The Witcher: Dê um trocado para o seu bruxo |Review
Depois de muito descasques da dita critica especializada e de um povo muito saudoso de GOT, eu finalmente vim dá um trocado para meu bruxo, inclusive a musiquinha do bardo é realmente viciante e teve um chefe de máfia ai (aka Dom Marco) repetindo ela como vitrola quebrada.
Sirlene isto é um blog de anime, eu sei meu jovem, se acalme, isto não quer dizer que não possamos fazer review de series.
The Witcher não é uma serie que vem para ter uma pegada de GOT, na verdade, a série nunca se propôs ser um GOT e comparações esdruxulas com Deus Salve o Rei da Globo me faz refletir: a critica leu os livros para entender sobre o que são? Suspeito que não, se não nunca faria tal comparação
Atenção: Ministério da Saúde adverte, esta música é viciante!!!
Mas Sirlene por que as comparações não são validas se as duas obras são fantasias? a base de toda a obra, o estilo narrativo. O escritor Daniel Silvermint esboça que há dois estilos narrativos: o primeiro voltado ao desenvolvimento da trama e o segundo direcionado aos personagens.
O estilo de G.R.R Martins se encaixa no primeiro, já que as situações e o jogo politico são o foco do enredo e os personagens são apenas peças do cenário e dos eventos narrados. Os protagonistas e personagens da obra são joguetes do autor e da história desenvolvida, literalmente.
O estilo utilizado por Sapkowski , como boa parte das obras de fantasia, esta na segunda narrativa, o brilho da obra e o seu foco são os personagens e a trama é desenvolvida ao redor deles para que eles cumpram seus destinos. Este estilo também é o aplicado pela maioria dos showhuners de hollywood (por isto o final de Game of Thrones foi tão criticado, curiosos procurem depois sobre)
Então não é como se fosse proibido fazer comparações, já que as duas obras tem alguns assuntos parecidos e são do mesmo gênero literário, mas dizer que duas obras do mesmo gênero possuem a mesma finalidade é pisar em ovos, quando você diz que The Wicther se propôs a ser um Game of Thrones e falhou, esta me dizendo que Sapkowski tinha o mesmo estilo e finalidade do Martin em sua obra, o que não é verídico.
A escrita de Martim é mais encorpada e detalhista, ele se preocupa nas tramoias, em cada detalhe histórico de seu universo, sendo a fantasia e a magia apenas alegorias do cenário, ou seja, é uma obra sobre politica com fantasia no meio, enquanto a escrita de Sapkowski é uma escrita digamos mais simples e cômico, pois a obra é um universo de fantasia no medievo, onde tem política no meio. Sacaram a diferença? Pode parecer a mesma coisa, mas não é.
Então antes de criticar algo você tem que analisar o estilo narrativo e a sua proposta aos leitores. The Witcher é voltado para um público que consome fantasia aos moldes clássicos, inclusive Sapkowski deixa claro que ele se inspirou bastante em Senhor dos Anéis e no estilo de J.R.R. Tolkien.
Quem precisa de dragões pra queimar geral? XD
A obra pode ser demasiadamente criticada já que tem falhas e problemas de consistência em diversas partes, mas jamais por ser um GOT que não deu certo já que nunca tentou ser algo semelhante à GOT.
Acho que uma das maiores falhas da série (e que também é uma das mais citadas pela critica) é a falta de uma cronologia mais consistente, espaço-tempo mais claros, e de um objetivo mais explicito sobre a historia, sobre o que ela se trata de fato.
Contudo não responsabilizo completamente os showrunners já que The Wicther é uma obra complicada de ser adaptada principalmente porque ela nunca foi planejada para ser algo com objetivos bem definidos logo de cara. The Wicther é o caso de ideias jogadas que floresceu.
Por que eu digo isto? A série não se baseia nos video-games que tem a narrativa bem mais linear, mas na obra literária que deu origem aos vídeo-games. A obra tem uma particularidade de ser composta por muitos contos situados em tempos e locais diferentes. Ai você tem que pegar a essência e objetivo de cada um dos contos e eventos narrados, principalmente nos dois primeiros livros.
Sim queridos, The Witcher se fosse um anime seria uma obra episódica, cada conto narra um algo diferente e não tem uma historia pré-definida pelo menos nos primeiros contos.
