Dororo #23 a #24 – Impressões Finais

“O que não podemos obter com nossas próprias mãos, não podemos proteger ” – Essa frase da Nui talvez tenha sido o ponto alto desses dois episódios para mim.

Sim, eu sei que o cavalo solando a Mutsu e o Hyougo tem um impacto visual bem mais interessante, mas aquele diálogo – quem sabe até um desabafo – da personagem me marcou bem mais.

Confesso que durante o tempo em que assistia, principalmente lá no inicio, a hipótese de que houvesse um sacrifício por parte do Hyakkimaru, e que a paz fosse preservada em nome do seu corpo, passou várias vezes na minha cabeça.

É uma condição lógica: “Um pelo bem de todos”.  Alguns heróis partem justamente desse conceito para que muito das suas ações “boas” sejam justificadas.

Não vamos entrar em aspectos morais aqui, mas a questão é que a forma como a Nui pontua que todos ali só viveram da forma que viveram porque o Hyakkimaru estava tomando conta deles é algo que fecha essa trajetória do personagem de uma maneira que me agrada bastante.

Tudo pertencia ao Hyakkimaru, e se ele queria pegar de volta, que assim seja então. Não que as pessoas da vila merecessem sofrer, mas se elas queria paz, deveria começar a lutar por ela e não culpar alguém por isso.

Dororo não é uma obra complexa, na verdade ele é bem simples de entender, mas ao mesmo tempo permite que você a torne complexa.

Essa ausência de um mal, ou de vilões que realmente te façam criticá-los, abre uma gama de situações que poderiam ser muito bem mudadas com um pouco mais de esforço por cada personagem.

A Nui fui uma vítima, mas também não deixou de ser uma das agressoras. O Tahomaru fez de tudo para  manter o que era dele, e foi um dos que mais perdeu.

Esse final de Dororo trás um resolução simples, talvez não tão épica quando alguns esperavam, mas não deixa de ser um ótimo final para tudo o que foi mostrado.

Muitas mãos estão sujas de sangue.

Ok, talvez eu tenha fugindo um pouco do caminho com essa minha introdução, então vamos voltar aos eixos e falar do episódio em si.

O vigésimo terceiro episódio gira em torno da grande luta contra o Tahomaru e os seus subordinados, o que logo de cara já podemos destacar a inesperada morte de Mutsu e Hyougo.

Já estava esperando uma desgraça coletiva, mas o cavalo arrancando a cabeça do cara deveria ir para cenas da semana se isso ainda existisse aqui no blog.

Foi algo brutal, e de uma forma que eu não imaginava que fosse terminar.

Em termos de narrativa eu já não sei se dá para elogiar a cena tanto assim, porque esperava que fosse o Hyakkimaru quem recuperasse seus membros.

A égua acabou tomando os holofotes e entregando de bandeja o tão esperado prêmio do protagonista, o que acaba sendo uma resolução bem mais fácil do que gostaria de ver, e tirando aqueles créditos da sua vingança.

Porém, vale adicionar que isso serviu para causar uma abalo no emocional do Tahomaru, e levá-lo a criar ainda mais ressentimento sobre as perdas que o Hyakkimaru trás para a sua vida.

Ou seja, de forma meio torta, o anime acaba acertando no trágico final da dupla de subordinados do Tahomaru.

No geral foi uma fim interessante para os dois.

Ainda dentro desse episódio, temos a cena que comentei mais lá em cima, sobre a mãe do Hyakkimaru inspirando a Dororo a respeito do que fazer do futuro.

Isso é importante para dar um parâmetro para a personagem, já que ela é criança, e por mais que não fosse me incomodar vê-la tendo a ideia sozinha, fica mais realista ser influência pela situação/pessoas com mais experiência de vida.

Além disso, todo o diálogo com a Nui aponta as verdades por trás da situação em que a província se colocou.

O Hyakkimaru não era um demônio por estar roubando a paz deles, na verdade, estaria mais para um herói que suportou carregar todo o fardo até ali.

E mesmo que ele destruísse toda a esperança do lugar, nada os impediria de começar de novo, do jeito certo dessa vez.

