Kimetsu no Yaiba #01 e #02 |Impressões Semanais
Eu vou admitir que não sou mais tão fã de battle shounen, porque a maioria dos mangakas seguem a risca o escopo ou padronização desse tipo de história, e não tentam diferenciar nada na narrativa, inclusive, o que mais me irrita é a criação dos protagonistas, a maioria é portadora de uma bondade excessiva.
E não compreendam eu reclamando do personagem ter empatia, afinal personagens que são extremamente frios e indiferentes também são problemáticos, mas estou reclamando de por exemplo, perdoarem completamente o inimigo que matou todos os seus amigos ou se recusar a matar mesmo que esta seja a unica solução no momento.
Mas de vez enquanto alguns autores me surpreendem porque conseguem transmitir mais carisma aos personagens ou conferir um tom bem mais obscuro e sério a história, o que foi o caso de Fullmetal Alchmist, Noragami e espero que o de Kimetsu no Yaiba.
O começo do anime se mostrou bastante promissor, não apenas pela qualidade da produção, afinal a Ufotable é atualmente um dos melhores estúdios de animação do Japão e nunca entregou algo que não fosse visualmente bonito e bem animado ao público.
Eles sempre tiveram este esmero de construírem cenários emersivos, bem detalhados, com um bom uso de filtros digitais e CGI. E o design de personagens deles sempre foram pessoas que fizeram um trabalho fino, as roupas os assessórios, é tudo muito bem desenhado e contextualizado.
Contudo, nessa produção você realmente ver a staff entregando tudo que ela pode e consegue fazer para tornar a obra algo magnifico e expressivo, não apenas adaptar por adaptar, mas um real investimento humano em trazer uma narrativa bem feita e uma reconstrução do mangá para a animação.
E se na temporada passada Kaguya-sama foi um exemplo de anime com direção presente e de uma staff que realmente deu sua alma a animação, nessa temporada um dos animes com o privilegio de realmente ter uma direção com toda a certeza é esta obra.
Todas as cenas que requereram uma construção visual e sonora tensa e consideravelmente mais intensa foram bem conduzidas. Cada detalhe focado, a iluminação utilizada, os olhares, os sentimentos, tudo foi muito bem trabalhado para transmitir o que deveria ser transmitido.
Engraçado que na ultima produção do Haruo Sotozaki não vi um toque tão ativo e marcante dele como em Yaiba, e se você não é tão ligado assim nos nomes na staff, ele é o diretor de Zestiria, que é um anime lindo, tem uma arte orgásmica, com um uso magnifico de luzes, cores, etc, mas com uma direção e roteiro morno.
Vale lembrar que este diretor é de certa forma experiente como animador, já trabalhou em outros tales e animes como key animator ou diretor de episódio, então ele sabe animar e o que fazer. Contudo, nesta obra eu sinto que ele remente desejou mostrar o que ele é capaz de fazer.
E sinceramente, ver que o diretor esta empenhado em dirigir e explorar as habilidades de seus animadores, me deixa feliz e é o que eu espero de toda a adaptação de jogos, VN, LN ou mangás.
Realmente, aprecio quando abusam da capacidade de criação e de recursos narrativos em um storyboard. Um exemplo seria o uso da perceptiva em primeira pessoa ou plano subjetivo durante alguns instantes, o que foi utilizada nos dois episódios, como na parte do Tanjirou indo resgatar a irmã do corpo do oni.
Outro exemplo seria a movimentação da própria câmera para evidenciar alguma coisa ou algum angulo do personagem focado, por exemplo, os giro dado durante alvejamento do Giyuu a Nezuko enquanto ela atacava o irmão.
Estes detalhes na animação demonstram que o diretor esta explorando bem sua equipe de animação e realmente utilizando com primor o uso de diversas técnicas, não se contentando apenas em fazer o padrão.
Soma-se a isto tudo uma composição muito marcante de trilha sonora, que devemos dizer que é um trabalho no qual Yuki Kajiura conseguiu me deixar de boca aberta, não que ela seja uma compositora ruim, pelo contrario, mas o estilo das ost nesse anime é um tanto quanto diferente do que ela habitualmente faz.
Claro que a trilha ainda tem aquele tom explosivo e épico que é marca dela, mas eu sinto que ela renovou os ares, não esta abusando tanto de orquestra e voz, mas optou por um instrumental um pouco mais puro.
Inclusive eu gostei que que ela empregou o tom da música clássica japonesa em suas composições, se você aguçar seus ouvidos, vai ver que a ost esta bem orientalizada em diversos momentos.
