Impressões semanais: Etotama 3
Humanos e Eto-Shin não são tão diferentes assim
-Se ambos provém da mesma fonte criadora (deus), é natural que as semelhanças acentuem-se mais do que as diferenças. É muito comum que na mitologia existam graus de divindade, com deus no topo, as criaturas místicas um pouco abaixo, seguidas dos híbridos (heróis, semideuses) e finalmente dos humanos. Campbell interpretou esse hibridismo como uma manifestação do aspecto dual que contrapõe o consciente (humanidade) e o inconsciente (a divindade, o mistério do qual provém todas as coisas), sendo parte da tarefa do herói reconhecer o mistério inconsciente dentro de si como uma força atuante e encontrar a si próprio (deus) no final da jornada.
Relações de karma
-Quem, em vida, empreender boas ações, será por isso recompensado. Mas quem, em seu egoísmo, tentar se aproveitar da generosidade alheia para benefício próprio, não receberá recompensa alguma. O ditado se aplica para Nya-tan, que ao invés de trabalhar, preferiu folgar durante as horas de trabalho para então exigir pagamento adiantado. E o juiz é ninguém menos que a própria entidade divina (Ten Chou, uma brincadeira com o lexema “ten”, utilizado em “Tenshi” (anjo) e “Tennou” (imperador), que como unidade de significação, possui conotação religiosa e autoritária nesses casos). O protagonista traidor do movimento pode até ficar com peninha, mas Deus não mima seus filhos.
Quebras de tensão
-A casa pode estar pegando fogo, mas a Nya-tan não dá a mínima, já que não sabe ler o ambiente. Mais do que uma característica da personagem, isso também pode ser efeito de sua perda de memória, que estaria afetando não só a sua personalidade como também a sua capacidade de julgamento.
Poder de persuasão
-O maior inconveniente em uma batalha oficial é que ambos os lados precisam concordar para que ela comece. É nessa hora que a velha arte da retórica vem a calhar, e a Chu-tan mostrou que não é apenas uma eto-shin violenta e vingativa, mas que dispõe de competências intelectuais também, negociando a própria posição no horóscopo chinês como forma de despertar o interesse da menina gato. Ela sabe que no presente momento a Nya-tan não pode lutar com toda a sua força e por conseguinte não é páreo para ela, tomando sua vitória como algo garantido. Em condições normais, ela teria acabado com a Nya-tan se um evento inédito não houvesse sucedido.
Morte súbita
-É lamentável que eu tenha recebido spoiler de uma possível morte antes mesmo de baixar o episódio, e ainda mais lamentável que minhas emoções estejam tão reprimidas que só sou afetado por coisas bem específicas, particularmente quando as mesmas apresentam um ar de nostalgia. Não vou ficar cagando regra de como mortes devem ser executadas ou coisa assim, ainda mais considerando que um número razoável de pessoas com as quais converso sofreu o efeito desejado, então irei ao que interessa.
-O que essa morte vai mudar na dinâmica entre as personagens e que efeitos terá no roteiro como um todo? Ao que indica a prévia do próximo episódio, pouca coisa vai mudar no primeiro quesito. Já no segundo, a consequência principal dessa morte se traduz na impossibilidade de a Nya-tan tornar-se uma Eto-shin, já que a Uri-tan não existe mais, a não ser que outra eto-musume venha a tomar o seu lugar, o que é igualmente provável, mas não essencial, pois a série pode muito bem terminar de maneira aberta, com apenas o conflito entre gata e rata sendo resolvido.
Referências
-CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix, 1997.