As Crônicas de Arian – Capítulo 3 – Por alguém que valha a pena morrer
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Capítulo 3 – Por alguém que valha a pena morrer
“Fique aqui e feche os olhos, Sara, tudo vai ficar bem”, as últimas palavras de sua mãe lhe vieram à cabeça. Ela estava lá quando os mercenários invadiram sua casa, escondida no porão. Ela fechou os olhos e tapou os ouvidos, mas ainda podia escutar os gritos de sua mãe, bem acima de onde ela estava. Sabia o que os mercenários estavam fazendo com ela, e não podia fazer nada, só ficar lá, inerte, tremendo e chorando.
Tinha pesadelos com aquele dia até hoje, mas tentava ignorar e seguir em frente. Nunca pensou que acabaria da mesma forma que sua mãe.
Mal conseguindo respirar e com o rosto coberto em sangue, já havia desistido de reagir. Foi quando viu Robert a observando pela fresta da porta do bar. Ele estava claramente pensando em ajudá-la.
“Não!”, pensou. Ele era forte, mas não tinha como lutar contra todos aqueles homens. Só um deles precisava morrer ali, e ela tentou falar isso com os olhos.
Ele pareceu ter entendido, e sumiu de sua visão logo depois. Uma sensação de tristeza e alívio a tomou. Talvez, lá no fundo, quisesse ser salva, mas ao mesmo tempo estava aliviada, pois Robert sairia vivo. Já fazia tempo que sentia algo mais por ele do que amizade, e embora nunca tivesse coragem de se declarar, tentou várias vezes demonstrar o que sentia, na esperança que ele tomasse uma iniciativa.
Seu pai, que também gostava de Robert, chegou até a tentar dar uma ajuda com isso. Infelizmente, o avoado nunca notou.
Teve um dia que sonhou ter casado com ele, e que ambos, junto a seus dois filhos, cuidavam do Bar, no lugar de Jeff. A parte dele ser um monstro na cama foi detalhada até demais nesse sonho, o que fez Sara ficar vermelha por vários dias, sempre que olhava para ele. Robert, como sempre, interpretou tudo errado, e achou que ela estava brava com ele por estar evitando fitá-lo cara a cara.
Mas nada disso importava agora… Só queria que aquilo acabasse logo, e talvez, pudesse ir se encontrar com sua mãe. Depois de tirar a faca de sua perna Philip rasgou sua roupa intima e a virou de costas . Foi quando aconteceu.
De repente, uma das dez cabeças dos homens que estavam olhando para ela desapareceu. O homem deve ter morrido antes mesmo de chegar ao chão, tamanha a violência do golpe que acertou sua cabeça. Era Robert, usando um tronco enorme de madeira. Todos os homens se viraram para ele.
Philip instintivamente olhou para trás e se levantou, mantendo Sara deitada pressionando o pé direito contra as costas dela. A garota podia sentir a terra molhada da chuva e algumas pedras machucando seu peito.
Eram dez contra um, ou na verdade nove, já que Philip não avançou, se mantendo encostado na parede da casa de Jeff, junto a ela.
Os homens o cercaram. O espaço era muito pequeno, as paredes do Bar e da casa formavam um beco de no máximo 4 metros de largura.
Um deles tentou acertar Robert pelas costas, mas ele foi mais rápido e girou o tronco com toda força, repelindo a espada. Quando o fez, no entanto, outro soldado conseguiu abrir um corte em sua perna, usando sua arma.
Com um grito de dor ele tentou revidar, mas quando o fez, sua outra perna foi ferida, e um dos homens acertou um soco com toda força em seu rosto. Ele caiu, e os cinco homens à sua volta caminharam em sua direção, lentamente, preparando o golpe final. Os outros quatro soltados só observavam aquela luta covarde.
— Não, por favor, não o matem, façam o que quiserem comigo, mas não matem ele! Por Favor! — gritava Sara, chorando.
Sara não entendeu como, mas mesmo com as pernas bambas devido aos ferimentos, Robert se levantou, tirou a espada do homem distraído pelas súplicas dela, e a cravou no meio do peito do homem.
Depois disso, deu um grito furioso. Estava com cortes nas duas pernas, mal podia andar, mas nunca o vira tão ameaçador. Seus olhos eram pura raiva.
Os homens se afastaram instintivamente.
