Sangatsu no Lion #02 – Impressões Semanais
Podemos dizer que há um consenso geral de que, por mais que trabalhar e estudar não costumem ser tarefas prazerosas, ocupar a mente seja uma característica preponderante para nossa espécie em prol de uma vida saudável. Isso é ressaltado em tempos de crise, quando a lembrança de alguma tragédia ainda desfila na superfície de nossa mente. Há outros meios para tal, mas as duas tarefas citadas acima são as mais convencionais para uma distração imediata.
O início do episódio, aparentemente deslocado, pode dizer muito disso. Sequência direta ao final do capítulo anterior, o auto-afirmado-amigo-rival, o clássico antagonista-não-antagonista, deve representar muito mais um estímulo e pilar inconsciente ao protagonista genioso e estagnado do que um nêmesis clássico e vilanesco. É o mesmo que vemos em Shigatsu entre os musicos, imagino.
O Shogi, para rei, não aparenta mais ser um hobbie, uma diversão; mas sim um simples meio de sustento, como podemos ver no piloto, em seu olhar vago e ensimesmado durante a partida com o ancião. Talvez tudo que ele precise seja alguém que reanime seu prazer pelo exercício. Aí a importância do novo sujeito. Ainda que o contato com o garoto tenha sido supérfluo, idem seu jogo com o rapaz agressivo, sua apresentação constrói a personalidade de Kiriyama e pode ser um indício do que há de vir. Além disso, geram cenas de humor genuínas e orgânicas.
Mas o foco, como básico em jornadas recém-iniciadas, se dá no desenvolvimento minucioso e lento daquele que nos conduzirá. E para encaixar a chave de pensamento que disse aqui, temos de ir quase para o final do capítulo, nos devaneios passados de Rei durante o jantar na casa das irmãs, quando sua psique revela os seguintes pensamentos:
Já está explícito que os pais de Rei pereceram, deixando o garoto sozinho com o velho que jogou Shogi consigo anteriormente. Em rápido flashback deste episódio, vimos um carro em condições precárias. Os pontos se ligam através das visões.
Para isso, o garoto mudou-se de cidade, mas é claro que um simples novo terreno de nada adianta quando sua verdadeira moradia – a mente – encontra-se nublada, e assim, o que se via era uma cidade monocromática e sem vida, o retrato interior do personagem, quando estava, em suas próprias palavras, num torpor, atingido pela depressão, sem interesse em nada novo ou que o havia distraído até então.
O visual interno do apartamento atual de Rei denota sua infelicidade e vazio parciais. O psicológico é algo complexo, complicado. A ferida ainda não cicatrizou. Porém, em comparação com as imagens e mensagens acima, fica claro que houve uma evolução, sendo esta possível graças ao primeiro contato real que Rei teve em seu novo ambiente – as irmãs. Não são suposições, são afirmações feitas pelo protagonista. O simples fato de dividir companhia, de alguém requerer sua participação, de estar próximo, o calor de um bento. Esses elementos, talvez ínfimos para alguém que nunca passou por situação semelhante, são de uma significância imensurável para quem enfrenta uma solidão claustrofóbica e asfixiante.
Um vindouro romance parece ser plantado aqui, entre Rei e a irmã mais velha, visto o rubor das bochechas e o sentimento mútuo de necessidade. O que atesta contra isso é a atitude maternal da mulher (mulher, não garota) para com Rei, ao auxiliá-lo em um momento de extrema fragilidade, e o próprio papel que desempenha na família, sendo uma mãe também para as menores. É claro que temos exemplos reais e fictícios de casais com idades incomparáveis, entretanto, eu não apostaria tanto assim em ver ambos juntos.
Portando, por mais que possa parecer um episódio lento e com pouca informação, uma análise mais atenta demonstra a riqueza de conteúdo exposta por si, de forma sutil e delicada, com um ritmo suave e que exala ternura.
Se Rei anseia por atravessar a ponte que o separa do calor emanado pelas três chamas que o mantém aquecido, eu mal posso esperar pelo reencontro com este universo.
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Qual sua nota, leitor(a)?
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#Extras