Corrente de Reviews – Tokyo Magnitude 8.0

Um anime de 2009 sobre o que “teoricamente” aconteceria se um terremoto de magnitude 8.0 ocorresse em Tokyo, capital do japão.

Review do Marco

Esse anime apresenta uma história bem simples. O primeiro episódio é gasto todo mostrando a vida cotidiana da protagonista, como ela age e o que ela pensa dos que estão a sua volta. No final acontece o tal terremoto de magnitude 8.0. Agora, junto com seu irmão e uma mulher que os ajuda eles terão que voltar para casa em meio a muita destruição e “aftershocks”, que são tremores menores relacionados a crosca terrestre se realocando depois do primeiro terremoto.

Pois bem, o anime é exatamente isso: uma simulação realista do que poderia acontecer se houvesse esse terremoto 8.0 e como as pessoas iriam agir (curiosidade: esse anime é de 2009 e aquele terremoto que aconteceu em 2011 no nordeste do japão foi de magnitude 8.9). Já viram filmes de hollywood parecidos? Eu também. Mas já viram um em que você acompanha a jornada de pessoas normais – sem missões importantes ou grande relevância para solução de conflitos -, agindo e passando por situações comuns no meio disso tudo? Bem, esse anime é sobre isso. Não existem grandes emoções ou ação. E os riscos, mesmo que se mostrem de vez em quando acabam nunca sendo muito impactantes. Você tem terremotos ocasionais enquanto os personagens estão tentando voltar pra casa e o risco de alguma coisa desabar, mas é só isso que impede o anime de ser completamente parado.

Protagonista (o design de personagens é bem simplista).
Mirai, Mari e Yuuki.
A jordana da protagonista feminina, Mirai, é bem feita. Ela começa como uma adolescente na “aborrescência”, cheia de ações infantis e com a neurose de “tentar parecer adulta”. Ao longo do anime ela vai mudando (ainda bem, porque ela é insuportável a princípio). O irmão dela, Yuuki, não, ele está naquela faze de fazer muitas perguntas, mas de resto é bem gente boa. A mulher que os acompanha, Mari, tem seu passado explicado, mas não passa por nenhuma mudança significativa. Ela é uma pessoa boa por natureza e assim continua até o final. Portanto, o anime é basicamente sobre a protagonista, ela é a única que muda com aquilo tudo.
Fora isso o anime é como qualquer slice of life mais “puro”(que não tem apelo a comédia ou romance), ele tem bastante drama e vai mostrando o dia a dia mundano dos sobreviventes. Uma pessoa fica doente, outra cansada, outra encontra o colega do colégio que perdeu os pais no incidente, é tudo bem comum. Pra mim isso é meio que um problema, já que apesar de gostar de histórias reais, eu gosto de ver as historias incomuns (sim, aquelas que hollywood transforma em filme), e não a jornada comum de uma garota tentando chegar em casa depois de um terremoto. Ainda mais que quando o roteiro oferece ajuda por meio da personagem mais velha (Mari), ele já tira o fator mais desesperador, que seria ela estar sozinha com o irmão no meio daquilo tudo (apesar de ser quase certo que seriam pegos pelos militares se esse fosse o caso). Em geral, eles estão seguros demais pra você ter qualquer grande temor ou sentimento mais forte por aquilo tudo.

