Owarimonogatari 2nd Season – O final de um conto | Review

Owarimonogatari, em especial essa segunda parte, carrega uma sensação estranha para mim. Ele deveria ser o final de todos os problemas envolvendo a Second Season, mas acaba criando um sentimento nostálgico a respeito da primeira parte da série.

Seja pela fato da Hachikuji forçar uma reflexão em cima dos acontecimentos da Bake, e sobre as influências do Araragi em tudo aquilo, ou pelo encontro com a Senjougahara, que funciona como um recompensa para a construção daquele estranho namoro que foi formado no início de tudo, ou até mesmo pela forma como as coisas terminam, trazendo o Oshino de volta e explicando o que a Ougi era.

A história se organiza de uma forma que deixa complicado não pensar que foi um final extremamente bem feito e completo (por mais que tenha os spin-off depois). O trabalho do Nisio em deixar tudo explicado, até mesmo exagerando em alguns pontos, transforma esse final da série em algo memorável.

Mayoi Hell

Hajigoku Mayoi-chan!

O arco da Hachikuji te leva a pensar em tudo o que aconteceu na primeira fase, e em como o Araragi estava envolvido naquilo. Ela realmente faz um tour por cada uma das história indicando o ponto em que o Araragi se intrometeu, e se aquilo era necessário, ou não.

A Hachikuji aponta coisas como o encontro com a Kiss-Shot, o relacionamento da Senjougahara com o Kaiki, os problemas da Hanekawa. Até mesmo o fato dela ter sido salva, e terminando no inverno, são usados enquanto eles conversam sobre o que está acontecendo ali.

O que mais chama atenção, e o momento em que eles estão conversando sobre a diferença entre corrigir o errado, e fazer o certo. As explicações giram em torna de como as pessoas criam uma falsa sensação de dever quando corrigem o que está errado, mas isso, não necessariamente transforma tudo em certo.

O Araragi “salvou” várias garotas, e corrigiu inúmeras coisas durante a série, mas ele realmente fez o correto? É sobre isso que a Hachikuji tenta falar enquanto caminha com ele, pelo inferno, até chegar no Tadatsuru. Ela tenta explicar que, se ele realmente quer consertar algo, não pode continuar apenas corrigindo seus erros, ele precisa fazer o certo.

Corrigir um erro não o torna certo, só significa que deixou de ser errado.

Depois de um pouco de conversa, eles finalmente chegam até o Tadatsuru, e esse encontro serve para explicar os motivos do Araragi ter sido morto pela Gaen, além de acrescentar a forma como ele pode voltar para a Terra.

Sendo um pouco crítico, esse diálogo, ou melhor, essas justificativas são, em alguns pontos, um pouco estranha.

De fato, tudo ali se conecta perfeitamente bem, e é impossível dizer que o autor errou ao deixar algum ponto solto durante esses 17 volumes (ou sei lá quantas temporadas) que tiveram. Mas sendo fã do Nisio, eu diria que a forma como essas explicações foram encaixadas soa um pouco forçada, e diferente do que ele normalmente faz.

Usar o nome da Hachikuji é criar uma referência em cima da tradição de visitar 89 templos no Japão, tornando o passei deles pelo inferno, algo “poético e cultura”, deixando uma boa sensação e se torna uma jogada divertida.

Mas desconstruir um kanji daquela forma, mudando radicais, e acrescentando um erro de escrita (e olha que o anime nem adicionou o detalhe da leitura ter que ser inversa), faz parece uma desculpa para aproveitar o máximo possível tudo o que foi usado durante a série, o que, na minha opinião, não era tão necessário assim.

Sempre quis saber qual era o certo, mas nunca imaginei que era tão impossível de acertar.

As explicações dos planos  são terminadas, junto de um pouco mais da ambientação do que aconteceu ao templo no passado.  A questão da Kiss-Shot ter caído no lago, as mudanças de lugares, e os efeitos que o primeiro servo criou por ter ido para lá. Essas informações são necessárias para entender que não é só o Araragi quem tem problemas ali.

Ainda é preciso de um novo Deus para o lugar, para que assim, os problemas de aparição de Kaiis seja controlado e o equilíbrio seja recuperado.

