Impressões semanais: Etotama 10~12
Laços de família
-Já pararam pra pensar por que ter relações com prima aqui não é considerado incesto popularmente? Não, não é por causa do “jeitinho brasileiro” nem nada disso. O que acontece é que a nossa noção de família é muito enxuta e a maior prova disso é o artigo 9278 de maio de 96 na constituição federal: “É reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família“. O que a legislação reflete é a visão pragmática que a nossa sociedade tem como conceito de família, núcleo constituído de pessoas que se limita a uma mera formalidade de laços consanguíneos, um fiozinho abstrato que separa o incesto do não-incesto. Comemorar o natal com a família? Que programa chato! Reunião de parentes? Tem briga de comadre. Minha sogra? Uma víbora! Em comparação, os asiáticos consideram até mesmo aqueles parentes distantes da parte da esposa como família, há uma amplitude maior do núcleo familiar do que aqui, e um valor muito maior também. Logo, não é estranho que, em Etotama, as eto-musume disponham de um leque familiar muito grande, visto que tanto elas como os seres humanos são crias de Deus. E não são só a Moo-tan e a Nya-tan, todo aquele conjunto de indivíduos mais o Takeru podem ser considerados uma família pela definição asiática.
O peso da liderança
-Esse assunto já havia sido parcialmente comentado no episódio da Uma-tan, e agora voltou a se destacar como tema central. Como professor que sou, tenho uma certa experiência nesse lance de liderança, e uma das coisas que as pessoas vão mais exigir de um líder é que ele seja justo e atenda a todas as suas necessidades conforme elas forem surgindo. E quanto mais você atende às necessidades, mais tem de atender as necessidades dos outros também, pois eles exigem que você seja justo e trate todos de forma igual. Isso cria um ciclo de desagrado constante e parece que eles nunca estão satisfeitos. Todas essas emoções vão convergir para o líder, e quando o mesmo é muito “bonzinho”, ele não consegue descarregá-las adequadamente e dar esporro em quem precisa dar, colocando os folgados no seu devido lugar. É por isso que a Chuu-tan não aguentou mais e acabou consumida pelo ódio.
A beleza nas coisas imperfeitas
-No início do anime, Takeru era um garoto sério, estoico e extremamente racional, que resistia a todos os charmes da Nya-tan. Pode-se dizer que ele amoleceu com a convivência, e de rígido passou a ser maleável, de controlador passou a ser permissivo. De uma pessoa que joga shogi e mora sozinha, espera-se que haja uma necessidade consciente de manter um certo controle sobre a sua vida, um estado ideal, um status quo em que tudo é perfeito e a mudança é um grande medo. O desenvolvimento da personagem de Takeru se deu quando este admitiu que existe sim beleza nas coisas imperfeitas, pois, afinal, todos somos humanos e não podemos conviver uns com os outros se não perdoarmos as imperfeições alheias de vez em quando. A Nya-tan despertou algo que estava adormecido no Takeru, e de alguma forma ele acabou se identificando com ela como existência sobrenatural que, de um jeito ou de outro, não é tão diferente dos humanos, assim como os vários deuses e criaturas maravilhosas da mitologia.
-E não foi só ele que evoluiu no processo. A Nya-tan, que anteriormente considerava que a destruição da Chuu-tan era necessária para eliminar todas as suas imperfeições de uma vez, não estava de forma alguma travando uma batalha contra a Chuu-tan, mas sim contra ela própria. A imperfeição que ela não conseguia aceitar nos outros é da mesma natureza da sua. Essa corrupção que faz das pessoas imperfeitas e instáveis combina perfeitamente com o seu caráter atual, que era muito similar ao seu caráter de outrora (uma bela sacada da produção foi fazer dela uma viajante que não parava quieta e agia no impulso, com essa última característica tendo sido conservada mesmo após a perda da memória, e perdendo parte da empatia).
Yuri vibes
-E finalmente temos a parte da purificação, em que a vilã que só precisava de um abraço finalmente o recebe. Para admiradores do cruzamento de tesouras como eu, é um deleite muito grande quando todas essas yuri vibes transbordam de uma vez só, com a tsundere deixando fluir totalmente seu lado “dere”, e a interpretação da seyuu foi excelente nesse aspecto. Se era pra ser paródia, ficou natural como se não fosse.
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-É isso aí, galerinha. Gostaram? Se gostou, deixe o joinha, se inscreva no canal, continue a nos divulgar blablabla blablabla.