[Review] Koiken Otome – Um romance focado nos personagens, não na história
Sinopse:
No passado, a Terra foi invadida por criaturas desconhecidas chamadas de “Kotona” que buscavam por comida. A princípio a humanidade não pôde fazer nada contra eles. Mas anos depois, surgiram pessoas com super-poderes, os “Douryoku”, que conseguiram exterminar os Kotonas, trazendo paz para o mundo novamente.
A história começa muitas gerações depois, em uma das escolas de elite focadas em treinar usuários de Douryoku. O protagonista, Seiichi, possui o maior rank de poder da escola, mas não consegue manifestar o mesmo. Lá ele conhece Akane, uma esforçada garota que é da família de um dos heróis que derrotaram os Kotonas no passado, mas seu nível é apenas um pouco acima da média. Mesmo sendo incapaz, ele decide ajudá-la, e a trama dos dois começa.
Desenvolvedora: Eufonie
Ano de Lançamento: 2012
Duração: 10 a 30 horas
Traduzido: Sim (Inglês)
Lançado em uma época onde escolas de magia ainda não eram odiadas, Koiken Otome foi uma grande surpresa para mim, se tornando uma das minhas VNs favoritas. Mas é uma obra que depende muito das suas expectativas para funcionar, isso é importante ressaltar logo de cara por um determinado motivo que direi mais a frente. A maioria reclama pois vai atrás da obra esperando algo muito focado em ação ou com uma história mais pesada (Me pergunto se estavam prestando atenção na VN para esperarem isso…).
A novel não é nem focada em ação, nem em história, mas sim nos personagens e seus conflitos, dilemas e relações. Claro, isso significa que se você não gostar dos personagens, vai praticamente impossibilitar uma experiência positiva com o jogo.
Isso também não significa que a obra abdicou dos aspectos anteriormente mencionados. Apenas de não ser o foco, nem o propósito da mesma. Em todo caso, digo isso para terem em mente o que esperar, pois se buscam outras coisas talvez não seja a melhor opção.
A história é a parte mais fraca da obra no geral. Quase toda a história da novel gira em torno da jornada dos personagens com seus desafios e objetivos, o que depende da rota que você escolher. Isso significa que a história gira em torno somente dos personagens e não algo em uma escala maior.
Por isso eu considero a parte mais fraca, pois embora tenha bons momentos na história, o que a carrega realmente é a personalidade de cada um. Logo, quase todo o mérito é deles.
Para ter uma dimensão melhor do que quero dizer, o objetivo central da história termina na Common Route (Parte do jogo que vem antes das rotas das heroínas), a partir daí, as rotas são apenas focadas nos personagens mesmo.
Como toda história que se preze, tem vários clichês também. Alguns até me incomodaram um pouco, mas nada que prejudicasse tanto a experiência. Normalmente minhas maiores queixas acabam ficando sobre algumas atitudes questionáveis dos personagens e/ou do roteiro em si.
Um aspecto que talvez funcione com vocês é a comédia. Em muitos casos a VN consegue ser bem divertida e usar a comédia bem, caso funcione com você será um extra no seu aproveitamento.
Falando neles, os personagens são todos interessantes, para dizer o mínimo (Embora o protagonista possa ser 50/50 em muitos casos). Todos os principais passam por seus próprios problemas pessoais, e embora exista uma variedade muito grande de dilemas que cada um tem, acredito que seja possível englobar tudo em uma única palavra que explica a primeira frase dessa review: Expectativa.
A heroína principal vem de uma família renomada, mas seu rank quase não foi o suficiente para ela conseguir entrar em sua turma, onde os de rank mais alto ficam. O protagonista apesar de possuir o rank mais alto, não pode usar poder algum. É colocada uma pressão sobre eles, afinal estão sujeitos a falhar e serem rejeitados por quem tinha altas perspectivas. Não por maldade, como muitas histórias gostam de colocar, o que acho bem legal.
Graças a essa pressão, e os objetivos de cada um, os protagonistas são forçados a fazer o possível para alcançar suas metas. Por causa disso, acredito que passei mais tempo lendo eles treinando do que nas lutas em si. Isso pode ser decepcionante para alguns, pois em momentos onde deveriam ter lutas “não importantes”, a VN simplesmente pula elas, contando os resultados após. Apenas as lutas importantes são mostradas.
