Household Affairs – A obra imprevisível onde o marido corno é um Assassino Badass! | Review

 

Esse mangá foi uma das coisas mais estranhas que já li, e me deixou pensando por algum tempo, depois que terminei (já foi finalizado). Como eu avalio ele? Quais seus prós e contras?

Quem julgar pelos primeiros capítulos, pode pensar que vai ler uma história “divertida” ou sexy de traição, com alguns momentos mais tensos aqui e ali, mas sem reais consequências. A realidade, porém, é o completo inverso disso. “Não é o que parece”, é como classificaria essa obra. Que não era uma comédia romântica, e muito menos um drama. A única coisa que era o que parecia ali é o fato de ter bastante cena de sexo na obra.

A história começa com um entregador de frango frito chegando a um apartamento, onde encontra uma mulher bêbada e vestida de forma muito sexy. Ela o agarra e convence rapidamente a mandar ver com ela. Logo que termina, ela o manda sair dali o mais rápido possível, porque o marido deve estar chegando. Parece comum até aí, não? O diferencial vem depois disso. Estamos acostumados a ver obras de traição onde o marido corno é um banana. Nessa aqui, porém, ele é um assassino profissional nível “Identidade Born”, ou Tom Cruise em Missão Impossível.

Dai a tensão inicial da obra, o marido descobrir que a mulher o está traindo (depois da primeira vez, ela e o entregador, que se apaixonou por ela, não param mais). Ela não sabe no que o marido trabalha, mas o público, ciente do que ele faz fora dali (mostram um pouco), fica tenso imaginando quando ele vai pegar a mulher e o entregador de frango frito (em alguns casos, se pegando em locais muito próximos a onde ele se encontra).

A parte interessante, é que o marido não trata a mulher mal, mas é extremamente frio com ela, quase a ignorando a maior parte do tempo (isso é justificado mais a frente, quando começam a desenvolvê-lo). Com isso, nós, o público, acabamos consentindo a traição dela, desesperada por um pouco de atenção, e alguém que atenda seus desejos carnais (que ela tem aos montes!).

O design dos personagens é bonito, tanto de homens como mulheres. Mas a protagonista tem um diferencial: em vez da mulher de corpo sequinho e perfeito, ela é atraente, mas “gordinha”, ou com “carne sobrando”, se preferirem. Uma escolha interessante, já que na maioria dos casos a mulher central é magrinha.

Ao longo do tempo o foco no marido assassino vai aumentando, além de mostrar mais da assassina parceira dele nas missões, que é completamente apaixonada pelo mesmo, a um nível “yandere”. Eu admito que ela me divertiu bastante com suas loucuras, me lembrando muito a Yuno, de Mirai Nikki, só que ao menos ela gosta de um cara que justifica sua paixão.

Existe uma trama complexa por trás da empresa para qual o marido assassino da protagonista trabalha, e com o tempo ela vai sendo desenvolvida, até virar o centro do plot, no arco final.

Já a mulher do cara… ela é desconstruída, e por isso eu não esperava de jeito nenhum.  Ela sai de alguém inocente que cometeu adultério e se sentia culpada, para uma verdadeira safada que ganha confiança quanto a seu charme e habilidades durante o sexo. Inclusive, mesmo quando começa a se dar bem de novo com o marido, pela qual mostra ser apaixonada de verdade, continua o traindo, geralmente com algum interesse (exemplo: fazer o amante espionar o marido dela, que ela acha que está traindo ela com a parceira dele… a yandere que falei).

A ironia é que ela está traindo ele para tentar descobrir se ele está traindo ela.. Sim, a mulher inocente do começo vai se transformando em uma hipócrita manipuladora.

Mas Marco, então quem eu vou gostar nessa obra? Bem, o foco começa a se dividir bastante para o marido badass da mulher do 1/3 da obra para a frente. E mesmo sendo um personagem frio, você começa a simpatizar com ele depois que conhece melhor sua história. A yandere tem seus momentos também, e a mulher dele não chega a ficar totalmente odiável, só vira algo que você não previu. A cena dela com o assassino pode perturbar alguns, mas como você pode julgá-la? Se ela não tivesse feito aquilo e manipulado ele, não teria conseguido ganhar tempo.

O final tem cenas bem pesadas também, seja de gore a outros aspectos. Então, para mim, que não gosto disso, foi meio desafiador de ler. Mas tenho a tendência de querer me desafiar com quase tudo que me incomoda. É meio que uma birra pessoal, “maldita mente fraca, vou te bombardear com o que você não gosta até se acostumar” (claro que tudo tem limite, Yaoi está fora de cogitação, por exemplo, e nunca passo a apreciar o que detesto, só fica mais tolerável com o tempo). Até porque existia um plot interessante ganhando foco, que eu queria saber como iria terminar.

E bom, o final eu gostei bastante. Me surpreendeu por não ir por um caminho clichê, ao mesmo tempo que não optou pelo “bad end” com todo mundo morrendo, como pareceu que iria acontecer em determinado ponto.

No fim das contas, não é uma obra que recomendaria para qualquer pessoa. Mas quem quer algo realmente diferente, e uma obra que consiga atrelar um plot denso com mais cenas de sexo do que vai conseguir contar, essa obra é de longe a mais interessante do gênero. Tem muitas dessas coreanas com bastante sexo e um plot por trás, mas essa foi de longe a que mais conseguiu me prender a narrativa, bem mais imprevisível do que eu esperava. Só do autor ter a coragem de desconstruir completamente sua protagonista durante a história, já foi um senhor diferencial.

É curioso como depois de tanta coisa pesada no final, a obra ainda consiga ter uma conclusão que me deixou com um sorriso na cara. Não é perfeita, e com certeza algumas cenas de ação, ou algumas pessoas aguentando mais coisas que Bruce Willis em duro de matar, podem apitar sua suspensão de descrença, mas como um todo, foi a história mais interessante que eu já li desse gênero.

Onde ler: Gekkou Scans

PS: Para quem não aguenta coisas pesadas, mas quer algo dentro desse gênero de mangá coreano para maiores, já fiz review de Perfect Half (Ação, Romance) e Swet Guy (Romance, Comédia), que são bem mais leves, mas bem mais clichês também.