Mesmo ouvindo esse claro spoiler sobre o que podia acontecer, o Araragi pega a Hachikuji enquanto e ressuscitado, e leva ela junto, ainda recebendo a informação de quem foi o mandante dos acontecimentos de Tsukimonogatari.

Os resultados desse rapto de loli, e o nome do culpado envolve algumas questões do terceiro arco, mas por enquanto, é melhor deixar de lado e seguir para o encontro da Gahara, para ficar cronologicamente bonitinho o texto.

Hitagi Rendezvous

Um encontro com  Hitagi.

Não quebrar a ordem da narrativa é importante para reforçar aspectos da construção do enredo. Não é simplesmente por capricho que o Nisio pula as cronologias como se fosse uma afronta ao nome do Araragi (Koyomi – calendário)… Se bem que… Eu não duvidaria que ele faça isso por puro capricho.

De qualquer forma, deixando de lado os resultados da volta da Hachikuji, temos o inicio do segundo arco que seria o encontro com a Senjougara.

Ele é mais simples e com cara de “fanservice” por ser completamente focado na relação dos dois, e no desenvolvimento do namoro. O humor ácido da Senjougahara sempre cria boas cenas, e só por ter ela um tempinho a mais em cena, as coisas já ficam bem legais (adoro ela).

O mais relevante para história, fica por conta da explicação sobre o mapa do espaço. O Nisio nunca desaproveita os diálogos (só em Nisi, porque, bem… É Nisi). Se os personagens estão conversando sobre aquilo, algum motivo tem, e essa conversa expressa exatamente a ideia.

Shaft sabe da spoiler, sem dar spoiler.

A Senjougahara deixa claro que a forma do mapa é um leque (Ougi). Essa informação pode passar batido caso você não tenha lido a novel, ou pego spoiler, mas deixa claro como o Nisio sempre usa os diálogo para levantar coisas importantes sobre a história, e não surgir com informações “do nada”.

O nome da Ougi ser citada como um objetivo (bem especifico, por sinal), e as nuances de que “estrelas são solitárias” deixa uma ideia importante, assim como o diálogo do Araragi durante o sonho.

Novamente questões como certo e errado, justiça e injustiça são usados (basicamente é o tema da novel), e você é meio que forçado a pensar sobre o que isso pode ter a ver com a história. Esse tipo de coisa é extremamente importante para entender tudo o que aconteceu, em especial, depois daquele final com a Ougi pedindo ajuda do Araragi.

 Dark Ougi

O momento de apagar todas as luzes e encerrar o show.

Depois do encontro com a Hitagi, o terceiro arco inicia a parte final da história. Temos mais explicações sobre a condição do templo e da cidade em relação os Kaiis. E o sequestro da Hachikuji se torna conveniente para Gaen, já que o Araragi não deixou a Shinobu ser a nova Deusa, e teve todo aquele  problema com a Nadeko.

Essa situação com a Hachikuji parece bonitinha por ela ter sido salva, mas como existência, as coisas não são tão certas assim. Isso vem de uma cadeia de desenvolvimento. Começando pelo Araragi tentando trazer justiça para ela, mas a colocando em uma situação de injustiça (punição pelos pecados no inferno), e logo depois, ele tentando consertar os erros, mas não fazendo a coisa certa.

Ser uma Deusa é uma promoção é tanto, como ela mesmo brinca, mas ainda é um peso grande para carregar. Ela poderia ter reencarnado depois de passar um tempo empilhando pedras na margem do rio, e começar uma vida nova, mas novamente, pelos caprichos do Araragi, voltou a Terra para passar o tempo ali no templo.

Kamikuji Mayoi-chan!

Mas… O que tudo isso tem a ver? Por que tantas afirmações em cima do fato de ser o certo ou errado? Por que tantas linhas tentando explicar as ligações com o passado? Por que acrescentar um arco “inútil” onde só um diálogo ou outro é aproveitável para história? Se você não se fez essas perguntas, por favor, faça-as agora para não estragar meu texto…

O Nisio é um gênio, um escritor ridiculamente bom quando se para para entender os textos dele. As coisas não funciona nas linhas da normalidade, mas são ótimas e espetaculares (fanboy falando, claro)

Owari se organiza em uma cronologia estranha, na verdade, toda Monogatari fé assim, porém, é isso que cria um texto/enredo completo quando colocados lado a lado. Ele expressa exatamente a ideia da frase da Ougi: “Eu não sei de nada, é você (nós) quem sabe”.

