-“In the vast, deep forest of Hyrule… Long have I served as the guardian spirit… I am known as the Deku Tree…”
-A experiência de blogar um anime semanalmente implica um senso de dever com o seu público, e também se manifesta como uma necessidade de manter a qualidade de um post toda semana para que os leitores continuem acompanhando fielmente o que você escreve, visto que você (o blogueiro, eu) é um maldito e incurável ser carente de atenção e afeto. Porém, nem sempre é possível alcançar a meta de manter o primor da sua escrita, conservar a sua habilidade de transpassar o que você sentiu e elucubrou sobre de uma forma satisfatória. Há dois fatores que influenciam esse processo de deteriorização.
1) O anime esgota sua premissa e começa a não trazer nada de novo a ser contemplado.
2) O episódio é tão nonsense/simbólico/fumado que o blogueiro se sente impotente ao tentar discursar sobre o mesmo.
-Já devem ter entendido que estou falando do caso número 2.
Quotes de alguns que assistiram o episódio:
“PERGUNTA já que estamos no assunto: Aquela porra toda com as fadas, lá da Natasha em Sekai Seifuku, aquilo é LITERAL ou tem ~camadas~?”
“Pra discutir Sekai Seifuku tem que dar um tapinha e botar um Bob Marley”
“Sekai Seifuku 04: 2DEEP4ME. Isso, ou o anime tá mais perdido que cego em tiroteio.”
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Fairy lady who stands on the udo~ |
-O mais estranho de tudo isso é ver que esse roteiro inteiro foi motivado por um…qual era o nome daquilo mesmo? Ah, sim, Udo, a planta enterrada há 20000 anos em Udogawa (lol), que não podia ser comida pela menina robô se estivesse cozida. Tinha um blogueiro gringo argumentando que o fato de a raiz do Udo afetar todas as plantações em nível molecular ou algo assim tinha a ver com a regra da simpatia de que “semelhante atua sobre semelhante”, o que de fato é válido na classificação de Mauss, mas ainda não vejo como isso seria um tema recorrente no anime, então vamos esquecer o pistilo, vamos esquecer os fumantes e vamos esquecer aquele personagem que só se ferra que eu nunca lembro o nome e nos concentrarmos no passado da Natasha.
-Natasha é uma menina que era nerd quando criança e continuou a ser nerd na adolescência, porém mais sociável. Ponto. Ela nunca conseguiu acreditar em fadas por serem altamente anticientíficas, isolando-se do resto do mundo dentro de seu quarto. Certo dia, seu pai e sua mãe a pegaram pelo braço e decidiram que ela deveria ir para o mundo das fadas porque sim. Quando chegou lá eles sumiram, porém ela foi salva graças à Kate, sua atual líder.
-Primeiramente, o isolamento. A característica mais marcante de se isolar é a crença de que nada fora da sua zona de conforto vale a pena. As pessoas são ruins e não me interessam, logo não vou sair do meu quarto pois é mais conveniente. No meu quarto eu tenho um mundo inteiro só para mim e ninguém pode me incomodar. Fadas são anticientíficas.
Pessoas são anticientíficas, logo não há motivo para sair daqui.
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Provavelmente uma referência a um estilo cinematográfico de algum diretor famoso cult que eu não conheço |
-Em seguida vem a família. Se isso fosse um sonho e eu tivesse que interpretá-lo de acordo com o método construtivo de Jung, conduzir a criança ao mundo das fadas é o mesmo que conduzi-la a um lugar que não existe, ou seja, guiá-la por um caminho confuso, ser irresponsável. A geração atual de pais não cria seus filhos para enfrentar o mundo. Ao invés disso, temos uma geração de jovens que acredita que é especial e que se não conseguirem os melhores empregos e terem seus nomes impressos em livros de história são um fracasso, uma decepção¹. Logo, os pais conduzem o filho sobre um caminho repleto de fadas e promessas, mas quando a coisa complica os pais desaparecem e só sobra mesmo a escuridão, o vazio de ser “menos do que você poderia ser”.
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Achei uma graça |
-Por último vem a Kate. Ela é a fada que a Natasha viu nos livros de história mas nunca acreditou, e pela primeira vez, quando tudo parece estar perdido, ela aparece na sua frente, sublime e onírica. Para uma menina que só havia conquistado seu espaço privado e perdido, o prospecto de conquistar o mundo acabou encantando-o muito mais do que qualquer outra coisa. “No meu mundo você tem lugar, no meu mundo você pode ser o que quiser, não precisa fazer algo que não queira, no meu mundo você é livre“.
-No episódio 3, Kate forçava os fumantes a pararem de fumar por meio da repressão direta. No quarto os pais de Natasha a forçam a sair do seu quarto para ir ao mundo das fadas (o que na verdade é mais simbólico que literal, provavelmente eles disseram que ela tinha que fazer amigos ou talvez queriam explora-la pelo fato de ela ser prodígia empurrando-a para programas de TV, competições de soletração, turmas especiais e variados).
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Saindo pelo buraco do coelho |
-No fundo acho que o que esse episódio está querendo dizer é que a juventude não está crescendo de maneira saudável. O cunho aterrador da infância em comparação com o cunho saudável da fase adolescente/adulta de Natasha assustadoramente parece aos meus olhos uma inversão de papéis extraordinariamente rara. Eu cresci vendo meus pais dizerem que a vida não é fácil, que temos sorte de sermos crianças, pois a vida adulta é uma merda, então um adulto ser feliz me parecer tão antinatural quer dizer que a coisa está realmente feia para a sociedade. Quando paramos para pensar, o natural deveria ser o que o anime mostrou, e por que não é? Taí uma questão para refletirem.
Agradecimentos ao Bruno do twitter por ter acendido uma centelha de idéia na minha mente que de outra forma não teria se acendido.
PS: Hamatora 4 e 5 saem juntos até domingo.
Referências:
¹ http://www.huffingtonpost.com/wait-but-why/generation-y-unhappy_b_3930620.html