Sangatsu no Lion #05 – Impressões Semanais
O garoto vai à escola buscar a pequena aluna. Sua postura é semi-curvada, com uma compleição simples, magra, padrão leste-asiático pré à era do Whey. Expressão taciturna, exala uma calmaria semelhante ao estereótipo que temos de jovens exemplares. “Deve ser um bom estudante, dedicado, esforçado, respeitoso e íntegro” – é um pensamento familiar que temos da figura.
Talvez até seja – ou fosse, em circunstâncias ideais. O comum ato de consolar e salutar a ferida da criança, porém, evoca sentimentos que recusam-se a permanecer enterrados, como uma espinha interna sobreposta e purulenta. O que vemos no externo serve de receptáculo para um interior em constante provação, negação, como sombras em uma frenética compulsão para puxar o garoto de volta para a escuridão.
Após o fim de sua missão, Rei atravessa seu habitual caminho, agora sob os braços de Nix (noite), em dissonância tão notável para o ambiente anterior que parece mais uma outra dimensão – e provavelmente é, ao menos na mente do protagonista.
O passado, lentamente, como deve ser, é esmiuçado. Após módicos vislumbres da morte dos pais e uma adoção que lhe reservou anos insalubres, porém inevitáveis, entendemos muito das razões para a personalidade do rapaz. Obrigado a adotar um hobbie qual não sentia atração para manter algum contato com seu distante pai, se vê compelido a fazer o mesmo para evitar o terror desconhecido do orfanato. E aí, já com o pensamento condicionado a refletir e ponderar racionalmente, sem as manhas e graças que sua idade geralmente traz, vê sua paulatina vitimização, construída em anos de reclusão, inadequação e bullying, ser a biga que conduz todas as suas ações, desde a apatia diária com que aceita os tormentos alheios, até a melancolia geral que assume ao se considerar o elemento que desequilibra o que deveria ser um lar comum.
O quão espinhosa é a estrada de uma criança que se vê como empecilho à felicidade alheia quando o pilar preponderante para o desalinhamento da família está visivelmente na conduta paterna, cuja rigidez confunde respeito com repreensão, e assim cria um precoce acovardado e na antípoda, uma grande tirana (e seria a menina também responsável pelo molestamente a Rei que vimos no capítulo anterior?).
E assim, calado e com um ambíguo misto de autoindulgência com autoflagelação psicológica, a psique de Rei começa a ganhar formas abstratas e enegrecidas pelas mãos e criatividade do genial e incrivelmente comedido diretor, certamente em casa na natureza complexa do anime.
Que presente nós recebemos com esta obra!
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Qual sua nota, leitor(a)?
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#Extras:
E abaixo, excelentes exemplos do primoroso design de produção ao espelhar sua coloração com o interior do personagem central em cena (sim, até do cachorro):