— Deixem ele comigo — falou o maior dos homens de Philip, se aproximando de Robert.
O sujeito avançou, despreocupado, sem sequer tirar sua espada. Desviou do soco que Robert tentou dar nele e acertou um em seu queixo.
Rob cambaleou, estava zonzo. Tentou agarrar o homem com os dois braços, mas quando o fez, levou um chute no meio das pernas.
Robert caiu, estava quase desmaiando quando seus olhos se cruzaram com os de Sara. Foi então que ela viu a motivação daquilo tudo em seus olhos. Ele podia nunca ter tomado a iniciativa para com ela, mas, do seu próprio jeito, gostava muito mais dela do que Sara podia imaginar. A ironia era que por causa disso ele iria morrer.
— Robert, não! — gritou Sara em desespero, tentando se levantar enquanto as botas de Philip a pressionavam com mais força contra o chão.
— Deve estar muito bem para ter tempo de se preocupar com os outros — falou Phillip, que a virou de frente e pisou com força em seu estômago. Ela deu um grito estridente. Nunca sentira tanta dor na vida.
Ouvindo o grito de Sara, Robert deu um berro furioso e tentou se levantar novamente, mas foi parado e caiu de novo com um soco de Evan em seu rosto. O soldado então montou em cima de Robert e começou a aplicar vários socos em seu rosto, até que ele finalmente parou de se mexer.
— Evan, não é você que prefere homens? Sinta-se à vontade — falou Philip, com um sorriso maldoso, apontando para Robert, que estava quase inconsciente.
— Amigo, quando eu terminar, acho que você vai desejar que tivéssemos te matado — sussurrou Evan baixinho no ouvido de Rob.
— Desculpe… Sara… — falou Robert, olhando para ela, enquanto sangue escorria pela boca cheia de dentes quebrados pelos socos do atacante. Pareciam suas últimas palavras.
Evan, ainda encostado no ouvido dele, deu uma risada, provavelmente admirado pela persistência.
Foi quando Rob abriu os olhos e mordeu sua orelha, puxando até arrancar um pedaço. O homem caiu para trás gritando.
— Desgraçado! — gritou Evan, com a orelha sangrando.
Robert, com um urro furioso, se levantou novamente, avançou contra Evan e acertou um soco em cheio em seu rosto. A força foi tamanha que o homem foi jogado contra a parede de pedra atrás dele, e caiu de joelhos no chão. Robert, mal conseguindo respirar, tentou dar outro soco e finalizar o oponente, mas Evan segurou sua mão dessa vez e acertou um soco que jogou Robert no chão novamente.
Em seguida Evan começou a pisotear o rosto de Robert ferozmente. O sangue escorria e espirrava mais a cada pisada da bota de couro desgastada, até que ele parou de se mexer.
— Não, p-por favor… — implorou Sara, enquanto ainda agonizava de dor pelas costelas quebradas do último chute que levou de Philip.
— Eu falei… para… ficar… calada! — Cada palavra de Philip veio com um chute na direção do peito e estômago.
Sara tossiu, não conseguia respirar. Sentia como se todo seu corpo estivesse quebrado. Philip então se deitou sobre ela e suas mãos nojentas começaram a apalpar seu corpo. A garota gemia de dor e nojo.
Desesperada, decidiu seguir o antigo conselho de sua mãe e fechar os olhos, não queria ver o que aconteceria com Robert, nem a si mesma. Apenas se preparou para a próxima dor que sabia que iria sentir.
Mas a dor não veio, e as mãos de Philip não estavam mais em seu corpo. Ao invés disso, algo bem mais pesado caiu sobre ela. A garota abriu os olhos no susto.
— Irmão, irmão! Lucio, fale comigo, Lucio! — Philip estava desesperado balançando o corpo do irmão, que estava caído, sem vida, em cima dela.
Já o resto dos guardas estavam olhando para outra coisa, ou mais precisamente, alguém, que ela reconheceu na hora.
Ainda havia esperança. Fechar os olhos não deixaria sua morte menos dolorosa. Ao contrário, devia os manter abertos para se aproveitar de qualquer oportunidade de sair viva dali.
Seja pela vontade dos deuses ou o acaso, lhe foi dada outra chance, e agora, cabia a ela fazer com que sua história terminasse diferente da de sua mãe.
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