Blue Period – Um jeito diferente de aprender sobre arte | Review

Blue Period foi um mangá que chamou bastante da minha atenção no começo do ano por conta de ter recebido alguns menções em premiações, inclusive no tão falado Kono Manga Sugoi 2020.

Por mais que não tenha se mostrado uma obra tão assustadoramente acima da média como eu esperava, o mangá ainda é uma ótima opção para quem gosta de propostas diferentes e está afim de uma história mais madura, então vale bastante a pena ficar ligado no que a obra pode trazer.

Um mangá sobre arte, com uma arte muito boa.

O enredo do mangá gira em torno Yataro Yaguchi, um garoto que leva uma vida “perfeita”, sendo bom nos estudos e mantendo uma rotina de diversão e bebedeira com seus amigos, mas que, ao mesmo tempo, sente como se estivesse faltando algo dentro de si.

Em um certo dia, logo após ver a pintura de uma garota da sua escola, e sofrer um pouco de pressão por parte da sua professora de artes, Yaguchi decide desenhar algo que está sentido e acaba se surpreendendo com o quão profundo aquilo pode ser.

A partir de então ele decide investir nisso e ir atrás da única coisa que realmente fez ele se sentir vivo até aquele momento.  A arte.

Dilemas da vida adulta.

Por mais que a ideia base do mangá possa parecer um pouco shounen, com o protagonista largando tudo para ir atrás do seu verdadeiro motivo de vida, a história que começa a se destoar disso é mais mais complexa, entregando algo mais maduro e realista que você espera.

O grande foco ali não é o sonho do Yaguchi (pelo menos não inicialmente), mas sim aquela questão de hobby x profissão, o que é algo bastante pesado na cultura japonesa, já que o afastamento de um circulo profissional seguro pode levar a pessoa a uma completa ruína social, como a maioria já deve ter visto em algumas outras obras.

Em cima disso você acompanha os temores do protagonista sobre ter que deixar de lado uma carreira padrão para apostar em um sonho que acabou de descobrir, tendo que contar isso não só para os seus amigos, como também para os seus familiares.

Nesse aspecto o mangá consegue trabalhar bem, te fazendo realmente sentir a angustia que o protagonista carrega na hora de tomar essa decisão, principalmente por ele ter certas dificuldade na hora de começar a seguir a carreira.

Infelizmente, o mangá ainda está todo em inglês.

Como falei, o grande ponto é que o mangá consegue ir se afastando dessa conotação de que: “protagonista descobriu um talento, logo, ele é OP”. O Yaguchi tem capacidade para criar boas coisas, mas está longe de ser algo acima da média.

Uma das coisas que gostei foi justamente desse contraponto. No circulo pessoal do Yaguchi existe uma certa afirmação de que ele é bom, e que tem talento, mas quando precisa enfrentar outras pessoas, que também estão tentando entrar na universidade, ele acaba se mostrando bem mediano.

Isso ajuda a reforçar ainda mais a insegurança dele, já que não é fácil abrir mão do seguro, ainda mais para apostar em algo em que você nem mesmo é o destaque.

Como o mangá ainda está encaminhando o personagem para a faculdade, ele ainda não atingiu um nível alto de segurança, mas nesse meio tempo teve alguns desenvolvimento, entendendo melhor o que quer da vida, e enfrentando a situação com seus pais, o que mostra que o autor consegue ter um bom timing com os dramas que vai montando.

Espero que mais coisas aconteçam até o final dessa faculdade.

Seguindo para o outro lado da história, temos o aspecto arte envolvido. Assim como alguns outros exemplos do tipo, onde o autor tenta manter o leitor entretido com algumas explicações sobre o tema, Blue Period aposta nas “aulas”, mas não se sai tão bem assim, pelo menos não para mim.

O mangá tem bastante conteúdo, e algumas curiosidades são interessantes, mas, no geral, eu acabei ficando meio perdido, ou cansado de ler tudo o que falavam.

Em alguns capítulos eram tantas explicações sobre técnicas, ferramentas, tintas e estilos de pinturas que chegava em um ponto que minha atenção começava a escapar.

Talvez para quem tenha interesse na área, ou conhecimento sobre o assunto, as coisas fiquei mais interessantes, mas para mim, acabou se tornando um pequeno problema dentro do mangá.

Em resumo, Blue Period consegue corresponder bem ao títulos que vem sendo indicado, apresentando uma história madura e com personagens orgânicos.

O uso excessivo de explicações em alguns momentos pode ser um problema para alguns, mas a obra é certamente algo que se vale a pena ficar de olho.

 

 

Marcelo Almeida

Fascinado nessa coisa peculiar conhecida como cultura japonesa, o que por consequência acabou me fazendo criar um vicio em escrever. Adoro anime, mangás e ler/jogar quase tudo.