O roteiro é bem feito, os diálogos bem construídos, e mais importante, de acordo com a idade dos personagens. Mas nem tudo é perfeito. O roteirista não arrisca nada. É tudo levado de forma extremamente lenta e o sentimento de “mas não aconteceu praticamente nada nesse episódio” é comum em pelo menos um terço do anime. As vezes gasta-se 24 minutos e você pensa que aquele episódio poderia ser resumido em 4. O constante abuso do enorme tempo que se tem para contar tão pouca coisa faz com que algumas cenas extras, que não deveriam estar ali apareçam também. Como a cena da mulher que acompanha as crianças reconhecendo o corpo de conhecidos em um mortuário. Os caras pedem para ela reconhecer os corpos, e só porque o cabelo é parecido com alguém que ela conhece ela fica lá sentada contemplando eles e chorando, ao invés de verificar os rostos de uma vez. A cena é tão manjada que apartir do momento que você nota a enrolação (mais de 10 minutos) para ela tirar a toalha dos rostos, fica obvio que aquelas não são as pessoas que ela conhece. A reação natural seria confirmar de uma vez e não ficar chorando a beira do corpo por 10 minutos sem nem ter certeza que aquelas são as pessoas que você conhece. Tem também um “mini-arco” de um garoto obcecado pro robôs, mas esse eu prefiro nem comentar.
Passado a metade da obra eu já estava pensando que o anime não tinha nada demais, e imaginando o que o tornou conhecido, já que até ali a história não tinha absolutamente nenhum diferencial. Ai entra o elemento que achei que estava faltando, a surpresa, o diferencial, aquilo que fez esse anime ficar na memória das pessoas. É legal? é, mas o roteiro não se esforça para tentar esconder a situação. No meu caso, assim que aconteceu eu já fiquei na duvida. Faltando um episódio e meio para a revelação eu já tinha certeza e estava só esperando eles falarem de uma vez. Ou seja, o impacto que a reviravolta poderia causar em mim se perdeu. Apesar de eu admitir que a cena em questão é bonita e bem dirigida.

Aspectos Técnicos

A animação das coisas quebrando ou desmoronando é bem feita.
Exemplo do uso de CG
A animação e trilha sonora entregam o que se pede. O anime não tem um único quadro estático e todas as cenas com multidões são feitas através de uma mistura de CG com animação normal. Quem for mais atento pode se incomodar com o CG, mas em geral as cenas fluem muito bem. O problema é que como as cenas são bem comuns e sem grande movimento, não tem nenhum corte de animação que se destaque, já que em nenhum momento eles são necessários.

Conclusão

Tokyo Magnitude 8.0 é um bom anime. Mas tem uma história que, apesar de realista, é levada de modo extremamente lento e sem a criação de quase nenhum climax ou grandes acontecimentos, tirando um no final. O roteiro é redondinho, mas abusa do tempo que tem e em momento algum mostra uma pretensão mais grandiosa (poderia). A mensagem em geral é bem positiva: a tragédia é mostrada mas a esperança e lado positivo de tudo é o que acaba exaltado. Isso pode ser bom ou ruim dependendo do gosto da pessoa (eu prefiro tragédia e desespero exaltado por exemplo). E o evento que começa depois da metade do anime pode ou não impactar dependendo da atenção da pessoa, e se ela já viu filmes ou séries de TV com situações similares, como foi o meu caso.
Vai gostar: 
– Quem gosta de slices of life e não liga da trama ser lenta, sem grandes acontecimentos ou vários climax.
– Quem gosta de dramas normais de pessoas comuns.
Não vai gostar:
– Quem não gosta de slices of life ou só gosta do gênero quando misturado a comédia ou romance.
– Quem gosta de tramas movimentadas que ficam pulando de um acontecimento para o outro rapidamente.
– Quem gosta de animes com alguma ação.
Animação: 7.5/10
Roteiro: 7.5/10
Direção: 8/10
Soundtrack: 8/10
Entretenimento: 3/10
Nota final: 7.5/10

Review da Jessica: Tokyo Magnitude 8.0 e o sorriso dos adultos 

Cuidado quando desejar que o mundo vá pelos ares!

Noitamina é um dos blocos de maiores repercução aqui, entre as pessoas que não só assistem, mas também comentam animes. Talvez o que chamasse a atenção é que, ao menos no começo, o foco era no público feminino adulto (não otome) e adaptava principalmente joseis. Durante um bom tempo, o bloco se manteve fiel a esse nicho, depois foi se abrindo a outros tipos de obras além dos mangás femininos: animes originais, adaptação de novels e animes para otakus mais hardcores (geralmente, mal recibidos pela crítica, como o difamado Black Rock Shooter). De séries que eu já vi do bloco, lembro de ter acompanhado No.6 enquanto se havia discussões divertidas (e meio estúpidas) como se era ou não era shounen-ai, além de outras ótimas obras como Tsuritama, Kuchuu Buranko, Un-Go, Shiki  e Usagi Drop e umas menos… eh, memoráveis.