Se servir de consolo, as poucas lutas que tem conseguem entregar cenas impactantes.
Se você é do tipo que gosta de um protagonista mais forte, ou mesmo muito forte, talvez até seja um pouco frustrante acompanhar a trajetória do Seiichi. Sendo tipicamente rotulado como “o mais inútil”, porém diferente de outros, realmente não poder usar nenhum poder e acaba realmente tendo que dar o sangue para conseguir ajudar em algo.
A VN consegue trabalhar muito bem a situação do protagonista com uma personalidade decente, sem precisar faze-lo chorar em posição fetal no canto do quarto. E as heroínas também não ficam para trás. Não dá para me aprofundar muito em cada uma delas aqui, mas garanto que apesar de algumas terem características relativamente estereotipadas, quase todas elas tem um ótimo desenvolvimento.
Tendo o foco nos personagens, inevitavelmente um dos pontos fortes da VN é o romance. Este que só brilha realmente quando você está em uma das rotas. Ao longo das escolhas e da história em si você consegue ver um relacionamento bem desenvolvido até chegar na fase de rotas e aquilo florescer de vez.
As rotas são divididas entre o romance (+ cenas de sexo, que tem bastante) e o conflito. O romance pode variar bastante dependendo se você gosta da heroína ou não, mas os conflitos das rotas foram todos não só bem feitos, mas algumas vezes até surpreendendo com plot twists ou desenvolvimento de personagens que você não esperava.
Fica ainda melhor, já que alguns dos finais entre as quatro rotas possíveis são bem bonitos ou mesmo levemente emocionantes.
A arte da VN é muito bonita, muito bem detalhada e trabalhada. É chamativo, pois não é só durante as CGs, como também nos retratos dos personagens no jogo que conseguem aumentar bastante a imersão em cenas que nem CGs usam. Mesmo os cenários modernos são bem bonitos e detalhados.
O único problema é que algumas CGs possuem algumas inconsistências ou mesmo erros. Bom, isso e o fato da arte ser um pouco puxada para o moe em algumas partes, o que pode incomodar alguns.
A trilha sonora é ótima também, algumas músicas eu ainda escuto até hoje. No entanto, o número limitado de trilhas para cada tipo de situação pode tornar elas um pouco repetitivas em algumas partes.
A novel tem várias escolhas, e embora algumas delas não leve a nada no geral, ainda é ótimo para ver diferentes reações de certas cenas. Além disso, a parte do sistema da obra é um dos mais bem feitos que vi até então, o que auxilia em fazer toda a parte estética do jogo ser muito atrativa.
Não existe uma ordem recomendada de rotas, façam do jeito que quiserem. As que eu mais gostei foram, na ordem: Rota da Touko>Rota da Yves>Rota da Akane>Rota da Yuzu.
Koiken Otome é uma obra que te oferece diferentes experiências dependendo do que você espera. Possui uma história bem fraca, e peca um pouco na hora de entregar a ação, mas que faz o melhor para explorar temas como expectativa, superação e auto sacrifício, usando muito bem seus personagens. Além de ser ótima esteticamente falando.
Caso tente jogar e deteste os personagens, é melhor nem seguir adiante pois é apenas neles que o foco permanece até o fim.
A fim de curiosidade, existe uma “continuação” chamada Koiken Otome ~Revive~, onde trabalha melhor a história, desenvolve vários personagens secundários e ainda leva além os finais das quatro rotas da primeira VN. Ela ainda não está traduzida, mas está em progresso, é altamente recomendado jogá-la para entender a fundo alguns aspectos que ficaram para trás na prequel, tal como revelações e explicações muito importantes que pode, ou não, melhorar sua visão sobre a obra como um todo.
Avaliação:
Roteiro: 5.5/10
Personagens: 7.5/10 (Touko é 15/10, no entanto)
Trilha Sonora: 8/10
Arte: 9/10
Gameplay: 9/10
Entretenimento: 9/10
Nota Final: 8/10