Os saltos no tempo, mostrando um um futuro completamente desconexo dos eventos atuais,  não foi apenas “porque sim”. Quando o Araragi revela quem é a pessoa chamada Ougi, da vontade de bater a cabeça contra o teclado, principalmente por lembrar que em Hana, enquanto aparecia pedalando uma bicicleta, da mesma forma que já vimos um certo protagonista fazer inúmeras vezes, a Ougi responde a Kanbaru com um claro: “Não, não, desde o início eu sempre fui um garoto”.

Esse tipo de detalhe obviamente não vai ser pego de primeira, mas eles existem durante a série para levar a satisfação desse raciocínio final que o encerramento cria.

Vamos resumir.

Primeiro: Mayoi Hell não é um passei para o Araragi lembrar do que aconteceu, ele é um arco dedicado para nós fazer lembrar de tudo o que passou na vida do Araragi. Cada história, o que ele fez, o que deixou de fazer.

A gente viu isso, nós sabemos o que aconteceu, e quando a “Hachikuji” força questões como o porquê de ter que ser o Araragi ali, e como muitas coisas seriam diferentes, tanto para ele, quando para as outras, ela está te propondo a algo, não explicando para o Araragi.

Esse arco te força a pensar sobre todos os erros que foram cometidos. Tudo o que os personagens viveram, todos os pontos de vista, o que eles pensavam, o que eles queriam. O que eles consideravam como certo, o que consideravam como errado, se aquilo foi, ou não bom.

A história funciona como um lembrete, mas também serve para te manter consciente de tudo. É como se  gritasse “você viu isso, então entenda e pense”. Existiram inúmeros erros, acertos, justiças, injustiças, egoísmo, altruísmo, e no centro de tudo, quase sempre tinha uma pessoa.

Araragi Koyomi.

Segundo: Hitagi Rendezvous não é um arco Gaharaservice, ele é um dos mais importantes para construir a metáfora final. Ele existe para contrapor tudo o que foi apresentando no arco da Hachikuji.

Se antes as coisas diziam claramente como as ações do Araragi foram questionáveis, o segundo arco faz o oposto. Ele mostra o relacionamento dos dois, iniciado por um monologo onde é mencionado as mudanças que teve na vida do Araragi.

Ele novamente grita: “você viu isso, então entenda e pense”. Existiram inúmero momentos ruins, mas também houveram momentos bons, tiveram situações desagradáveis, mas houveram situações feliz, não foi possível salvar a todos, mas não houveram pessoas perdidas, e no centro disso, quase sempre tinha uma única pessoa.

Araragi Koyomi

Terceiro: Dark Ougi não é o final da série, mas sim a solução do problema, o final da série são os três arcos juntos, e o ponto que ele expressa com isso. Em termos simples, é como se o Nisio te pegasse pela mão em Mayoi Hell e disse: “Olha aqui, está vendo a quantidade de desgraça que o Araragi passou? Você acha mesmo que uma pessoa aceitaria isso sem problemas? Você acha normal alguém envolver a vida de tantas pessoas, e nunca se perguntar se fez realmente o certo?”

Depois disso, ele afaga sua cabeça em Hitagi Rendezvous enquanto diz: “Mas veja, mesmo com tantas coisas complicadas, ainda podemos dizer que tudo deu certo, não? Pessoas terminaram felizes, e a desgraça foi sempre compartilhada. O Araragi tomou decisões egoístas, mas se doou para outra pessoa, então podemos chamar isso de final feliz, certo?”

E então, quando chega em Dark Ougi, ele sutilmente te da um tapa, como se quisesse dizer: “Claro que não, né? Não tem como alguém fazer tanta merda, e ainda ter um final feliz sem perder nada. Até parece que nunca acompanhou a série.”

