As Crônicas de Arian – Capítulo 43 – O herói idiota
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Capítulo 43 – O herói idiota
— O que está fazendo aqui, Lancaster? Pensei que não interferisse mais com os humanos…
Um homem de cabelo branco, aparentando uns trinta anos, com a pele mais branca que o normal e olhos vermelhos, estava a uns 10 metros de um sujeito de cabelo preto, com um ar bastante amigável.
O primeiro usava uma roupa de metal e couro, com um desenho bastante refinado. Já o segundo, usava uma armadura negra chamativa, com vários desenhos que lembravam partes de dragões.
— Estou apenas fazendo um favor para a mãe de um velho conhecido. Fora que, cinco classe SS contra aquelas pessoas parece um tanto… injusto? — disse Lancaster, o homem usando a armadura negra, parecendo bem relaxado.
— Fala como se você aqui, contra qualquer um de nós, fosse algo justo… — reclamou o outro, que parecia cansado, com várias partes de sua armadura quebradas devido a uma luta que já se prolongava há algum tempo.
— Sou só um reles humano, Raziel, já você é um vampiro milenar…
— Não… Você era um reles humano, mas isso foi há mais de 1000 anos, cavaleiro de dragão.
— É um título bonito… Infelizmente, Lux não gosta dele. Tentou cavaleiro dos celestiais, mas não pegou, para a felicidade da Amira.
Foi quando parte do muro, a vários metros de onde eles estavam, explodiu, voando fumaça e destroços para todo lado. Um pequeno pedaço do muro de 50 metros de altura veio ao chão.
— Falando nelas… Acho que devia ter sido mais claro na parte do ‘cuidarem de dois classe SS sem chamar atenção’— sussurrou Lancaster, observando a situação.
— Pensei que era só você… — O vampiro parecia assustado.
— Me conhece há anos, Raziel, já me viu separado delas? Não posso fazer nada sem ser constantemente vigiado… Tentar dar um presente surpresa é um desafio a cada ano. Se bem que, eu não gosto de deixá-las sozinhas também… Somos um bando de idiotas ciumentos no fim das contas…
O vampiro o olhou com um ar de desagrado.
— Honestamente? Você devia ficar calado, Lancaster, fica mais ameaçador assim. O contraste do que pode fazer, e o quão patético parece quando fala alguma coisa, deve ser o que mais detesto em você…
— Se chama humildade, deveria aprender um pouco…
— Lux, para de destruir a minha cidade! — gritou a elfa de cabelo preto, se aproximando da celestial, que tinha acabado de chegar ao local, vindo pelo caminho destruído. A energia que Lux lançou sobre Herz causou mais estrago que o próprio indivíduo, que não seria capaz de abrir uma cratera em um muro de 50 metros, e colocar parte dele abaixo, apenas com o corpo.
— Não é sua cidade, só deram seu nome porque o Lan deu a ideia — retrucou a mulher, nervosa.
— Mas foi em honra a mim e ao Lan que construíram essas estátuas — apontou ela, para uma próxima, meio destruída por pedaços do muro.
O adversário delas estava caído em meio aos destroços, tentando se levantar, mas boa parte dos ossos do corpo estavam quebrados. A armadura foi completamente destruída, e seu rosto estava desfigurado. Ele parecia estar concentrando uma quantidade absurda de energia celestial em si mesmo, tentando se regenerar, enquanto Lux e Amira brigavam.
— Honra nada, você deu dinheiro para construir elas e esses muros. E ainda fica bancando a versão da história onde eu não existo, que você mesmo escreveu… “E ele olhou para ela, com aquela pele suave, e rosto indescritível, como se fosse a coisa mais bonita que já viu na vida”… Você estava nua, toda machucada e coberta de lama dos pés à cabeça, parecia um animal querendo comê-lo vivo! Você mudou a história toda no seu livro.
— Essa é apenas a sua interpretação…
— Eu vi isso na mente do Lan!
— Ele estava quase morrendo, devia estar enxergando mal… E a história que você escreveu ficou muito pior: “Matou-a como se não fosse nada”. Acha mesmo que conseguiria me matar?
