Mieruko-chan – Uma mistura entre Slice of Life e horror que funciona muito bem! | Review
Mieruko-chan foi um mangá que surgiu na minha frente naquele modo aleatório e acabou me pegando bastante de surpresa pela forma como usa da comédia e de elementos de horror.
A história gira em torno de Miko, uma garota comum que, em um belo dia, começa a ver criaturas assustadoras e grotescas por todos os lados sem qualquer explicação. Na tentativa de se manter calma, ela decide ignorar todo o medo que está sentido e fingir que os fantasmas não existem, mesmo que para isso tenha que lidar com situações como essa:
O grande diferencial do mangá, como deu para ver pela imagem acima, é esse contraste entre o dia a dia da coitada da garota e as criaturas que ela vê. Muitas vezes a Miko quer apenas passar o tempo com a amiga, mas não consegue fazer isso porque está vendo uma criatura bizarra do seu lado.
Nesse ponto, entra o fator comédia da obra. São várias situações em que a coitada tem que ter jogo de cintura para não surtar e entregar que está vendo os fantasmas. Isso gera algumas cenas engraçadas, como ela perder todo o filme porque tinha uma assombração na sua frente, ou ter que “libertar” a amiga que está sendo perseguida por uma criatura pervertida.
Como o traço do autor/autora (não consegui confirmar) é muito bom para representar esses fantasmas, você fica em uma montanha-russa de reações, já que, ao mesmo tempo que se impressiona com a bizarrice dos desenhos, também se diverte com a situação da protagonista.
Já aproveitando para falar das criaturas, o autor(a) consegue tirar muito bem o lado horror delas. Para quem já leu alguns mangás de Jinji Itou sabe como pode ser desconfortante ser surpreendido com uma imagem grotesca aparecendo do nada, e no caso de Mieruko-chan isso é ainda mais reforçado por conta das situações da garota.
No contexto da história daria para supor que nesse exato momento criaturas semelhantes a essas estariam do seu lado, te encarando e perguntando se você consegue as enxergar, mas, por justamente não vê-las, você não percebe nada.
Manter isso em mente pode acabar fazendo você começar criar aquela “pulguinha atrás da orelha” e ficar se perguntando como seria se estivesse na mesma situação da Miko, já que não é nada fácil ir tomar banho e do nada ver uma coisa agachada em um dos cantos da cômodo esperando para ser notada.
Por mais que esses dois pontos que comentei acima, e a boa harmonia que o autor(a) consegue criar entre eles, seja algo elogiável na obra, o que fez com que eu lesse todos os 28 capítulos em um dia foi o desenvolvimento que o mangá tem.
De início sim, o foco da obra é mais a comédia e esses “sustos” com as criaturas bizarras aparecendo, mas em poucos capítulos tudo começa a tomar forma e se mostrar algo bem mais elaborado que parecia.
A primeira mudança que dá para sentir é que as assombrações deixam de ser algo aleatório e passam a ter um propósito dentro da narrativa da história. A suas bizarrices são referencias diretas a certas coisas que acontecem por aí, e conta uma história própria apenas pelo seu visual, como por exemplo, vítimas de assassinato, suicídio, acidentes e coisas do tipo.
Isso faz com que você passe a se impressionar ainda mais com as criaturas, já que elas deixam de ser algo grotesco bem desenhado, e passam a te contar alguma coisa sobre o mundo da obra, fazendo subir aquele arrepio pela espinha quando você junta as informações e entende o que a aparência delas diz.
Vale ressaltar também que nem todos os casos são com teor negativo. Como exemplo da imagem acima, por mais que você se choque quando percebe que tem um espírito rodeado a mulher gravida, a explicação disso faz com que você se sinta reconfortado, já que, mesmo não sendo uma história feliz, ainda tem espaço para algo bom acontecer.
Esse tipo de situação não é constante em todo capítulo, mas são bem pontuais, e fazem valer muito o tempo que gastam em cena.
O capítulo focado na família da Miko me impressionou demais nesse sentido, fazendo com que eu sentisse uma vontade sincera de abraçar a garota, porque a situação que ela foi colocada ali não é nada fácil de enfrentar.
Além do arco do professor ter tantas reviravoltas que me deixaram de boca a aberta pela forma como as criaturas podem ter diferentes significados.
Isso são apenas exemplo de como o autor(a) consegue flutuar bem entre diferentes climas para obra, entregando humor, drama, mistério e suspense sem criar a sensação de que tudo está ficando forçado demais.
Os rumos que a obra tem tomado nos últimos capítulos mostram que a história tem muito potencial para ser trabalhada de forma séria, e que mesmo abrindo um pouco a mão de ter mais momentos de comédia, isso não prejudica a diversão do mangá, já que ele tem muito mais pontos para serem explorados, como o motivo da Miko ter começado a ver fantasmas e o porquê das criaturas procurarem por alguém que as consiga ver.
Em resumo, Mieruko-chan foi um mangá que eu não dava muita coisa, no máximo servindo como um comédia para passar o tempo, mas acabou me surpreendendo muito, não só pelo contraste entre o horror e a comédia, como por ir aos poucos oferecendo uma experiência cada vez mais rica em detalhes.
A obra tem um problema ou outro na parte do enredo, às vezes deixando alguns furos no comportamento dos personagens, mas são coisas que não afetam em nada a qualidade da história.
Para quem gosta de propostas que tentam trazer algo diferente, vale a pena dar uma conferida no mangá e surpreender com o resultado.
Extras
Eu queria dar mais detalhes, mas muita coisa do mangá é melhor ver do que ter esse pseudo-spoiler. Só adianto que boa parte do que parecia ser coisas apenas episódicas, como essa da fila, acabam se tornando construções de mundo bem inesperadas.