O que casa bastante com a própria ambientalização da narrativa que é de época. Eu chuto o período Taisho pelo traço do uniforme do Giyuu que lembra muito o uniforme imperial, mas por não ter aparentemente aquele reboliço do período Meiji , da revolução seguida de Segunda Guerra Mundial, pode ser realmente um tempo após.
Agora falando da narrativa em si, eu achei interessante já começarem introduzindo um fiozinho da situação tensa e desesperadora do final do primeiro episódio, porque isto acaba motivando o espectador. As vezes pode dar errado porque as pessoas ainda não conhecem muito bem os personagens e não vão se importar com eles.
Contudo, este tipo de introdução produz a curiosidade de querer saber como o personagem chegou naquela situação. Porém, é necessário apresentá-los de forma eficiente e fazer uma pequena conexão com o público para que quando chegue o momento, a construção daquele evento realmente te prenda.
O que o diretor conseguiu mostrando de maneira natural a relação do protagonista com a família e um pouco da antiga vida cotidiana que possuía antes que ele perdesse tudo. O que eu não gostei foi da exposição, principalmente na cidade e com o velho da cabana.
Tudo bem que você precisa passar certa informações para o espectador, mas alguns diálogos ou situações eram apenas para lacrar certas coisas como o olfato super aguçado do protagonista ou o fato que ele era amado por todos, tem como você fazer isto de maneira mais sutil e realmente orgânica.
O protagonista também parecia Jesus, e aqui voltamos aquele probleminha que citei de protagonista super bondoso e gente boa. Tanjirou era paticamente aquele severino que fazia tudo que as pessoas pediam para ele.
E a informação sobre os onis e os caçadores, não acham que isto deveria ser de conhecimento comum, mesmo sendo lendas? Então não era pro Tanjirou já ter ciência de tudo isto sem precisar de alguém dizer para ele? Afinal, ele não deveria ter escutado falar sobre os onis em algum momento da vida dele até ali?
Mas tirando estes pequenos problemas que para mim são inerentes do shounen em si, eu gostei de como toda a cena foi arquitetada. É uma situação pesada, você sente o desespero do protagonista, mas a produção conseguiu que não fosse aquela demonstração de cena violenta que te faz querer vomitar.
Muito parecida com a cena do massacre da vila pelo culto em RE:Zero, no qual Subaru se depara com os corpos dos aldeões enquanto carrega o corpo da Ren no 15ª episódio. Claro que aqui temos no meu ponto de vista uma exibição mais forte da atrocidade , mas há aquela sutileza e suavização para não deixa a coisa tão densa.
E o segundo episódio não decepcionou nenhum pouco, continuando com a mesma pegada do primeiro, com aquelas partes mais tranquilas no inicio, mas com o restante da coisa bem movimentada e cheia de ação. E cara é ação tensa, você sente na pele a situação, que aquilo ali é vida ou morte mesmo, qualquer descuido e acabou.
Você sente este desespero e urgência não apenas na luta contra o primeiro oni que o protagonista encontra, mas no teste de descer a montanha, porque se ele não conseguisse chegar antes o amanhecer era esquece, você nunca vai ser um caçador de demônios.
E ainda acho que para coisa ficar mais interessante era para o Urokodaki ter dito que iria matar a Nezuko se ele não conseguisse já que o Tanjirou com aquela postura nunca iria encontrar uma cura para ela.
Mas o que mais gostei mesmo é de ser explanado que a bondade do protagonista é um problema que ele vai precisar superar, ou seja, ele vai ter que aprender a matar para salvar vidas. claro que não é para ele se tornar um cara super frio, mas realmente é uma questão de autopreservação e de saber quando ser misericordioso ou não.
E o uso de CGI e da estilização nesta parte do teste me deixaram muito feliz porque é uma demonstração de como você harmonizar objetos que compõem todo o cenário e que são bem distintos um dos outros. Ali você tem uma boa mesclagem, e o que se destaca é para se destacar mesmo por ser estilização de 2D com um pouco de efeitos digitais.
Claro que vai ter quem não goste e vai achar estranho, mas eu acho legal quando o autor ou a produção tendam dar este diferencial em certos detalhes do produto e faz algo bem feito e não tão deslocado ou aberrante. Além do que aquele tipo de estilização é praticamente inspirada nas ilustrações do tipo de pintura ou arte oriental.
Concluindo, Kimetsu no Yaiba é meu retorno ao battle shounen, faz tempo que não comento algo do estilo, apesar do que eu comento bastante animes de ação no blog, mas mais com foco em fantasia e adaptação de jogos ou LN do que de um mangá de batalhas. No geral, foi um retorno bem vindo e que me agradou bastante, e espero que assim como Noragami, que a obra consiga se manter firme e consistente até o fim.
Nota do autor: 4.5/5
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