— Quer testar…
As duas começaram a se encarar, com seus olhos brilhando. O chão abaixo delas começou a rachar, e um vento forte vinha da direção das duas.
Antes que começassem a brigar, no entanto, o celestial que Lux havia arremessado no muro, se levantou e lançou uma energia dourada em cima delas.
Lux empurrou Amira e desviou. Depois voou em direção ao adversário e quase o cortou ao meio com sua espada. Quando ele desviou do golpe, Lux acertou um soco que o lançou contra uma pequena estátua de Amira e Lancaster, a esmigalhando na hora.
— Ah, aquela estátua que eu quebrei era de vocês? Desculpa — provocou ela, fazendo uma voz inocente.
— Você fez de propósito!
Amira teleportou para frente do celestial arremessado, que tentava se levantar com dificuldade, e segurou sua cabeça. Ele gritou de dor, enquanto seu corpo era desintegrado, até não restar nada.
— Ótimo, se livrou desse estorvo. O idiota devia ter tentado fugir em vez de me atacar… — Lux começou a andar calmamente até Amira. — E agora, vamos decidir quem é mais forte.
Lan estava observando as duas e rindo.
— Poderia parar de me ignorar? Isso me ofende — disse Raziel, olhando para ele.
— Não acha que elas ficam ainda mais lindas quando brigam?
— Não, parecem duas loucas imaturas, com mais poder do que realmente merecem.
— Olha como fala das minhas esposas, Raziel…
Lux e Amira estavam se encarando, enquanto tudo à volta delas voava, o chão estava rachando e a terra começou a tremer.
— Opa… Se eu não for lá pará-las, essa cidade vai virar pó. Vamos acabar logo com isso, seu vampiro ranzinza.
Raziel entrou em posição defensiva, enquanto olhava de um lado para o outro, procurando algo.
— Cadê aquela mulher que está sempre com vocês?
— Não vai querer ela aqui, é pior que essas duas, acabaria destruindo a cidade inteira sem querer.
Lancaster fez uma postura ofensiva.
— E então? Quer correr, ou acabar logo com isso?
— Não vim aqui só pelo pagamento, realmente desejo por um adversário à altura. E meu Rei pediu um relatório sobre o tal de Arian, trabalhar para o Lich era só um disfarce.
— Interessante… Espero que o garoto e seus amigos sobrevivam aos dois classe SS que sobraram, eram os mais fracos dos cinco que tinham aqui…
— Ironicamente, o mais forte deles está na sua frente, e não parece estar ligando muito…
— Sempre resmungando… Vamos resolver em um movimento então, não quero destruir mais essa cidade. Amira está sempre doando boa parte do dinheiro dela para cá.
— Muito bem.
Raziel desapareceu, deixando uma leve fumaça para trás. Lancaster fechou os olhos, e movimentou o escudo, que estava usando, rapidamente em três direções, exatamente os locais onde Raziel se teleportou em sequência, tentando atacá-lo com uma espada curva. Depois, Lancaster abriu os olhos, e pareceu que iria cortar o ar, mas Raziel apareceu ali no momento que a espada desceu, levando o golpe em cheio, que destruiu sua armadura e abriu um rasgo em seu peito. Ele teleportou para trás, se ajoelhando.
— Eu perdi, de novo… Como combinado, vou abandonar a missão do Victor, e do meu Rei. Mas ele provavelmente vai me enviar de novo… — disse o vampiro, respirando com dificuldade, enquanto o ferimento em seu peito se regenerava rapidamente.
— Certo, certo… Agora, eu vou tentar parar aquelas duas antes que destruam tudo por aqui… — A armadura de Lancaster sumiu, deixando apenas a roupa comum que ele estava usando por baixo. Ele então correu em direção a Lux e Amira. — Amores, parem com isso, eu gosto do livro das duas…
Isso só as deixou ainda mais nervosas, e os três começaram a discutir. Um pouco depois, as garotas se acalmaram, e o chão parou de tremer. Raziel ficou lá, observando tudo como uma forma de se obrigar a encarar a realidade, de que um dos heróis mais famosos de seu mundo, e que ele admirava quando criança, não passava de um idiota loucamente apaixonado por uma demônio e uma celestial.
Próximo: Capítulo 44 – A Verdade
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