Isto acaba deixando a impressão inicial de que a obra mão tem uma finalidade e objetivo central, quando ela tem. O Último Desejo e A Espada do Destino é basicamente composto de contos encima de contos e vários deles não tem ligação um com o outro.
E a questão de não haver uma linearidade clara dificulta bastante em deixar a narrativa fluida e consistente afetando bastante a degustação da primeira temporada de diversas pessoas, ainda mais porque os episódios foram compostos em três núcleos: Geralt, Yennefer e Ciri.
Entendam que além de estarem em locais diferentes, os três não estão na mesma linha temporal.
É interessante observar que a série funciona muito melhor quando seu núcleo se encontra, por exemplo, quando Yen e Geralt estão juntos em um mesmo evento. Contudo, se você teve dificuldade de sacar a cronologia nos primeiros episódios, ao longo do desenvolvimento acaba descobrindo.
Para facilitar a sua vida, a linha de Yen se passa bem antes das apresentadas de Geralt e Ciri, as decisões que ela toma em sua linha impactam na invasão de Nilfgaard a Cintra. A linha de Geralt se inicia antes da linha de Ciri e depois da de Yen sendo arranjada para se intercalar com a de Yen até a invasão a Cintra e o encontro de Geralt com Ciri.
Nota: A linha da Ciri é atual, a linha de Geralt é 20 anos antes e de Yen de 70 anos atrás (Yes, ela é velha para porra)
Outro problema observado e encontrado na série advindo dela ser baseada em contos (que tem uma estrutura narrativa mais direta, simples e poética) é que a relação de Yen e Geralt fica superficial. É naquela pegada do conto de Beren e Lúthien encontrado no Silmarillion, tipo o amor entre os personagens é bonito, é, mas não tem profundidade.
E olha, Yen e Geralt são um casal, mesmo sendo contos, Sapkowski trabalha sutilmente a relação deles quando estão juntos e eu acho que a série pecou neste aspecto porque ela poderia ter desenvolvido melhor já que é uma mídia diferente.
Como um amigo sugeriu, poderiam ter sacrificado alguns momentos com a Ciri ou jogado esses eventos com ela para um episodio maior focando nela.
A série perdeu a oportunidade de desenvolver mais o relacionamento dos dois já que o amor deles é no estilo intenso e complicado. Como é uma adaptação, você pode acrescentar mais a historia que já é boa, claro que com a aprovação e veredito do autor.
Nota: aqui não estou falando em reescrever a historia, mas ajustar ou modificar o que precisa para sair algo que faça o espectador ficar mais apegado ao casal. Eles fizeram isto em diversas partes, como o passado da Yen que tratarei mais a frente e poderiam ter feito na relação dos personagens.
O engraçado é que os contos não dão tanto aprofundamento, mas consegue trabalhar melhor que a série o relacionamento da maga e do bruxo, que vou confessar, é uma das que mais gosto em livros e video-games.
Inclusive eles poderiam ter dado uma pincelada maior na jornada de Yen, já que querendo ou não, nessa primeira parte acabou se mostrando algo mais interessante que a de Geralt.
Por que eu digo isto? A concepção de Geralt é simples, ele é um bruxo, um mutante criado para matar e executar criaturas mágicas, sendo frio, um pouco frio, bastante frio, frio e frio. O espectador o acompanha simplesmente a fazer o trabalho dele.
Nota: O fato de ele ter essa concepção simples de ser um bruxo, claramente um mercenário, e apenas fazer o trabalho dele, que gera uma variedade narrativa já que os demais personagens o menosprezem e tendem a manipular a moralidade do protagonista.
Contudo, outro ponto que discordo de algumas criticas é da atuação de Cavill, muitos a pincelam como canastrona, inexpressiva, que poderiam ter escalado um ator melhor e mais simpático, contudo o ator foi sim bastante delicado ao papel assumido e o interpretou bem.
Quem dizer que este cara atuou mau, porra ele filmou sem dublê!!!!
Pelas mutações o protagonista não é extremamente expressivo, ele é literalmente um “canastrão”, não se expressa, fechado, um gelo de pessoa.
Porém ele compensa isto com um humor mais sério, sombrio e um tanto que cético da natureza humana e sua moral de ferro, alias, a serie é fiel ao seu principio de sempre tentar escolher um mal menor.
Nossa Sirlene, é difícil gostar de um personagem assim, sim é, mas gostamos porque o que faz a diferença aqui é a relação que ele vai construindo com outros personagens.
