Oshi no Ko – A beleza em uma mentira | Primeiras Impressões
Escolher por onde começar a falar da estreia de Oshi no Ko não é uma tarefa fácil.
Foram tantos pontos positivos, tantas sentimentos misturados que mesmo planejando essa review por 2 dias eu ainda acredito que algumas coisas vão acabar de fora, que um detalhezinho ou outro vai se perder no meio dos meus pensamentos e não fazer jus a tudo o que eu queria dizer.
Desde a escolha de 90 minutos, até a forma como foi assustadoramente impressionante a morte da Ai, tudo nesse episódio me deixou muito satisfeito, fazendo com que, não só minhas expectativas fosse atendidas, como também fossem superadas.
Se no anuncio do mangá o autor fez questão de afirmar que Oshi no Ko seria uma obra que abalaria a indústria do entretenimento e colocaria as pessoas para pensar, hoje da para dizer com certeza que ele conseguiu muito bem fazer isso.
Essa estreia de Oshi no Ko me pegou de surpresa, não por achar que seria ruim, mas por justamente não imaginar que seria tão bom.
A decisão de transformar esse prólogo da Ai em um filme (sim, para mim é um filme mesmo não sendo) foi excelente porque eu não consigo imaginar as coisas tendo o mesmo impacto ao longo de várias semanas, onde você sempre teria aquela pausa entre um episódio o outro.
O tempo que a direção e o roteiro usaram para contar a história, indo desde de a introdução do Gorou (Aqua) e da Sarina (Ruby) até a ascensão da Ai como estrela, foi muito boa e você consegue simpatizar com tudo o que é mostrado ali.
Você entende como cada pessoa foi tocada pela presença da Ai, como o autor expressa as diferentes formas de obsessão com as Idols e o peso que isso trás na vida dessas garotas e das próprias pessoas que se envolvem com elas.
Outros animes como Oshi ga Budoukan trazem essa temática de forma mais humorada, porém, Oshi no Ko se foca realmente no problema da coisa e o melhor, faz isso sem se tornar um grande discurso moral.
O que mais me agrada nesse prólogo de Oshi no Ko é perceber o quão inteligência o autor foi na hora de contar a história.
Diferente do que se espera de uma obra de crítica, as coisas não são focadas no problema que se quer discutir. Não existe aqueles longos discursos morais, exemplos cruéis de pessoas sofrendo (por mais que elas ainda sofram) e extremismos para reforçar uma ideia.
Na verdade, é como se o autor encarnasse a própria filosofia de “amor é uma mentira” e mentisse abertamente para gente através da Ai.
É inegável que é ela quem é a grande estrela dessa estreia e tudo gira em torno de como sua vida foi sendo moldada pela escolha de se tornar Idol.
Sim, o problema não era ela ter uma gravidez precoce, o problema era ser uma Idol.
O problema não era ter virado mãe solteira ou ter apenas dezesseis anos, o problema era ser uma Idol, e esse tipo de alfinetada é constantemente reafirmada enquanto a personagem tenta… Bem, viver.
A genialidade por trás de Oshi no Ko está em justamente em não te mostrar somente o lado abusivo da indústria do entretenimento, mas também te fazer entender as perdas como ser humano que as pessoas envolvidas nisso tem.
Para mim, até mesmo a escolha de reencarnar os protagonistas como bebês não é simplesmente por ser “bizarro e diferente”.
É uma maneira de expressar toda essa obsessão e como os fãs mais extremos colocam as Idols em uma posição de responsabilidade que literalmente as obriga a cuidar deles em um sentido quase fisiológico.
O ponto em que quero chegar em tudo isso é que o carisma e simpatia da Ai não servem apenas para deixar o final mais impactante e emocional, ele também serve para lembrar que existe uma pessoa por trás daquela imagem publica.
Por fim… Que final foi aquele?!
É difícil se emocionar duas vezes com a mesma coisa, mas a staff conseguiu me impactar mesmo já sabendo o que iria acontecer. Na verdade, acho que foi até pior, porque eu antecipava aquilo.
A cada cena da Ai sendo feliz e se esforçando eu já me lembrava onde tudo iria parar e como a desgraça ia rolar soltar.
Ver tudo aquilo animado, com aquela trilha sonora e o discurso da Ai enquanto enxergava a vida que teve me quebrou mais do que quando li no mangá.
É uma cena tão impressionante que foi até meio difícil processar os sentimentos, porque ao mesmo tempo em que ela é dramática, ela também te causa uma certa repulsa pela forma como a Ai perde toda a vida.
Por sinal, isso é outra coisa que ficou muito melhor no anime, já que por conta das cores/iluminação, você sente muito mais impacto no brilho do olhar da personagem, e quando tudo isso vai embora naquele final, o choque acaba sendo ainda maior, como se realmente mostrasse que todo o brilho dela foi perdido.
Para completar, uma última coisa que gostaria de comentar sobre o final é como ele sintetiza tudo o que foi mostrado ao longo da estreia e dá aquele soco no estômago para fechar toda a ideia da obra.
Ver o anuncio da morte da Ai e as pessoas vivendo a vida normalmente, ou pior, comentando coisas horríveis como se não fosse nada é algo que… Bem, a gente sabe que é assim que funciona na internet e mesmo assim não deixa de incomodar.
A maneira como o autor mostra que ela foi só a noticia da época e depois caiu no esquecimentos, mesmo que tenha literalmente passado a vida toda tentando ganhar essa atenção do publico, retrata bem a ideia de que “foi só mais um produto quebrado”.
Isso, claro, também não significa que tudo tenha sido em vão, já que os fãs de verdade sentiram a perda e provavelmente vão continuar se lembrando dela.
A questão é que esse sentimento cinza que o final cria também faz parte da obra, onde a todo momento o autor mostra os dois lados da mesma moeda.
A diferença entre o Gorou, a Sarina e o Assassino é apenas a forma como eles expressão seus sentimentos, por que todos carregam a mesma obsessão pela Ai.
Mesmo em um ambiente nocivo e corrupto, ainda existem pessoas como o diretor que estava disposto a ajudar, fora o produtor que esteve ao lado da Ai desde a descoberta da gravidez e consequentemente adotou as crianças junto da esposa depois.
Parecem detalhes bobos, mas esse é o tipo de coisa em que normalmente obras que buscam criticar algo falham, já que se focam em criar monstros e esquecem que sempre existe um segundo lado e nada é obrigatoriamente boa ou ruim.
Resumindo, Oshi no Ko começou muito bem para mim, conseguindo entregar tudo aquilo que o autor decidiu criar e ainda melhorando os aspectos necessários para criar uma experiência final ainda melhor.
Existe algumas coisas que acabei deixando de fora, como o lance da reencarnação e os dilemas da Ai sobre amar (o que é muito bom, diga se de passagem), mas decide focar no que realmente chamou a minha a atenção no episódio.
Se existia alguma dúvida sobre dar uma chance para o anime, esse estreia deixa claro que vale a pena conferir a obra e, porque não, colocar algumas expectativas como um todo.