde ele estava desmoronou. Jon fechou os olhos, não tinha mais o que fazer. Mas ele não morreu.
Zekasta tinha pulado para cima dele, e bloqueado a parede de esmagá-lo usando suas costas. Ela fez força, e jogou o bloco gigante de concreto para trás, mas antes que conseguisse se virar de volta para o adversário, uma espada tinha atravessado seu corpo, das costas ao peito. A arma atravessou sua armadura sem sofrer resistência.
— Achou mesmo que eu iria ficar olhando, enquanto você me ignorava? — disse o celestial, tirando a espada das costas de Zek de forma seca.
Zek cuspiu sangue, respirou fundo, e se virou para atacar o agressor, mas ele foi mais rápido e cortou seu braço direito, que segurava a espada. Ela gritou de dor. O homem então girou sua arma, abrindo um corte enorme no peito da garota. Em seguida, ela caiu nos braços de Jon, imóvel.
— A armadura padrão dos celestiais é leve e muito resistente à armas comuns. Mas contra espadas celestiais, é completamente inútil… — O sujeito estava encarando Zek, observando o estrago que tinha feito no peitoral da armadura da Valkyrian, que agora, estava completamente destruído, assim como a camisa preta que ela usava por baixo. O sangue escorria lentamente do ferimento, que subia de sua barriga até o peito.
— Desculpe… — disse Zek, com dificuldade. Ela então cuspiu muito sangue, gritou de dor, e logo depois, desmaiou.
— Por que está se desculpando? Eu… fui eu quem… — Jon não sabia o que fazer, só conseguia chorar.
— Não se preocupem, eu vou matar os dois, para nenhum ficar se sentindo culpado — disse o anjo, os olhando com frieza. — Adeus.
A espada do homem desceu. Jon não pôde fazer nada, fora fechar os olhos e colocar seu corpo sobre o de Zekasta. Mas a dor não veio… Imaginou se tinha morrido e não sentiu…
Quando abriu os olhos, uma mulher com asas brancas e algumas partes douradas, estava na frente deles. Ela parou a espada do celestial com uma mão e depois chutou sua barriga. A força do golpe fez o corpo do homem abrir uma cratera com o corpo no meio da praça, onde ficava a fonte. A mulher então se virou para Jon, com seus olhos brilhando. Nunca vira aquela cor, mas já leu uma descrição que batia.
— Uma… Solar? — Foram as palavras que saíram de sua boca.
A classe mais alta de celestial, os semideuses entre eles. Os humanos os chamavam de solares, porque em batalha, seus olhos brilhavam em uma forte cor laranja, lembrando o sol, e suas asas brancas tinham algumas marcas douradas. Os cabelos loiros da mulher voavam com o vento em todas as direções. Eram muito longos, passando um pouco da cintura. Desde que chegou aquele mundo, era a coisa mais bonita que ele já tinha visto. Não estava apaixonado, mas admirado.
A mulher, no entanto, o encarou com frieza. Ela se agachou e colocou sua mão na ferida do peito de Zek.
— Sua intenção era nobre humano, mas ia custar a vida dessa garota, que estava disposta a dar a vida por você. Poderia continuar vivendo bem sabendo disso? A vida de alguém disposta a se sacrificar por você, vale menos do que essas pessoas que você nunca viu, e que fugiram em vez de te ajudar? Ou está vendo alguém que você tirou dos destroços aqui te ajudando?
Ela tinha lido a mente dele? Jon não teve certeza, mas já leu que os solares podiam fazer isso. Um forte brilho surgiu da mão da Solar, e o ferimento no peito de Zek regrediu quase que instantaneamente.
— Não tenho tempo de curá-la por completo, mas ela vai viver. Infelizmente, não graças a você… Ela gosta muito de você garoto, bem mais do que merece.
Jon não conseguia dizer nada, seu corpo estava paralisado. Não sabia se era pelo que a mulher disse, ou por sua presença, que era algo muito acima dele, algo divino. A mulher então se virou, e começou a caminhar lentamente até o celestial, que levantava com dificuldade do chão, tossindo sangue depois do chute que levou dela.