No fundo sabemos que apesar dele ter duvidas sobre poder sentir, ele tem sentimentos acima de tudo por suas ações e escolhas.
A ligação que ele cria com as pessoas que o destino coloca em seu caminho nos faz se apegar ao personagem, principalmente com sua família improvisada, a relação dele com Ciri é a mais delicada, sutil e bonita da obra.
Alias, falando em Ciri, o arco do leãozinho de Cintra se resumiu a uma fuga em busca de Geralt apos a invasão de Cintra, e mesmo que a atriz seja excelente e consiga perpassar os sentimentos de perda, incerteza e desespero, para mim foi o arco mais fraco.
Não é exatamente um arco ruim, mas de inicio não tem nada de chamativo, compreendem? Contudo o texto poderia ter explorado mais os conflitos emocionais e duvidas dela, assim como a envolver mais em alto-questionamentos.
O arco de Yennefer talvez é o que mais cative e acabe conquistando o público porque foi a personagem mais humanizada, até mais que a Ciri que não esta passando poucas e boas não. E vou admitir eu pago pau para a maga, em todas as mídias.
Ela é uma personagem com cicatrizes e camadas, assim como Geralt. O passado dela é mais desenvolvido na série e gostei que trouxeram o peso de uma escolha para ela também.
Nos livros Yennefer também não pode ter filhos, se torna infértil, o livro menciona que a magia a tornou mais bela e corrigiu suas imperfeições, mas com o preço do seu ventre, então aquele ritual doloroso feito na raiva de decidirem as coisas para ela é ponto para os showhuners.
E achei deveras legal que tenham conseguido perpassar algo sutil nos textos sobre as feiticeiras ou magas, como tu queira chamar, que é a beleza.
Para desempenharem o seu papel, elas precisam se tornar belas, atrativas, porque assim é exigido na sociedade que elas vivem, seja para conseguirem o que desejam ludibriando os homens, ou simplesmente, para não serem agredidas.
Alguns chamam o texto de Sapkowski de machista e sexista, contudo se esquecem em qual época eles estão ambientados. A sociedade de The Witcher não é democrática e tão pouco igualitária, logo as mulheres são em sua maioria o que é deixado claro em um episódio da série, mecanismo dos homens terem herdeiros e uma boa noite de diversão.
Inclusive quero abrir uma nota aqui: Quando tua mãe não gosta do cara, escuta ela vai, pode ser tipo assim, que ele seja realmente um babaca (sim isto é um meio-spoiler)
Então minhas lindas é natural passagens com conteúdo pejorativos como “na minha época mulheres não se metiam nesses assuntos” ou que o “único perigo que você corre é ele se deitar com você” . É pois é, não gostou? Idade Média amiga, queria o que? Que os homens fossem gentis?
Por fim, a série de livros de The Witcher não busca um tom realista histórico como a série de livros de George R. R. Martin, mas possui um medievo realista e sombrio, com sexo ainda pra dá e vender, portanto, devemos aceitar que no enredo haja estes momentos ofensivos porque elas fazem parte da ambientação.
Mas é evidente que a violência deve ser criticado quando usada em excesso e de forma despreocupada, não é o caso de The Wicther, as cenas são pra impactar e te fazer sentir nojo, apesar que concordo que Sapkowski poderia ter sido mais cuidadoso e não ter explicitado tanto isto, o que renderia menas criticas.
O que alivia um pouco o tom sério e sombrio é nosso amigo bardo, alias, todas as musicas cantadas por ele na série remetem bastante a mistérios e elementos da trama, gostei de todas confesso porque amo este tipo de musica e canção em obras de fantasia.
Apesar que certos comentários dele sejam ofensivos e muito esdrúxulos em algumas partes do livro, admito que gosto dele, então, fazer o que? Parabéns mulherengo babaca, você foi simpático o bastante pra eu gostar de você.
Em saldos gerais, The Witcher é um dos projetos mais ambiciosos da Netflix que pode florescer ou se danar de vez como GOT e seu final desastroso, mas isto, só o tempo dirá, contudo é fato que adaptar os contos do polonês não é para qualquer um e por enquanto considero a série promissora, então vou dá um trocado para meu bruxo e esperar a segunda temporada.
Nota do autor:
Trilha sonora – 9/10
Direção de Arte – 8/10
Direção – 7/10
Roteiro – 7/10
Entretenimento – 7/10
Nota Final: 7.6/10