The Pale Horse – Morte, Desejo e Paixão |Review
Aviso: Esta análise contém alguns spoilers da obra. boa leitura.
The Pale Horse é um manhwua (quadrinhos coreanos) de autoria de Choo e Hae-Yun com temática histórica e sobrenatural que ainda está em publicação pela Daum Webtoon.
A história é ambientada na França, em 1835, e se foca em Rose Dupré, uma garota bonita que é intimidada e chamada de a filha da bruxa.
As pessoas dizem que sua mãe é uma bruxa que mata e come seres humanos. No entanto, Marie e Pierre, seus únicos amigos, não acreditam em todos esses rumores e decidem proteger Rose das hostilidades dirigidas a ela.
Contudo, quando um estranho chega a cidade, as coisas tomam uma reviravolta brusca e os três são empurrados em uma série de eventos que fazem os rumores não serem mera superstição.
O titulo se refere diretamente à Morte que é seguido por Hades, um dos quatro cavaleiros do Apocalipse , citado na Bíblia quando os sete selos são abertos.
A razão pela qual a bruxa também é conhecida como “O Cavalo Pálido” é porque sua existência não traz nada além de infelicidade, pranto e destruição.
Sinceramente, os primeiros capítulos apresentam aquela velha atmosfera clichê de uma donzela gentil e meio melancólica sofrendo preconceito e que é enganada e jogada contra a sua vontade em um jogo perigoso.
Que acaba levando o leitor a achar que as coisas realmente seguiriam este caminho e que ela acabaria sendo amaldiçoada para salvar seu amigo, até acontecer a revelação de quem, e o que era a Bruxa.
Sendo o que realmente me fez apreciar bastante esta história: a carga dramática, a construção dos personagens, e sua conexão com a história da bruxa, e a própria bruxa.
Os personagens inicialmente apresentados em arquétipos padrões são humanizados e caracterizados de uma forma que definitivamente lhes dá facetas diferentes e muita solidez.
Eles são multi-facetados, eles te emocionam, te causam repulsa, te causam pena, te prendem a malícia, os desejos e pecados da própria insanidade e miséria no qual se encontram.
Sendo a Rose a minha personagem preferida da obra, porquê ela é extremamente complexa, caótica. Ela não tem um comportamento padronizado e isto não é erro na escrita, é da própria concepção da personagem.
Além da obrar tratar o conceito de imortalidade não apenas como um fardo que lhe traz melancolia e tristeza,mas como algo que definitivamente vai tirando a sua humanidade e sanidade mental.
Sinceramente, depois de você viver anos e mais anos vendo as pessoas nascendo e morrendo, a vida tem significado algum, e as pessoas realmente acabam se tornando meros brinquedos.
Porque você não quer mais sofrer, não quer mais se importar, se torna quase totalmente apático a vida humana e se não agir assim, o que lhe resta é apenas desejar a morte porque todos que você já amou, ou amará, virarão pó e lembranças.
Lembremos que o cavalo pálido é seguido pelo Inferno, e quer um inferno maior do que esta situação? Além de sua necessidade de se alimentar de outras pessoas do qual seu corpo não pode se livrar? Preço de imortalidade, pelo menos nesta obra.
E isto é bem claro quando vemos a bruxa que foi amaldiçoada com a imortalidade tentar destruir tudo o que as outras pessoas possuíam, ou tentar tomar para si, apenas porque ela não poderia ter aquilo.
Mas também vemos a sua consciência moral, porque ao se debruçar sobre as memórias de todas as pessoas que ela machucou, ela consegue se sentir horrível, detestável. Ela chega ao ponto de não querer existir e se “matar” , apenas para esquecer mesmo que temporariamente já que ela é imortal.
Então não dá pra descrever a personagem como alguém definitivamente bom, porque ela é perversa e mesquinha, nenhum pouco altruísta, porquê se coloca sempre em primeiro lugar, não medindo que suas ações e palavras possam acabar magoando até mesmo quem ela ama.
Mas também não é essencialmente má, ela se pune por seus erros, tem alguns atos de bondade e auto-sacrifício, como ter que deixar a pessoa que ama para não matá-la (e Guines também adora fazer ela se machucar para voltar pra ele).
Os personagens nesta obra realmente são humanos, eles amam, odeiam, se prendem a desejos de vingança, se apaixonam, se decepcionam, sofrem crise de identidade, tem desejos de morte, se prendem a coisas que vão destruí-los e continuam errando, errando e errando porquê são imperfeitos.
O que traz luz ao fato que não há um real antagonista nesta história, porque todos os personagens tem suas falhas, o que faz com que você questione constantemente o que de fato é certo ou errado, esboçando bem que a moral de cada pessoa é subjetiva, que pode estar de acordo ou não com a moral vigente na sociedade.