Se esse um cair, o resto vai junto.

Saltando para o último episódio, por mais que tenha gostado bastante dele, não dá para deixar passar a forma como um Hyakkimaru retomou a noção de humanidade.

Eu particularmente acharia melhor ter seguido pelo clichê da Dororo ou a mãe dele intervindo, e com isso o personagem percebendo a situação em que estava, do que aquele corte na madeira e pronto, “você é humano então não posso te matar”.

Faltou um pouco mais para me convencer de que o Hyakkimaru pistola trocaria de pensamentos tão facilmente assim, sem a necessidade de uma intervenção.

É plausível de acontecer? É. Dá para justificar com os diálogos em meio a luta de espadas? Dá. Mas, sinceramente, senti que o rush pegou ali, e resolveram o problema fácil demais.

Podia ter rolado o clichê do braço aberto.

Porém, no velho estilo de “reclamar para depois elogiar”, essa luta contra o Tahomaru tem um ótimo diálogo, com uma das melhores cenas desse final, talvez até de todo o anime.

Os questionamentos do Hyakkimaru a respeito do que faltava para o Tahomaru, e a forma como ele fica apontando as coisas que pertencem a ele (o castelo, a mãe e por aí vai) são algo que realmente trás um drama legal para cena.

É muito bom ver o Hyakkimaru reivindicando cada uma das coisas que  pertencia ao Daigo, porque realmente são coisas dele.

Nada ali era do Tahomaru, na verdade, se for puxar no sentido literal da coisa, até mesmo o fato de estar vivo foi consequência do que aconteceu com o Hyakkimaru, então essa batalha de “existência” foi muito boa.

Ah, doce ironia.

Por fim, temos as conclusões de cada personagem.

Ninguém tira da minha cabeça que rolou uma situação meio Titanic com a Nui e o Tahomaru, assim como o pai random do Hyakkimaru aparecendo no porão.

Se não tivessem ficado de conversa dava para terem saído pela passagem secreta, e mesmo que um ou outro inalassem muita fumaça, dava para tirar eles de lá, ou pelo menos tentar.

Mas ok, eu já tava esperando um sacrifício por parte dos personagens, então vê-los encorajando o Hyakkimaru a viver, além da cena do abraço com a Nui e tudo mais, acabam sendo um bom desfecho emotivo para mim.

Em relação ao Lorde Daigo, diria que também foi ok.

Quando vi ele indo em direção a batalha pensei que fosse morrer de forma honrada, defendendo aquilo que foi o seu objetivo desde o início, no caso proteger a província.

Mas acabou que ele voltou e foi punido com a vida. Poético, admito, e faz com que o Hyakkimaru seja um personagem bem mais sensato no final, reforçando que ele se tornou um humano.

Claro, isso ainda vez que o Daigo que o Hyakkimaru pudesse ser um líder forte, mesmo sem necessidade do pacto, mas… É… Fica no “mas” mesmo.

Não foi ruim, mas podia ter sido um pouco melhor.

Concluindo, Dororo foi uma obra gostosa de acompanhar. Começou bem, teve seus deslizes no meio, parecia que ia cair por completo, mas conseguiu recuperar o fôlego no final.

A obra tem seus problemas, como a necessidade da suspensão de descrença para algumas coisas, assim como certos episódios são tão fracos que dá tristeza só de lembrar.

Mas o anime oferece uma boa experiência, sendo mais positiva do que negativa, além de criar boas histórias e ideias que te colocam para pensar um pouco sobre a vida e os “demônios” que cada um carrega.

Extra

Agora a gente sabe o porquê do velho aparecer em tudo quanto era canto. Era para puxar a corda e salvar os dois :v

 

 

Quase escorreu uma lágrima aqui.

Nem deve ter doido.

Mais uma prova de que beleza é questão de dinheiro.

As lutas desses episódios estavam muito boas.

Marcelo Almeida

Fascinado nessa coisa peculiar conhecida como cultura japonesa, o que por consequência acabou me fazendo criar um vicio em escrever. Adoro anime, mangás e ler/jogar quase tudo.