Ele chega ao ponto de adicionar um diálogo onde a própria Ougi fala sobre exatamente isso, sobre como fazer o certo implica em trazer algo de errado junto.

Porque para ele existir, quase que obrigatoriamente, algo de errado tem que estar junto.

Owarimonogatari é justamente isso. Um ponto final para todo o raciocínio criado desde o inicio da série. “Ninguém pode salvar ninguém, só você salva a sim mesmo.”

O Araragi esteve salvado pessoas, e sendo salvo, mas isso não podia continuar. Ele tinha consciência sobre isso, e vivia se perguntando como as coisas podiam acontecer daquela forma. Era simplesmente errado ele interferir na vida dos outros, sem ter que pagar um preço, e foi assim que a Ougi surgiu, para corrigir/punir os erros, ou acertos, do Araragi.

Essa revelação, não somente é interessante por cobrir grande parte de tudo o que aconteceu durante a série, como também reforça uma das maiores filosofias do anime, como citei acima.

O Araragi finalmente se salvou, no sentido literal da palavra. O Oshino voltar com a solução foi apenas um caminho para chegar a algo. O responsável foi o Araragi, e foi ele quem enfrentou o problema, e decidiu se salvar no final.

Adaptarem o material em três episódios seguidos se mostrou uma decisão certa, por deixar ainda mais nítido o que o autor queria passar com a construção do volume. O conteúdo foi aproveitado de maneira que não te faz sentir que foi rushado, mesmo abrindo mão de um detalhe ou outro.

No final, Monogatari se encerra de uma maneira incrível, fechando os principais pontos da Second Season, além de desenvolver os ideais apresentando no inicio da série. A quantidade de informações paralelas seria grande demais para comentar em detalhes, mas a situação da Shinobu foi a que mais me chamou atenção, talvez pelas memórias frescas do filme.

Depois de tudo aquilo, ela decidiu voltar para o lado do Araragi, não por um capricho dele, mas por vontade própria. Os questionamentos da Hachikuji ainda ficam no ar, se daria para dizer, ou não,  que todos tiveram um final feliz, mas é isso que transforma a série tão incrível.

Monogataris (histórias/contos) são isso. Elas não tem forma, não tem tamanho, e são passadas de acordo com a vontade do narrador, e no final, somos nós, leitores, quem decidimos o que aquele conteúdo tem a dizer.

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E você, que nota daria aos episódios?

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Extras

Sempre tem alguém assim… Que te força a esconder a felicidade por ter tirado 5…

Araragi morreu, foi para o inferno fazer um tour, raptou uma loli enquanto voltava e ainda foi fazer vestibular! Qual sua desculpa para atrasar para o ENEM?

Essa capacidade de fazer a gente rir em momentos dramáticos e outra coisa digna de nota.

Detalhe para recuperação da Nadeko, e para o “Koyomi-san”.

Melhor Tsundere S2

Foi bem legal ver ela se preocupando com coisas como o Araragi não poder tirar carteira de motorista devido o vampirismo que tinha na época. É o tipo de detalhe que só a Senjogahara pensaria.

Esse tipo de coisa doí quando você lembra os porquês…

Rapkuji Mayoi-chan!

Como fazer um boa entrada depois de anos.

Eu vivi para ver a Senjougahara corando!

Senjougaraha…

… Nunca é demais.

Trívia aleatória

A ending do primeiro episódio (Mayoi Hell/ Hitagi Rendezvous) é uma música da ClariS, mas ela foi batiza de TV size 89 sec, por durar exatamente 89 segundos (meio óbvio, não?). Para quem não se lembra, Hachikuji é escrito com os kanijs de 8, 9 e templo.

Não dá para se levar ao pé da letra quando traduzido, mas daria para trocar o Kanji de templo, para o de tempo (fazendo referência ao sec), já que ambos tem a leitura de “ji”, o que transformaria o título em “Hachikuji”. A Shaft gosta de fazer esse tipo de brincadeira boba, então…

Marcelo Almeida

Fascinado nessa coisa peculiar conhecida como cultura japonesa, o que por consequência acabou me fazendo criar um vicio em escrever. Adoro anime, mangás e ler/jogar quase tudo.