Talvez o barão Guines pode ser apontado como o grande vilão que brinca e mexe com as pecinhas que são os personagens na obra, mas, mesmo assim, suas ações não aparentam ser apenas psicopatia ou pura maldade sem razão, mas tentativas de fazer a Rose ser sempre dependente dele e do seu amor .
Como ele bem esboça, não concebe que Rose possa ser feliz com outra pessoa, já que ele é o único que a aceita e compreende incondicionalmente, preferindo vê-la “morta” do que amando alguém que não seja ele.
Mas como dito, igual ao Guines, a própria Rose ou Rosalind (nome real) poderia ser considerada a antagonista de toda a narrativa, porque são suas ações que diretamente provocaram todos os conflitos e sofrimentos no enredo.
Além do Guines também ter sido um dos alvos de seu egoísmo, porquê ela que o tornou o que é atualmente e despertou seu interesse pela bruxa, e praticamente o usou da mesma forma que usava outros homens, simplesmente enjoando dele.
E aqui chegamos no ponto de busca pelo amor no mangá. O relacionamentos construídos e experienciados por Rose, Pierre e Guines, esboçam as várias faces no qual o amor se apresenta: o amor fraternal, o amor de pai e mãe, o amor advindo da paixão, etc.
Além de deixar claro que o amor pode ser destrutivo para algumas pessoas, assim como um caminho de renascimento para outro indivíduo. Se expressando como algo agressivo e possessivo como vemos na devoção do barão pela bruxa, mas também como algo mais puro e desprovido de tanta malícia, como vemos com Pierre.
Sobre o renascimento no amor, acredito que este seja o processo que a bruxa vem desenvolvendo atualmente com Pierre, já que todos os homens com as quais ela teve contato queriam extrair algo dela (seja imortalidade ou prazer carnal) ou tê-la como posse (caso aparente do Guines), mas com ele parece ser algo diferente.
Sendo uma coisa interessante esboçada no manhwua: Não é a quantidade de prazer, diversão, sexo, planejamento, manipulação ou intimidação que vai fazer alguém amar você, ou você amar alguém, porque o amor não é algo que se pode forçar em outro indivíduo, amar é uma escolha e construção individual.
Contudo, apesar dos personagens possuírem uma boa concepção e serem psicologicamente usados de forma interessante no roteiro, a obra é uma montanha russa como a própria personagem principal.
Tendo ao meu ver altos e baixos, algumas situações como da revelação da bruxa são bem compostas e cadenciadas, escrita de uma forma realmente orgânica e funcional.
Mas tem outras que definitivamente não tem como não compreender como conveniência ou forçação de barra do roteiro, a exemplo, uma determinada parte no qual Pierre esta fugindo da policia e acidentalmente entra no quarto de quem? Isto ai mesmo, por destino ele entrou no quarto da Rose.
A situação em si é legal porque transmite aquela sensação de desespero pra não ser pego e descoberto, mas o restante é realmente acreditar que de trocentas casas na cidade, por milagre divino, ele invadiu a da ex-amiga.
Além disso, a arte da obra é muito bem feita e acabada. O sombreamento e a coloração possuem todo um trabalho harmônico e conceitual. Adoro quando o artista muda a tonalidade dos cenários pra se adequar a uma época, ambiente especifico, ou por simples teor artístico.
A exemplo, nos flashbacks com Guines a arte é expressa em coloração acinzentada e quando contam algo do passado de forma mais figurativa, usam contornos, sombras e silhuetas, reproduzindo praticamente iluminuras.
O artista sabe usar muito bem a iluminação também, mudando bruscamente a atmosfera só por tonar o cenário mais claro ou escuro, além de detalhar bem o vestuário dos personagens.
Apesar do traço de manhwua ser mais suave e não ser tão carregado, não tem como dizer que não é uma arte bem trabalhada, já que o autor usa muito bem a perceptiva e compõe bem os cenários.
A sociedade apresentada na obra também é interessante, já que percebemos que os caçadores (matadores de seres sobrenaturais) são algo extremamente necessário e requisitados pela população, mas igualmente descriminados e depreciados.
Percebemos também que o desprezo maior advém, principalmente, das classes mais nobres e autoridades maiores, já que os camponeses parecem respeitá-los e reconhecê-los melhor, mas ambas as classes parecem ceder facilmente as suas ambições e, portanto, são bem corruptíveis.
Então The pale Horse (se continuar nesse ritmo) é uma obra que por enquanto eu recomendo para quem ainda não leu manhwua e experimentou algo fora os mangás japoneses.
Além disso, para quem gosta de romance, psicológico e um tico de sobrenatural, ela nos presenteia muito bem, principalmente por possuir uma heroína que de fato não sabemos por quanto tempo será uma inimiga ou amiga.
Observação: A obra atualmente tem 221 capítulos com 66 traduzidos em inglês e 111 em italiano, para quem souber uma das duas línguas, divirta-se. As traduções em inglês foram encerradas.
Nota do autor: 4/5
#Extra