As Crônicas de Arian – Capítulo 21 – O começo
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Capítulo 21 – O começo
Arian estava na saída da cidade, como combinado com Joanne, para a missão de escolta.
— Nya, você vai com Adikitus, ele vai te levar para Distany em segurança. É um dos membros da minha antiga guild, é grande e luta bem, vai servir como um ótimo guarda costas. Os outros, bem… não sei. Daqui a 1 semana devem se encontrar com um dos guardiões de Distany, e aí sua escolta pelo trecho mais perigoso vai estar totalmente segura.
Ao seu redor, estava um grupo de seis pessoas armadas olhando feio para Arian. Cada um deles ganhara 10 moedas de ouro, pagos por Distany, para escoltar a garota.
— Muito bem… Espero encontrá-la de novo, e menos dramática da próxima vez. Quando escutar as histórias das garotas por lá, vai ver que deu sorte.
A garota estava olhando para Arian, mas não falou nada, estava nervosa demais com todo aquele pessoal a volta dela.
— Você faz o mesmo discurso para todas. Parece maduro quando você fala, mas sua cara de bebê com essa frase decorada não funciona.
Marko estava rindo enquanto chegava pelas costas de Arian.
— Maldição… o que está fazendo aqui? – perguntou, enquanto observava Marko vindo a cavalo em sua direção, do portão norte da cidade.
— Ah, não te falei? Fui chamado para a mesma missão que você. Vinte moedas de ouro não é algo que se recusa assim, ainda mais alguém falido como eu.
— Digo o mesmo. Quer dizer, menos a parte do falido.
— Kadia?
A garota estava vindo logo atrás de Marko, montada em um belo cavalo negro.
— Não vai se livrar de mim enquanto não pagar o que me deve — falou ela, sorrindo para Arian.
Arian fez uma cara de dúvida. Que pagamento era esse? Não lembrava de terem combinado nada em específico.
— Parece que chamaram todos os participantes de nível mais alto do torneio para a missão.
Outra voz que Arian reconhecia. Dorian estava chegando a cavalo logo atrás de Kadia. Parece que ele, Marko e a garota vieram juntos, ou então se encontraram no caminho para a saída da cidade.
— Na verdade só quatro, era o máximo que nossos recursos permitiam. – Joanne surgiu por trás deles guiando uma carruagem puxada por quatro cavalos brancos.
— Todos aqui já estiveram em guilds, ou no exército, então não preciso explicar muito — disse Joanne, parando ao lado deles.
— Temos uma carga preciosa, e Lara a está carregando, então deem prioridade à proteção dela. Nosso destino é Sunkeep, na fronteira. — Apontou para Lara, dentro da carruagem, que estava com uma cara meio infeliz.
— Por que eu não posso ir a cavalo? — perguntou Lara, de extremo mal humor, com os olhos disfarçadamente fixados em Arian.
— Ela reclama muito, se acostumem. — Joanne a ignorou.
— Essa ao lado de Lara é Irene. Do outro lado Jon, o rato de livros, e Zek, que não fala muito, mas é em quem mais confio nesse grupo.
A carruagem tinha espaço para seis pessoas, três em cada poltrona. Lara estava dividindo seu lado com uma garota de uns vinte anos, de cabelo castanho e olhos acinzentados, usando um rabo de cavalo, e com um arco e flecha a seu lado. Era Irene, que Joanne apontou. Na outra poltrona, Jon, um garoto novo, de uns 15 a 17 anos, os cumprimentou com a cabeça, e depois voltou a ler um livro enorme que estava segurando. Ao lado dele, uma mulher de olhos verdes e cabelo preto, bem curto, estilo militar, e usando uma armadura completa, olhava para o grupo do lado de fora de forma inexpressiva.
— Provavelmente seremos emboscados mais de uma vez até chegar no destino. Vamos por estradas paralelas, a principal é muito visada. O resto eu informo no caminho.
— O que exatamente vocês estão carregando? — perguntou Kadia.
— Não posso dar detalhes, mas imagine como uma relíquia muito valiosa para algumas pessoas do norte.
Kadia não parecia muito feliz com a resposta vaga.
— Alguma outra pergunta?
— Lara me prometeu informações, posso conversar com ela durante a viagem? — perguntou Arian.
— Não, quero vocês atentos, conversem quando pararmos em uma cidade segura — disse com um olhar sádico na direção de Lara, que parecia ainda mais emburrada depois da resposta.
