Editor de mangá comenta o porquê de existir tantos isekais e as novas tendências do gênero

Em uma recente entrevista ao site SoraNews24, um experiente editor de mangás – que preferiu se identificar apenas com “Y-san” –,  comentou um pouco a respeito da popularidade do gênero isekai e como publico tem reagido as novas tendências.

Quando questionado a respeito da obra que acreditava ter sido o ponto de virada para o subgênero “tensei” (reencarnação), Y-san responde que na sua visão, Tensei Shitara Slime Datta Ken foi o grande marco na história, se tornado bastante popular e colocando a Shosetsuka ni Narou (site onde a maioria dos isekais é publicado antes) como principal ponto de referência.

O editor também comentou que obras envolvendo viagens no tempo ou transferências/invocações para outro mundo (Teni) nunca foram incomuns na indústria, mas a principal diferença atualmente está em criar personagens que mesmo mantendo suas memórias, se tornaram pessoas completamente diferentes no outro mundo.

De acordo com Y-san, isso se deve ao fato dos leitores se sentirem atraídos pela ideia de se tornarem pessoas diferentes das atuais e reconstruirem suas vidas do zero.

Na maioria dos isekais, a antiga vida do personagem não é uma prioridade para história, e o principal objetivo dos autores é mostrar logo que aquela pessoa está começando uma nova vida.

Y-san também ressaltou que se surpreende pelo quão pouco é necessário para que os leitores simpatizem com o personagem na vida real, já que normalmente são dadas bem poucas informações sobre a pessoa antes de morrer.

Já em relação a crescente popularidade do gênero akuyaku reijo (reencarnação em vilãs), o editor comentou que essa vem sendo uma mudança de perspectiva dentro do publico alvo.

Mangá shoujos tem como principal característica protagonistas de coração puro e bondoso, mas com o avanço das mídias sociais, e o surgimento de romances mais realistas, esse estereotipo tem se tornado cansativo e desinteressante.

Na visão de Y-san, viver como uma heroína shoujo não é algo que muitas pessoas possam fazer. Por sua vez, se imaginar como uma vilã poderosa, e que pode repreender as pessoas que não gosta, parece bem mais atrativo.

História em que a vilã rompe um noivado tem se tornado bastante populares também, e isso provavelmente se deve a empatia do publico com seu desejo de liberdade e de se desvincular do controle masculino.

Para completar seu raciocínio, Y-san também comentou que um novo gênero tem se tornado bem popular com o publico masculino.

Ele vem sendo chamado de “zamaa”, que vem da expressão “zamaa miro/você mereceu” em japonês, e consiste em histórias onde o protagonista é expulso do grupo do herói por não ser bom o bastante, onde acaba encontrando novos aliados e tendo sua vingança ao fazer seus antigos companheiros se arrependerem por terem o descartado.

Por fim, quando questionado a respeito de já ter trabalhado com algum isekai, Y-san respondeu que não produziu uma obra diretamente, mas já esteve envolvido no planejamento de uma, e que não se sente muito confortável com a ideia de ter influenciado esse autor a criar uma obra do gênero.

De acordo com o editor, mesmo que as pessoas leiam a série, não faz muito sentido para o autor se esse sucesso não for vinculado ao seus futuros trabalhos. Isekais são muitos semelhantes entre si, e isso torna difícil para o autor criar sua própria identidade e estabelecer uma base de fãs que irá querer ir atrás de suas outras obras.

Nesse ponto, o entrevistador concordou, dizendo que se você não consegue distinguir um isekai do outro, provavelmente não vai se lembrar do nome do autor também.

Em adicional, Y-san disse que o lado positivo nisso é que autores iniciantes tem mais oportunidades em seus envios, além de um retorno financeiro maior, já que o gênero é popular e bem recebido pelo publico, e encontrar um ponto em que tanto a obra, quanto o artista sejam reconhecido, é o ideal.

 

Para encerrar a entrevista, o site SoraNews24 perguntou quais seriam as recomendações pessoais do editor para os fãs do gênero.

 

Y-san responde que Otome Game no Hametsu Flag tem uma história bem interessante e um elenco carismático e que  Hazure Poshon ga Shoyu Datta no de Ryori Suru Koto ni Shimashita tem um conceito único mostrando uma dona de casa que foi enviada para outro mundo e usa poções que deram errado para cozinhar e ganhar dinheiro.

Fonte: SoraNews24, Kudasai

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Marcelo Almeida

Fascinado nessa coisa peculiar conhecida como cultura japonesa, o que por consequência acabou me fazendo criar um vicio em escrever. Adoro anime, mangás e ler/jogar quase tudo.