Montagem comemorando os 10 anos do noitaminA.

Tokyo Magnetude 8.0 fica no meio do caminho em questão cronológica: sendo um anime original saindo na metade de 2009, ele ainda está na fase em que o bloco se abria para obras mais “cultas” em meio aos joseis. Com um protagonismo feminino presente, acredito que ele tenha tido algum apelo para o público do bloco na época de qualquer forma.
Como o próprio nome já diz, o anime se passa em Tóquio, começando em Odaiba. Mirai, uma menina que sofre de aborecencia crônica entra de férias e reflete sobre o que vai fazer da vida (sem muita animação). Dizendo sempre que já é adulta e reclamando dos pais, ela acaba sendo convencida à levar o irmão mais novo, Yuuki, para a exposição de robôs na ilha artifícial e de quebra, comprar um presente de aniversário para sua mãe. Lá, na espera dele no banheiro, ela reclama da vida e do mundo e… acontece um tremendo terremoto!

TM 8.0 foi feito nessa especulação: na época, a expectativa era que em menos de 30 anos, algum terremoto acima da escala 7 atingiria Tóquio, um medo que atormenta a vida dos japoneses, afinal, o  mais mortal da história ocorreu na mesma região de Kanto, levando mais de 140000 vidas e forçando os japoneses a praticamente reconstruírem a cidade. O que aconteceu em 2011 talvez tenha superado (num mal sentido) as expectativas dos japoneses e alimentado ainda mais ansiedade de que outro tremor que talvez possa atingir a capital do país.

Numa ótica realista, o anime aborda o suposto desastre de maneira não muito sensacionalista mas ao mesmo tempo, resalta a gravidade da situação. Há pessoas em pânico, há pessoas que apesar de tudo, mantem a calma e esperam, assim como há quem está ajudando e quem, inevitavelmente, acabou perdendo parentes ou conhecidos. Entre as que estão dispostas à fazer algo de bom, está Mari. Mãe de uma menina de 4 anos, ela encontra os dois irmãos protagonistas e se dispõe a ajudar à levá-los para casa, passando por outras áreas arrasadas na cidade.

Apesar do que indica inicialmente, o anime não é uma tão focada assim no desastre. Fugindo ao clima hollyhoodiano em que as coisas só parece ficar piores para no final tudo se resolver, TM 8.0 tem um drama muito mais sútil. Os protagonistas encontram situações de perigo e adversidade, mas mesmo assim, são sempre animados pela carismática Mari. Talvez o aí entre o verdadeiro mote do anime: ele não quer mostrar o desespero, mas sim realmente fazer o telespectador (japonês, no caso) pensar melhor como agir em tal situação. E ai entra o papel da protagonista Mirai, juntamente com seu crescimento ao longo dos episódios.

Mirai está sempre exigindo ser tratada como adulta e talvez por isso não acontecer, acaba ficando ranziza e mal humorada, em contraste com Mari, que é de fato, adulta, e sorri sempre.
Ela com certeza está preocupada com a filha e a mãe, como é reforçado na série toda, mas mantém uma atitude muito otimista boa parte do tempo.

Mirai ao lado de seu irmão. É, dá pra ver a diferença da personalidades deles.

Muitas essas características são associadas aos adultos como parte de suas obrigações de proteger as crianças. Isso não é só em mangás em animes, lógico, é algo com um caráter muito mais universal, mas o ato de sorrir diante dos outros para esconder sua preocupação é bem comum nas obras japonesas, associada principalmente à personagens com maior maturidade.

Só para dar um exemplo, por um acaso eu estáva lendo, no meio tempo que assistia o anime, os primeiros dois volumes de Lúcifer e o Martelo (ou Hoshi no Samidare). Para quem não conhece, esse é um mangá seinen com um plot típico de mangás de batalha da Jump (quase uma paródia, apesar de se levar “à sério” em vários momentos). Dentro das temáticas, estão o conceito de um adulto: o protagonista, lembrando a Mirai apesar de estar na faixa dos 18 anos, quer ver o mundo explodir (literalmente), enquanto outro personagem, de atitudes apostas e que se intitula um paladino da justiça. Adivinha qual dois é tratado como adulto?