Arian montou em seu cavalo, meio insatisfeito com a resposta de Joanne. A chance de saber sobre seu passado estava à sua frente, mas só podia aguardar.
Kadia e Arian estavam seguindo a cavalo a frente da carruagem, enquanto Dorian e Marko ficaram uns metros atrás dela.
— Ei, Arian, ela não proibiu a escolta de conversar. Vamos falar do meu pagamento… — Kadia aproximou seu cavalo de Arian e começou a explicar como lia mentes.
Enquanto ela falava, Arian olhou para trás e notou Lara, com a cabeça para fora da janela da carruagem, com uma cara de quem queria arrancar a garganta de Kadia com os olhos. Na verdade não era só ela, <E> estava sentada à sua frente no cavalo, com um olhar gélido encarando a demônio. “Mulheres são assustadoras”, pensou ele.
Mais atrás, na carruagem onde Lara estava, Joanne discutia com o grupo, enquanto guiava a carruagem.
— A garota de preto veio porque está interessada no guardião dos orelhudos, o grandalhão é amigo do guardião, e o guardião veio porque a Lara tem informações que ele quer, ou porque está interessado nela…
Lara deu um leve sorriso com a observação, enquanto Joanne olhava para Kadia e Arian, pensativa.
— Não se preocupe Lara, ele vai perder o interesse em você assim que revelar sua personalidade horrível – falou ela, dando uma olhada para dentro da carruagem.
Jon começou a segurar o riso, enquanto Lara olhava furiosa para ele.
— Se ele tivesse bom gosto teria vindo por mim, sou uma opção muito melhor — falou Joanne, de forma tão confiante que ficou difícil saber se era sério ou uma piada.
Agora era Jon que estava emburrado e Lara segurando o riso. Irene estava rindo dos dois, e Zek continuava inexpressiva, observando a situação.
— De qualquer forma, é aquele Mago que me preocupa no momento. Não faço ideia do porquê se ofereceu. Não parece particularmente interessado em ninguém do grupo, e podia fazer mais dinheiro do que estamos lhe pagando com as habilidades que demonstrou no torneio. Eu o aceitei porque prefiro inimigos por perto do que nos espreitando, mas fiquem de olho nele.
Jon, Irene e Zek se fixaram em Dorian por um momento, como se quisessem ler sua mente. Lara, no entanto, continuava com sua atenção fixada em Kadia e Arian.
— Pelo que entendi através do seu amigo, não lembra do seu passado a partir de certa data, ou mesmo sua raça – perguntou Kadia de forma inocente, fingindo ter indagado Marko sobre isso. O que nunca fez.
— Desde que acordei com uma família, cinco anos atrás — falou Arian pensativo.
— Acho que posso te ajudar.
Arian ficou rapidamente interessado.
— Pode acessar essas memórias?
— Não sei, sua mente é muito difícil de ler. Mas posso tentar.
— Por mim tudo bem.
Kadia tocou no ombro dele.
— Relaxe sua mente, preciso tocá-lo ou não consigo ler mais que pensamentos superficiais. Tente pensar no que lembra de mais antigo.
— <E>, dá um tempo, ela tá querendo me ajudar.
A fantasma estava tentando, inutilmente, tirar a mão de Kadia do ombro de Arian.
— O que é isso? — disse Kadia, fingindo espanto. Já tinha noção de que ele podia ver fantasmas, apesar do espírito que o seguia ser uma criança tê-la surpreendido.
— Consegue vê-la?
— Quando toco em você consigo acessar o que está vendo…
— Que ótimo, ao menos tem alguém para atestar que não sou maluco.
— O que é ela?
— Um fantasma, está comigo desde que acordei sem minhas memórias.
Kadia continuou encarando <E>, intrigada, enquanto a garota tentava de todo jeito retirar a mão dela do ombro de Arian.
— Relaxe e volte a sua lembrança mais antiga, vou usar isso de guia.
Kadia sorriu de satisfação. Finalmente teria seu pagamento: as memórias da vida de alguém eram muito mais interessantes para ela do que mero ouro, e no caso de Arian, do qual era difícil tirar algo, valia ainda mais. Era hora de desvendar esse enigma, e quem sabe, descobrir algo sobre aquela magia estranha que ele usou na luta final na arena.
Arian obedeceu, e sua mente lentamente voltou a sua memória mais antiga, cinco anos atrás.
Próximo: Capítulo 22 – O Homem sem passado – Parte 1
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