Impressões semanais: Orange #11
Uma das maiores reclamações acerca da obra Orange – tanto anime quanto mangá – se refere a relação Naho/ Suwa. É inegável que temos a impressão de que ambos acabaram juntos pelo acaso da morte de Kakeru, sendo que o garoto era primeira opção de Naho, e assim presumimos que o amor nunca foi recíproco entre o casal formado no futuro, ao menos não na mesma intensidade. Afinal, vivem os dois em um arrependimento mútuo resignado? Como Suwa consegue suportar isso?
Essas questões são abordadas pela 11ª parte de Orange, mas ao tentar buscar alguma solução inexistente, o roteiro acaba por tropeçar em suas próprias ambições, sem parecer ter algum foco definido sobre o assunto.
A cena no carro, com os personagens já adultos, é absurda, inacreditável. A facilidade com que Suwa assume o fato de estarem juntos apenas pelo perecer de Kakeru, como se ele fosse uma sobra, é alarmante. A passividade de Naho deixa a dúvida se ela realmente ouviu o diálogo, mas não deixa de ser um método expositivo e hilariante para abordar a questão.
Isso, ao menos, deixa jogado o quão perturbadora é a existência de Suwa, e então suas atitudes ao longo do episódio são compreensíveis. O garoto se considera culpado pela destruição de vários destinos, e manter-se longe do momento que originou tantas circunstâncias capitais é o mínimo que poderia fazer, de acordo com sua percepção.
E como já está claro Orange se tratar sobre amizade, é natural que o resto da turma, por mais que tenha o objetivo em comum de ajudar Kakeru, não se conforme em ver o o tormento auto-induzido por Suwa, que assim se priva de todo seu destino e seu maior sonho.
Porém, ao mostrar a insistência do grupo para ele revelar seus sentimentos, há uma contradição com o que é mostrado pelo anime em si. A intenção de Takako, Hagita e Azusa é, claramente, mostrar como o caminho escolhido por Suwa não é o gatilho que leva às catástrofes, só que não há nenhum caminho que cruze a salvação de Kakeru com a satisfação amorosa de Suwa.
Kakeru depende de Naho, e os pombinhos se amam. Não há espaço no meio para uma terceira fatia. E revelar seus sentimentos apenas causaria uma aceitação obrigada por parte de Naho, o que levaria ao já conhecido destino final – sendo este melancólico e cheio de amargura – e a outro onde ela, amadurecida pelo que enfrentou no anime, não abdica de seus sonhos para os outros, e assim recusaria o amor de Suwa.
Rejeição ou arrependimento. É a escolha do menos pior. O que podemos presumir, é que o tempo curaria as feridas de Suwa, mas as cicatrizes, ao menos estas, sempre estarão presentes. Arriscar mudar o futuro, como bem salientou Hagita, acarretará consequências.
E infelizmente para Suwa, Kakeru realmente necessita de Naho – e dos outros amigos também, mas há claramente uma prioridade. Se as amistosas conversas iniciais davam a impressão de vermos um novo menino, o final deixou claro que sua mente ainda enfrenta pesadas tempestades.
Sua reação para com Naho pode soar bruta, precipitada, porém, não seria cabível julgá-lo a não ser que se tenha passado por situação semelhante, e convenhamos que esses falsos consolos, para qualquer um com alguma experiência em vida, são irritantes. “Tudo vai ficar bem.” Não há como definir a complexidade da vida em algo tão simples.
Aliás, quanto a essa cena final, é curioso que Orange, cuja técnica tanto questionamos, tenha atingido tamanho esmero. Reparem no contraste entre os figurinos de Naho e Kakeru, assim como dos ambientes. Ao partir, é como se ele deixasse a luz de Naho para o desconforto da escuridão, em ressonância com o seu interior, na ocasião.
Esse é Orange! Um anime irregular e imprevisível, uma pena que nem sempre para o bem. Duas semanas para sabermos quão lado prevalecerá.
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