Lúcifer e o Martelo e Tokyo Magnetude 8.0 são totalmente distintos, mas tem esse mesmo conceito de que a maturidade é conseguida quando deixamos de lado nossas próprias aflições em prol de quem está ao nosso redor. Mirai, com o passar dos episódios, vai crescendo devido a essa experiencia, movida pela necessidade de proteger o irmão, que apesar dela tratar tão mal às vezes, ama muito. Seu sorriso vai ficando cada vez mais evidente e natural, mostrando o crescimento da personagem.

Agora, à partir desse ponto começam os spoilers, não digam que eu não avisei.

Uma das coisas que me pegariam de surpresa se não fosse o spoiler que eu já havia pego da série à muitos anos atrás foi a morte de Yuuki. Não a revelação disso, que foi praticamente uma confirmação do que todos já sabiam, mas o fato dele ter morrido de maneira súbita é algo que mesmo em histórias de desastres é pouco esperado. A mudança de atmosfera que o anime tem depois disso é bem clara (ponto para a direção). São câmeras distantes dos personagens, exaltando sua solidão, é um uso diferenciado da trilha sonora e em destaque, as sequencias em que Mirai aparece sózinha, no corredor do hospital, sobre iluminação esverdeada.

É difícil dizer se o fato de Yuuki continuar aparecendo só para ela foi um elemento sobrenatural de fato ou apenas uma reação subconsciente da própria Mirai, mas seja lá o que for, esse marca o atingimento máximo da sua maturidade: aceitar a morte do irmão e seguir em frente.

Conclusão

Tá, mas e aí, eu gostei disso tudo ou não? É, gostei. Na verdade, confesso que no ultimo episódio derramei algumas lágrimas (algo que os mangás tem feito recentemente com mais frequência). É uma série focada, que passa sua mensagem de forma bem clara e desenvolve bem seus personagens (sim, Zankyou no Terror, ainda estou chateada você). Quem espera algo mais desesperador como são séries de tragédias pode acabar se desapontando por ganhar algo bem mais sútil. Eu não vou comentar detalhes técnicos como a animação e et cetera, é tudo muito na média entregando o mínimo para não estragar a história, que é o que anime vende. Fica como curiosidade que essa é umas das primeiras obras relevantes do estúdio Kinema Citrus, ainda em parceria com a BONES. O mesmo pode ser dito do seu diretor, Masaki Tachibana, que recentemente cuidou do elogiado Barakamon.
Para quem quiser uma boa obra sobre crescimento, fica a recomendação.

Comentários do Marco: Essa é primeira vez que o IntoxiAni participa da corrente de reviews. A proposta da corrente, que acontece uma vez ao ano, é basicamente um blog ir fazendo indicação de obras para outro através de sorteio. O propósito, normalmente, é indicar animes fora do padrão que aquele blog faz reviews ou comenta. Quem indicou Tokyo Magnitude 8.0 pra gente foi o KazeK8888. E embora não seja algo muito fora dos padrões do blog, é de fato um anime que , apesar de bom, quando avaliado friamente, eu não teria terminado (iria parar no ep 3 ou 4) se não estivesse participando da corrente. Nesse aspecto o evento funcionou muito bem pra mim.
O blog que pegamos no sorteio (Missão Ficção) era meio complicado de indicar um anime fora do padrão que eles estão acostumados, já que é um blog novo e que parece ter um foco distribuído entre em cinema, livros, video-games, seriados e animes. Por isso, com o consentimento da Jessica, que também estava comigo decidindo, resolvi simplesmente indicar meu anime preferido, Code Geass.

Comentários da Jessica: Ouso da corrente de reviews desde o lançamento e fico feliz não só por ter participado pela primeira vez, mas por contar com o Marco também. Nossos gosto são bem diferentes e isso torna a experiencia mais diversificada para os leitores do blog. No mais, para mim foi uma experiencia bem positiva já que fazia tempo que eu não concluía um anime encerado à muito tempo.
Enfim, esse texto ficou enorme e no meu caso fiz algo um pouco diferente do padrão, mas espero que tenham gostado!