Primeiras impressões: Sekai Seifuku
– Melhor que Big Brother.
Diretor: Tensai Okamura (Darker than black, Wolf’s rain, Ao no exorcist)
Estúdio: A1-Pictures
Roteiro: Tensai Okamura (Darker than black de novo) e Meteo Hoshizora (Type moon)
Notas adicionais: mesmo character design de Allison & Lillia e Kino no Tabi. Mae Shimada como diretor de animação (trabalha em Naruto, foi diretor de animação do anime de Bleach )
Considerações: Uma staff de renome, eu diria. Darker than black está entre meus animes prediletos por motivos óbvios e é sempre bom mais uma história recheada de ação saindo do forno. Não estou familiarizado com o trabalho do Meteo, pois obviamente não joguei nenhum dos jogos em que trabalhou, logo ele é o fator surpresa do bando. Me dá esperanças ver um cara que trabalhou na parte de animação de Naruto e Bleach. O anime de Bleach durou quase 8 anos, e embora o trabalho em animes shounen de longa duração seja bastante fragmentado por estar sempre exigindo várias sequências de ação em vários episódios, ainda assim é tempo o bastante para até mesmo o peão-mor ganhar experiência. Não sabemos se ele vai continuar, entretanto, pois o ANN só lista ele como diretor do episódio 1. A1-Pictures faz um bom trabalho quando quer (felizmente, dessa vez eles querem) e quando não quer…bem.
Episódio: Sekai Seifuku (não se traduz como “uniformes escolares mundiais” como eu havia imaginado) é um daqueles animes em que o pivô não é o personagem principal, mas sim uma figura de liderança a qual o mesmo está subordinado. Exemplo 1: Black lagoon, interação entre Revy e Rock. Exemplo 2: Fate/Zero, sublinhando a dinâmica entre Rider e Waver e como o primeiro se torna fonte de inspiração e força para o segundo. A maior implicação e preocupação disso é que o personagem principal pode não se desenvolver em termos qualitativos e no pior caso acabar se tornando apenas um “orelha” inútil. No melhor caso haverá um desenvolvimento e mudança de caráter incitados pelo personagem pivô, que no caso é uma menina de 6 anos de idade.
Hoshimiya Kate (VA: Misaki Kuno), a despeito de sua idade tenra, almeja um ideal que muitos (Genghis Khan, Hitler, Alexandre, Napoleão, Cérebro) não conseguiram: Sekai Seifuku (dominação mundial). No sentido clássico da palavra, dominação mundial significa submeter todos os territórios existentes ao seu comando através de poder bélico, influência comercial, cultural e religiosa de modo a obter uma nova ordem mundial estável e promissora. Na prática nunca funciona tão bem, pois estamos lidando com pessoas cujos interesses divergem e podem facilmente ser corrompidas (os sucessores de Alexandre que o digam). A ambição sempre é perigosa justamente por ser preciso readaptar e reorganizar uma miríade de territórios e não só mantê-los, mas reprimir revoltas, cuidar de questões políticas, e visto que não é possível fazer tudo sozinho, confia-se em terceiros, e aí que mora uma das problemáticas, que é não saber até que ponto eles se manterão fiéis ou não, se são competentes ou não, se podem ser ludibriados por promessas de um conquistador externo ou não ¹.
Conquistas normalmente são impulsionadas por um forte sentimento nacionalista e uma necessidade urgente de revogar a ordem atual e instaurar uma nova, acompanhados ou não de revanchismo. O pai do protagonista aparente ser um homem rígido, severo e estrito, que se utiliza da imposição para governar o seu reino, no caso o lar (estatística: os lares estão cada vez mais sendo “governados” por mulheres). Da mesma forma, o Japão aqui representado vive uma situação autoritária, representada pelo excesso de leis marciais vigentes, e essa é a crítica de Kate ao sistema.
Logo, podemos afirmar a rigor que o anime terá como foco a ideologia de Kate para a dominação mundial, que é obviamente a ideologia do autor para a dominação mundial, que obviamente também pode servir como crítica a algum aspecto da cultura japonesa ou não (espero que não, esse tema já é abordado em KlK o bastante). Suponho que o pacifismo seja uma característica marcante dessa ideologia, visto que ela deixou todos os operadores de tanques vivos ao fim do episódio marcando-os com seu carimbo. Claro que ela precisa ter superpoderes, pois sem usar a força, mesmo que moderadamente, não se pode iniciar uma revolta desse porte. É preciso ter muito poder nas mãos para deixar o inimigo vivo, e o que Sun-Tzu dizia era que a maior vitória era aquela em que não havia derramamento de sangue.
Mas de onde vem esses superpoderes? Bem, estamos falando do autor de Darker than black, um anime em que do nada dois portais em lados opostos do globo surgem e “puff” aparecem contratantes e dolls em escala global, sendo que esse processo nunca foi devidamente explanado, o que prova que um padrão de qualidade ao ser mantido consegue tornar as minúcias e questionamentos insignificantes para a apreciação de uma obra como um todo, e não há outro estilo melhor que o anime para fazer cenários malucos e altamente improváveis como esse funcionarem. Sekai Seifuku ainda tem muito o que mostrar, mas por hora a expectativa (ao menos a minha) é de que teremos algo no nível “Top 5 de 2014”.
“Lincoln tinha potencial, mas sua fraqueza era que não conseguia lidar com projéteis.”
H.K~
¹ Vocês podem ter uma noção complementar disso lendo “O príncipe” de Maquiavel. É simples, direto e fácil de entender.