— Fica fora do meu caminho Lux, ou eu juro que mato você também. — Os olhos do celestial brilharam, mas Lux não parecia ter sido afetada, como os outros.
— É louvável o que está fazendo por ele, Herz, mas não vou deixar que mate todos aqui por isso… Vou acabar com sua obsessão de uma vez por todas. Encare como um presente, para você e para nossa raça, que você não para de manchar.
— Quem é você para me dizer isso? Largou tudo por aquele humano!
— Larguei, mas nunca massacrei inocentes para ficar com ele. Se deseja salvar seu amigo humano, procure outro caminho…
— Eu já tentei todos! Nosso pacto tem um limite, ele não vai aguentar muito mais tempo… Victor é minha única opção.
— Se acha isso, você vai morrer aqui.
Lux tirou uma espada da cintura e partiu para cima dele. A arma era majestosa, toda em prata, com símbolos esculpidos na lâmina, todos com um forte brilho alaranjado.
Herz desviou do primeiro golpe, e tentou bloquear o segundo com sua espada, mas ela foi estilhaçada quando encostou na arma de Lux.
— Você não tem a mínima chance. Só fique quieto, vai ser rápido…
Lux foi interrompida pela explosão de uma construção perto dela. Todo o prédio veio abaixo. No meio da fumaça, dava para ver uma mulher com orelhas élficas, cabelo preto, e olhos amarelos, segurando pelo pescoço, uma mulher com chifres. O corpo dela foi sendo desintegrado, enquanto dava seu último grito. Depois disso, a mulher de cabelo preto caminhou lentamente para fora da fumaça, gerada pela queda da construção. Estava usando uma roupa que misturava marrom e branco. Usava uma cinta e luvas de couro, e por baixo, um vestido branco, que era aberto na parte da frente, revelando as pernas, cobertas por uma calça de couro marrom, bem justa. Era uma vestimenta estranha. A mulher era linda, embora não tivesse muita expressão, essa parte lembrava Zek.
— Já acabei com o meu, Lux, porque está demorando tanto? Lan pediu para sermos rápidas.
— E para evitar chamar atenção, sua maldita exibida! Como colocar um edifício de cinco andares abaixo é chamar pouca atenção?
— Amira…? — Herzin parecia muito assustado ao reconhecer a mulher que saiu da fumaça. Ele começou a caminhar lentamente para trás e, de repente, abriu as asas, se preparando para fugir.
Lux foi tão rápida que pareceu ter teleportado, aparecendo na frente dele e acertando um soco em seu peito. Sua mão estava com um forte brilho dourado, quando o fez. O choque dela com o corpo gerou o barulho de uma explosão, e o homem voou arrebentando tudo que tinha no caminho, até bater no muro da cidade, e o colocar abaixo com seu corpo.
— Dela você foge, seu desgraçado? — Lux parecia furiosa.
— Olha o que você fez… — disse Amira, apontando para a parte do muro destruída. Ainda não tinha muita expressão, mas parecia nervosa pelo modo que falou.
Lux a ignorou e voou atrás de seu adversário, com Amira correndo atrás. Quando a celestial enxergava uma pessoa viva em meio aos destroços, rapidamente lançava uma luz dourada para regenerar superficialmente seus ferimentos, mas não se dava ao trabalho de retirá-las, trabalho que Amira estava realizando.
Jon só conseguia olhar boquiaberto para a coisa toda. Tinha presenciado o mais perto que já chegou de uma luta envolvendo deuses. Em seus braços, Zekasta ainda respirava com dificuldade, mas tinha acordado.
— Você está bem? — perguntou ela.
— Estou ótimo, Zek… graças a você. E… me desculpe… de verdade… Eu… Ele tinha razão, não é tão simples quando acontece com você…
Próximo: Capítulo 43 – O Cavaleiro idiota
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