Neeko wa Tsurai yo – O humor agridoce da vida adulta | Review

O grande mito Kazuma fez com que o termo HikiNEET ficasse bem mais popular para cá, mas lá no Japão isso é um problema que já vem sendo discutido há muito tempo.

Às vezes o tema aparece como drama, em outros casos como comédia, mas em Neeko wa Tsurai yo ele vem como uma combinação dos dois muito interessante.

A história do mangá acompanha Niito Nemuko (AKA Neeko), que como o seu nome sugere (Niito = NEET, Nemuko = Garota dorminhoca), é uma adulta que, após fracassar em seus empregos, passou a viver de forma preguiçosa e reclusa.

Por mais que seja um enredo relativamente clichê, o mangá consegue se sustentar bem dessa forma e trazer alguns diferenciais interessantes.

Uma moça complicada…

Começando pela arte, os traços do autor são bem bonitos, e a própria personagem em si tem um design bem chamativo, o que, na questão de impacto visual, já ganha uns bons pontinhos.

Por mais que o autor goste de colocar páginas inicias com a garota em posições provocantes, o fanservice dentro da história é bem pouco, e não atrapalha em nada o desenrolar da obra.

Além disso, o bom uso as expressões da garota ajudam a criar boas reações para Neeko enquanto ela está se relacionando com os demais personagens, ou simplesmente entrando em paranoia por ser uma fracassada.

O mangá também traz bastante páginas coloridas, então na parte do entretenimento visual, ele acaba se saindo bem e agradando quem gosta de aproveitar bons desenhos e coisa do tipo.

Já ia para lista de colecionáveis só pela arte.

O outro ponto em que o mangá se destaca é a sua história. O humor dele não é nada muito inovador e, ao menos para mim, não chegou a me fazer rolar de dar risadas, mas é bem executado, e faz com que as coisas funcionem.

São situações e rotinas simples da vida da Neeko mostradas de forma divertida e despreocupada, ajudando a relaxar e aproveitar cada capítulo, entretanto, é aqui que também está o ponto forte do mangá.

Como falei mais acima, Hikikomoris e NEETs são um assunto sério no Japão, e precisam ser tratados com um certo cuidado. Neeko wa Tsurai yo, mesmo sendo pesando na comédia, consegue levantar e explorar essa temática muito bem.

O mangá consegue manter um clima divertido, ao mesmo tempo que apresenta aspectos desconfortantes dessa fobia social que a personagem sofre.

Não tem como colocar muito bem isso em palavras, mas chega em certos capítulos que o mangá até mesmo avisa que o conteúdo ali pode criar desconforto, ou gerar crises de ansiedade em quem está lendo, porque, de fato as situações tem potencial para isso.

Nada extremamente pesado, mas não deixa de ter um toque de drama.

Acredito que a maioria já passou, ou vai passar, por um momento na vida em que falar sobre si mesmo, e a situação em que está, é desconfortante.

Tanto em um sentido romântico, quanto profissional, às vezes é complicado assumir a realidade em que estamos, e a história do mangá pega justamente nesse ponto, naquele sentimento estranho de dar um sorriso sem graça para o “E as namoradinhas?” que aquela tia aleatória pergunta.

Na maior parte do tempo você vai estar se divertido com as situações da Neeko, mas, em contra partida, aquela sensação de que existe uma pressão social por trás, e uma cobrança por padrões que você mesmo pode não estar correspondendo agora, fica sempre pairando por cima.

Dilemas da vida adulta.

Em conjunto com isso, você tem um outro aspecto interessante da vida da Neeko, que é a conscientização sobre o problema dela.

Fobias sociais não são frescuras, são problemas, doenças, que precisam de cuidado e atenção. Não é só levantar e fazer, porque se fosse assim tão fácil, ela mesmo teria feito.

Diversas vezes a Neeko tenta encontrar empregos. Por mais que dentro de todo o humor, ela reconhece que tem problemas, que não pode ficar assim, que precisa fazer algo, que tem pessoas importantes para ela sendo arrastadas junto, mas não consegue.

Tem uma parte bem interessante no mangá, em que ela se encontra com uma antiga amiga, e a história assume a perspectiva dessa amiga para ir mostrado as diferenças na Neeko.

São coisas simples, como um sorriso, a mudança de postura, e até a forma como ela cumprimenta a amiga, que mostram o sofrimento que a personagem tem passado, e como esses anos de “inutilidade” pesaram em quem ela é.

Dá até pena…

Em resumo, o mangá não é um drama, caso tenha ficado parecendo por esses últimos parágrafos. Ele é uma comédia bem dentro do padrão, brincando com referencias a cultura popular japonesa, e esse estilo de alivio cômico criado com os HikiNEETs.

Porém, o autor consegue dosar bem os pontos dentro da história para que, mesmo através do humor, conseguia transmitir uma mensagem e reflexão sobre um tema bem atual na sociedade japonesa.

 

Marcelo Almeida

Fascinado nessa coisa peculiar conhecida como cultura japonesa, o que por consequência acabou me fazendo criar um vicio em escrever. Adoro anime, mangás e ler/jogar quase tudo.