Act-Age – Um shounen para quem está cansado de shounens | Review
Uma das primeiras coisas que acho importante falar sobre Act-Age, é que talvez ele seja uma obra que precise de tempo para funcionar para alguns.
Não é como se fosse tedioso o inicio, muito pelo contrário, na verdade, mas, ao menos para mim, foi quando entrou no primeiro grande arco que as coisas tiveram aquele “booom!”, e a obra me fez ler mais de vinte capítulos seguidos sem nem perceber.
Então, se o começo parecer um pouco “didático” demais, se acalma, respira, e continua, porque não deve demorar muito para que você fique maravilhado com o mangá.
Ao lado de Spy x Family e Kusuriya Hitorigoto, Act-Age foi uma das grandes pérolas quem encontrei em 2019, porque, ao menos para mim, ele traz um ar de novidade interessante para o gênero shounen.
Por mais que seja tão improvável quando batalhas culinárias e dança de salão, o mundo da atuação pode funcionar tão bem como qualquer outro shounen de lutas, e criar algo divertido, dramático e empolgante de ler.
No caso de Act-Age, isso se deve, em boa parte, a protagonista, que está ali para brilhar e tirar um ótimo proveito do seu desenvolvimento durante os capítulos.
A Kei, além de ser muito carismática e divertida, com uma personalidade cabeça de vento, faz com que a história do mangá seja mostrada de uma forma bem diferente.
Em resumo simples, ela é um daqueles casos em que o talento é tão forte que acaba fazendo as coisas sem nem mesmo perceber, mas, engana-se quem achar que isso faz dela uma protagonista OP.
Um dos pontos fortes do mangá é justamente balancear bem esse desenvolvimento, mostrando que mesmo com um talento acima da média, ela ainda tem muito a aprender e melhorar.
A cada papel que ela é escalada, um novo processo de aprendizagem começa, onde a Kei tem que superar a si mesma para conseguir interpretar.
Durante esse estudo de personagem muita coisa acontece, e é onde também está outro grande fator chave do mangá.
A Kei é uma personagem autodestrutiva. A sua atuação vem dos seus sentimentos e lembranças, onde ela faz as coisas como se fosse realmente o personagem que está interpretando.
E isso acaba, na maior parte das vezes, a colocando em situações complicadas, e até de risco, com a personagem se machucando e passando por coisas que pode afetar o seu psicológico/emocional, já que para ela é uma experiência real, e não interpretação.
Esse cuidado que ela precisa ter ao assumir um personagem é algo que acaba deixando a história um pouco imprevisível, principalmente no começo, porque não dá muito bem para saber até que ponto ela vai chegar para realizar a sua atuação.
Um bom exemplo é esse da imagem mais acima, onde ela tinha que participar de uma cena que envolvia o assassinato de um colega de classe, e como atua com base nas suas emoções, ela, Kei, vomitaria se visse algo acontecendo na sua frente, e por isso acaba fazendo o mesmo em cena, já que não consegue separar bem a realidade da interpretação.
Mais para frente a história começa a dar algumas nuances de uma outra personagem que era parecida como a Kei, e que teve sua vida prejudica por esses comportamentos, então acaba se criando uma tensão bacana na história, onde você quer sempre saber o que vai acontecer com a Kei, e como ela vai evoluir, ou se realmente vai chegar em um papel que coloque sua saúde emocional em risco.
Outro ponto interessante são os personagens secundários do mangá. Poetizando um pouco em cima da temática da história, é como se os autores do mangá levassem suas próprias filosofias para os personagens, mostrando que os coadjuvantes são tão importantes quanto os “atores principais”.
Os personagens secundários tem ótimos histórias e construções, servindo também para balancear o peso da Kei nas cenas. Eles ainda caem naquele clichê de serem tocados pela interpretação dela, mas conseguem fazer frente para o talento da protagonista, e diminuir a sensação de que ela é alguém com capacidades acima da média
Além disso, a maioria tem algum drama por trás que ajuda a criar empatia por eles, ajudando a entender a visão de cada um sobre atuar e trabalhar como ator.
Outra coisa que se destaca bem no mangá é a história. Nesse caso, dá para dividir em duas partes. A primeira seria a história do mangá em si, com o desenvolvimento da Kei e tudo mais.
Como falei no começo, a parte inicial do mangá é mais voltada em apresentar os talentos da Kei e o mundo da atuação, mas, assim que entra no primeiro arco, as coisas se desenrolam e depois disso cada arco tem um impacto maior, com ideias e personagem que se destacam ainda mais.
A segunda parte da história seria o enredo dos filmes e peças de teatro onde os personagens devem atuar. Alguns são simples, como comerciais de televisão, mas outro já são bem mais elaborados, usando referencias de livros reais.
Um bom exemplo é o segundo arco, que traz “O trem da via láctea”. A história do livro por si só já é bem interessante, e a forma como os personagens se relacionam com o enredo, e o dito estudo de personagem que a Kei precisa passar, acabam criando uma experiência única e bem emocional.
Em resumo Act-Age é uma obra bem interessante, que vale a pena dar uma conferida. Uma das coisas que mais gostei no geral é que o mangá consegue transmitir o impacto da atuação dos personagem, mesmo sem ter sons ou falas, o que é algo incrível, se parar para pensar.
Para quem gosta de bons personagens e história, sem deixar de lado o espírito shounen de esforço, amizade e superação, pode ir sem medo que o mangá tem tudo para funcionar.